“Bendito o que semeia livros,
livros à mão cheia,
e faz o povo pensar.
O livro caindo na alma é
germe que faz a palma;
é a chuva que faz o mar”.
(Castro Alves)
Com uma dessas atividades, das quais ganha quem a cultiva, tive a oportunidade de me encontrar logo nos primeiros tempos de estudos do seminário. Tive a sorte, ou mais, tive a graça de encontrar professores que incentivavam a amizade com os livros.
Com esses me dei bem, fato que continua até hoje. Quanto à escolha de escrever este texto sobre leitura e livros, ela me veio, fortuitamente, ao ler dias atrás, nas páginas de um grande jornal paulista, a matéria intitulada: “O prazer de ler”.
Um livro foi capaz de mudar a trajetória de Robson Mendonça, ex-morador de rua e criador do projeto Bicicloteca. Ao ler A revolução dos bichos, de George Orwell, ele teve a ideia de começar sua pequena revolução. Hoje, leva uma biblioteca em forma de triciclo, a Bicicloteca, às ruas de São Paulo. Com isso, oferece obras a quem tem pouco acesso a elas.
Imediatamente me entusiasmei e pensei em iniciar campanha pró-leitura, a qual, garanto, trata-se de ato prazeroso em meio ao tempo disponível que possa nos visitar, por mais ocupados que sejamos.
Tenho como bendito quem a descobre e a escolhe como companheira pela vida. Também não foi por acaso que, ao descobrir na leitura de Castro Alves o grande poema “O navio negreiro”, quando estava na quarta série do ginásio, fiz questão de decorar o imenso poema. E o recitei na sessão da retórica que tínhamos no seminário. Eu me lembro que falei com toda a força o protesto do poeta contra a escravidão, numa das 54 estrofes de sua valiosa obra. Ele dizia: “Senhor Deus dos desgraçados, dizei-me vós, Senhor Deus, se é mentira ou se é verdade tanto horror perante os céus”! Paixão pela leitura à parte, entendo que essa não é a escolha de muita gente.
Afinal, gostar de ler exige uma série de situações pelas quais é preciso passar: a primeira é a descoberta do valor da leitura; a segunda é a curiosidade pelas novidades que os livros trazem; a terceira é ter livros ou impressos ao alcance das mãos. Tais fatores aparecem, principalmente, quando as bibliotecas estão por perto e são facilmente visitáveis, fornecendo livros emprestados.
Certamente muitas pessoas não leem quase nada porque não são incentivadas ou não cresceram cercadas de livros. Se posso dar uma sugestão, sugiro que faça dos tantos presentes que tem de dar, a oferta de livros. Estará praticando o que propõe Castro Alves que diz: “Bendito o que semeia livros, livros à mão cheia, e faz o povo pensar. O livro caindo na alma é germe que faz a palma; é a chuva que faz o mar”.
Conheça a Revista de Aparecida
Fonte: Originalmente publicado na Revista impressa “A revista de Aparecida” Ano 17, n. 200, Nov. 2018)
Autor: Padre César Moreira
Afinal, gostar de ler exige uma série de situações pelas quais é preciso passar: a primeira é a descoberta do valor da leitura; a segunda é a curiosidade pelas novidades que os livros trazem