As verdades são nossa zona de conforto
e nossa cela intelectual.
Construímos nossa própria
prisão intelectual.
Julgamo-nos livres para pensar, mas não somos livres para expressar nosso pensamento. O patrulhamento de uns para com os outros nos aprisiona, na medida em que, por vezes, decidimos só ouvir, por que, desanimados, desistimos de argumentar. Mas essa constatação revela também uma prisão.
A superinformação que nos assola não permite que tenhamos tempo de processar o que ficamos sabendo. O resultado é, por comodismo ou por incapacidade de discernimento, nos agarrarmos a verdades cristalizadas. As verdades são nossa zona de conforto e nossa cela intelectual. Deixamos de pensar, para permanecermos aprisionados ao que nos tranquiliza: as verdades.
O maniqueísmo cria expressões duras, estanques, sem reflexão. Visa tolher o contraditório, com a intenção de reafirmar verdades construídas ao longo da vida. São muitos os elementos que alimentam as verdades.
A família, a religião, o partido, o herói, a facção, a turma, a ideologia, fazem-nos reféns do consagrado e tudo o que não é espelho do que conhecemos é agressivo e ameaçador.
É difícil sair da prisão intelectual, por que, expressar ideias requer disposição para considerar o que as confronta, exige pensar novas possibilidades e procurar mais formas de informação e, principalmente, tempo para a reflexão. A inteligência alimenta-se da capacidade de duvidar do que vem pronto, do que é estanque.
Mas só dúvida é insuportável. Alguém sem opinião, sem posicionamento frente a fatos concretos, revela falta de discernimento. Isso não quer dizer que, frente ao novo, frente ao dinamismo da vida, não possa mudar de opinião. A mudança é o pressuposto dos que se reconhecem falíveis, incompletos, em processo de amadurecimento.
“Eu acho” é uma expressão de que não gostamos, mas é a mais apropriada para quem sabe que a verdade é mutável e não propriedade. O livre pensar é sinônimo de liberdade. O livre pensador não usa expressões óbvias. Ele rejeita rótulos.
O livre pensador sabe-se um animal político e não afasta a possibilidade de se fazer política em todas as dimensões da convivência humana. O livre pensador deseja que todas as pessoas usem das suas faculdades intelectuais e psicológicas, para pensar por si, para que o diálogo seja instigante, aberto, característico dos que procuram a dinâmica do que é novo, do que é semente pronta a explodir.
A arte é capaz de refletir o pensamento livre, na medida em que não teme a ousadia, a criação, o aproveitamento fecundo do que antecede e o que precede a verdade. Ela apropria-se do que existe, mostrando nuances inusitadas e invisíveis ao que é comum. A arte mexe com as entranhas do maniqueísmo, por que ousa mostrar a complexidade do mundo como o conhecemos e como o imaginamos. Cada ser é um mistério! As certezas manietam, tolhem, aprisionam.
Portanto, pensar é reconhecer no outro uma riqueza invisível e auscultar esse invisível. É garimpar o que cada um tem com o intuito de enriquecer-se. Pensar é não renunciar à liberdade por medo de mudar ou de comprometer-se.
A liberdade inquieta! Ser livre é sair de si e viver no imponderável. Sair da prisão do pensamento pronto é obrigatório nos tempos bicudos em que estamos vivendo, sob pena de virarmos a Geni de Chico Buarque. “Joga pedra na Geni! Joga pedra na Geni! Ela é boa pra apanhar! Ela é boa pra cuspir! Ela dá pra qualquer um! Maldita Geni
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