Respeitar os filhos, dar-lhes amor, carinho e proteção,
permitir que participem efetivamente da vida da família
é tão importante quanto ensiná-los a ter autonomia e
responsabilidade com o que é seu e com o que é do outro.

 

Vivemos períodos de nossa história em que muitos seres humanos, de diferentes idades, não possuíam direitos. Homens sem posses, negros, índios, mulheres e crianças, por exemplo, não tinham direito de frequentar escolas, participar da vida política, de votar, etc.

Vagarosamente os tempos foram mudando e alguns direitos foram assegurados a essas e a outras pessoas. Quero aqui falar um pouco sobre direitos e deveres das crianças e adolescentes e direitos e deveres dos pais.

No decorrer do século XX foi se percebendo as modificações, tanto no campo da educação, como no campo das relações humanas, onde “respeito” à criança e ao adolescente começou a ser visto com outros olhos.

Muitas vezes ouvi e acredito, que você leitor também ouviu a frase, “criança e cachorro não tem querer”. Pois bem, com o passar do tempo essa fala foi sendo deixada de lado, pois se não em todos os lares, em muitos se começou a entender que criança tinha sim querer, assim como os adolescentes e adultos também têm.

O fato de se reconhecer que crianças têm direitos, entre eles à educação, carinho, lazer e “querer”, fez com que as relações entre pais e filhos melhorassem muito, que os pais fossem menos autoritários e que os filhos pudessem participar mais da vida em família e até ajudar a tomar decisões. Em síntese, a relação entre pais e filhos se tornou mais democrática.

Teoricamente esse “jeito novo” de educar seria perfeito, mas na realidade não é bem assim. O que temos visto nesse início do século XXI é preocupante, para não dizer assustador. Se por um lado o jeito novo de educar mostrou um avanço nas relações, por outro, trouxe alguns problemas. O que se vê hoje em muitas famílias é a grande dificuldade dos pais em dizer não para os filhos, é como se eles tivessem abdicado do direito de contrariar a vontade deles.

Sobre a influência dos pais nas decisões dos filhos.

Parece-me que houve uma grande distorção no termo democracia. Respeitar a criança e o adolescente não significa em hipótese alguma omitir o “não”. Dizer não, na hora certa, pode ser sinônimo de cuidado e proteção.

É preciso que nós pais entendamos que em determinadas situações os adultos possuem mais condições de discernir o que é certo do que é errado, o que é compatível com a idade do seu filho e o que não é o que pode lhe oferecer perigo ou não. Amar significa cuidar, proteger e para proteger muitas vezes o “não” se faz necessário.

Aristóteles já dizia: “A justiça está no meio termo”!

Fica claro para mim que o resultado de se passar de um extremo onde a criança não tinha querer para o outro extremo, onde criança tudo pode, resultou em uma geração bastante difícil de lidar, que enfrenta muitos problemas e causa outros tantos.

Essa geração que tudo pode, exceto ouvir não, são os filhos que frequentam nossas escolas e que, por vezes, torna o ambiente escolar um lugar difícil de conviver.

Nas escolas nos deparamos com crianças, adolescentes e jovens que têm extrema dificuldade de conviver com regras comuns, as chamadas normas de convivência, de respeitar seus professores, de aceitar as diferenças nos colegas e, sobretudo, de reconhecer autoridade e respeitar a hierarquia da escola.

Tão intrigante quanto a geração de “filhos” é a geração de “pais” que educam esses jovens que diariamente circulam na escola. Angustio-me quando me deparo com pais e, principalmente, mães que ao procurarem pelo serviço de coordenação pedagógica ou ao serem procurados pela escola relatam:

Não sei mais o que fazer professora, ela não me obedece”.

“Professora ele sai e volta à hora que resolve voltar e ainda fica furioso se pergunto onde e com quem estava”.

“Quando meu filho descobriu que a senhora havia me chamado na escola ele me trancou em casa e tive que ligar para minha filha vir do trabalho para abrir a porta.”

“Professora eu queria que você visse as marcas roxas nas pernas e braços onde ele me bateu”.

“Por favor, diga a professora do meu filho que não quero mais que ela escreva no caderno do meu filho que ele não fez as tarefas, pois ele não gosta. Gostaria que ela me chamasse e dissesse para mim.”

“Vou chegar atrasada tem como ficar com meu filho até eu chegar”.

“Não posso ir até a escola, pois trabalho”.

Todos esses relatos mostram uma geração de pais que tem grande dificuldade de educar dentro dos padrões da democracia. Pais que não sabem a hora de dizer sim e de dizer não, pais que para compensar a falta de tempo, de afeto e de carinho tentam compensar com bens materiais. Pais que ainda não entenderam que mais importante que a quantidade de tempo que possuem para ficar com os filhos é a qualidade do tempo que a eles dedicam.

Pais que precisam se dar conta que os filhos são seus para sempre e que na escola estão de passagem e, portanto, não devem transferir a responsabilidade que é sua para a instituição. Pais que precisam urgentemente entender que os limites, que não são dados em casa, causarão dificuldades para os filhos em se relacionar na escola, na igreja, no futebol, nas festas e posteriormente, no trabalho.

Escola, aluno e família formam o tripé que sustenta o processo de formação. Neste Programa Destaque Cristo Rei vamos refletir a fundo sobre a importância dos pais para o pleno desenvolvimento escolar das crianças, adolescentes e jovens.

“Ninguém pode respeitar seus semelhantes se não aprender quais são seus limites – e isso inclui compreender que nem sempre se pode fazer tudo o que se deseja na vida. É necessária que a criança interiorize a ideia que poderá fazer muitas, milhares, a maioria das coisas que deseja – mas nem tudo e nem sempre”. (Tania Zagury – em livro Limites Sem Trauma)

É importante que filhos e pais entendam que o limite é necessário, que existe diferença entre querer e poder, pois, muitas vezes, o meu querer vai contra as necessidades dos colegas de classe, por exemplo.

Ser democrático no ato de educar é muito importante. Conversar com os filhos, permitir que eles se expressem e opinem sobre os assuntos da família é tão importante quanto deixar e estimular que eles também participem das atividades da casa.

Sueli Ghelen Frosi, da Escola de Pais do Brasil afirma que pais e mães sempre são educadores e que devem ser parceiros da escola, para a humanização dos filhos. Os filhos são educados pela linguagem, pelas emoções, pelo respeito e pelos exemplos.

Pequenas tarefas condizentes com sua idade e capacidade podem e devem ser realizadas pelos filhos, pois assim como participam das discussões, também devem participar da rotina dos afazeres da casa e principalmente cumprir com seus compromissos escolares. Isso faz com que se sintam parte importante, que tenham organização e assumam responsabilidades de acordo com sua faixa etária.

A criança que tem bons hábitos adquiridos na família, dificilmente terá na escola dificuldades em dar conta das suas tarefas ou de manter uma relação amistosa com colegas, professores e funcionários, pois já tem internalizado o respeito pelo seu próximo.

Quando nascemos não temos noções de ética ou valores definidos. É tarefa dos pais passar para os filhos uma boa educação que deve sim ser democrática, porém não permissiva e não perniciosa. A propósito, encontrei em diferentes dicionários a definição paro o termo democrático:

Democrático: que toma decisões com a participação dos envolvidos. (Saraiva Jovem – página 293)

Democrático: que possui um caráter participativo. (Dicionário Didático, Editora SM – página 252)

É isso que precisa ser entendido pelos pais: assegurar aos filhos o direito de participar não significa deixá-los decidir tudo em casa – hora de dormir, onde passear, quanto gastar, o que e quando comprar, etc.

Existem decisões que não podem ser determinadas por uma criança de 8 anos, por exemplo. É necessário que os pais estabeleçam com os filhos regras que precisam ser cumpridas por todos na casa, caso contrário estaremos formando uma geração de tiranos que só pensam no seu bem estar e na satisfação de seus caprichos.

Respeitar os filhos dar-lhes amor, carinho e proteção, permitir que participem efetivamente da vida da família é tão importante quanto ensiná-los a ter autonomia e responsabilidade com o que é seu e com o que é do outro.

O que vemos ainda com bastante frequência são pais e avós carregando a mochila de crianças que já têm condições de fazerem isso sozinhas e, que na metade da tarde, largam seus compromissos para levar trabalhos escolares ou objetos que os filhos esqueceram em casa.

Mais grave que isso mães que dizem, sem nenhum constrangimento, que vão arrumar um atestado médico porque a filha “não gosta” de praticar atividade física, enfim, pais omissos que se submetem a qualquer vontade de seus filhos.

Em seu livro Limites Sem Trauma, Tania Zagury dá vários exemplos do que é dar limites e do que não é dar limites, mas uma dica considero fundamental:

Dar limites é dizer “sim” sempre que possível e “não” sempre que necessário.

A criança que não aprende a ter limites é a mesma que acha que só possui direitos, importa-se somente consigo mesma e que com o passar do tempo começa a enfrentar as consequência que variam desde a falta de interesse pelos estudos, passando pela dificuldade de enfrentar problemas mínimos até chegar ao desrespeito pelo outro, seja ele um familiar, um colega de escola e posteriormente os colegas de trabalho.

Pais e professores precisam ser grandes parceiros na formação educacional de cada ser humano.

Há poucos dias chamei para conversar, uma criança de 10 anos que havia batido na colega sem que essa tivesse feito qualquer coisa. Ao perguntar por que bateu na colega ela me respondeu: bati porque bati e pronto!

A escola é uma instituição que tem se colocado como colaboradora dos pais na tarefa de educar, porém nunca poderá substituí-los. Nenhuma família pode se dar ao luxo de terceirizar a educação dos filhos delegando a outrem a responsabilidade que é sua.

Finalizo escrevendo uma frase do grande psiquiatra Içami Tiba, que também é título de uma de suas obras:

Quem Ama Educa!

 

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