Livro, ruas e endereços do Brasil

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A autora e professora Elika Takimoto apresenta seu mais novo livro com uma temática super atual: o negacionismo. O negacionismo é, hoje, mais do que uma ideia potente, é uma força poderosa que precisa ser entendida, para ser enfrentada. Segue uma reflexão da autora que relata a relação direta da mesma com o envio de seus livros, adquiridos por pessoas de todo Brasil.

Sou eu que coloco endereço em cada livro que posto. É uma atividade manual que poderia ser somente de cópia, mas procuro me envolver emocionalmente no processo braçal e tirar disso alguma diversão.

De tanto colocar o destino, sei só de olhar o primeiro número do CEP para onde o livro vai. Agora estou atenta aos segundos e terceiros números do código postal e estou aprendendo sobre eles, a dizer, as sub-regiões de cada região desta bagaça chamada Brasil. Qualquer dia, você vai me falar o nome de sua rua e eu vou te dizer seu CEP assim na lata.

Começou por zero o CEP? São Paulo.

Um? Interior de São Paulo.

Dois? Ridijanêro.

Três? Minas.

Quatro, cinco e seis mando com beijo e gratidão: Norte e Nordeste.

Sete: Brasília.

Oito: Paraná e Santa Catarina

Nove: Rio Grande do Sul.

Endereço para Brasília é diferente dos demais do Brasil. Lá a coisa é tudo por número e quadras. As ruas não têm nomes e sim referências. Acho, sinceramente, que faz bem mais sentido do que ficar colocando nome em rua. Aliás, …

Tem muito mais rua com nome de homem do que com nome de mulher. O machismo está também escancarado no mapa do Brasil. Rua com nome de capitão e general tem aos montes, fica aqui mais essa observação.

Tem muita rua que começa com Doutor como a rua Doutor Victor Bhering em Conselheiro Lafaiete em Minas. Nunca vi rua com nome de doutora. Tem? Certamente. Mas acho que nenhum livro meu chegou até lá (já que sou eu que escrevo o endereço de quase todo mundo que adquire meus livros).

Rua com nome de governador tem em todos os Estados, assim como rua com nome de prefeito. Acho legal quando vejo rua com nome de vereador. Corro para saber quem foi e já quero saber da história daquela região toda.

Tem rua com cada nome que fico imaginando a pessoa escrever ou soletrar isso sempre. Exemplos: Rua Arthur Manuel Scheffer em Torres/RS, Rua Dragothim Tomich em Carlos Chagas/MG, Rua Friedrich Von Voith em São Paulo…tem vários endereços assim. Já sofro soletrando meu nome, imagina morando numa rua dessas… Em tempo, tem mais rua com doutor do que com professor como a rua professor Stroller em Petrópolis/RJ. Esse aqui fiquei com pena de quem mora lá tendo que escrever esse nome sempre que vai colocar o endereço: rua professor Carlos Schlottfeldt. Jesus amado… Sei nem como fala isso.

E tem ruas que eu vou ao Google para saber do que se trata: Igarapava, Upamaroti, Piracanjuba, Cambaúba, Guaianazes, Itapiru, Upiara, Tacomaré… estou enriquecendo meu vocabulário e minha cultura descobrindo onde vocês moram.

Quando aparece uma rua com nome e sobrenome de mulher, eu paro tudo. Sou despertada pela curiosidade dado minhas bandeiras. Olha isso, gente: Rua Jardelina de Almeida Alves em Mogi das Cruzes/SP, Rua Lilia Elisa Eberte Lupo em Araraquara/SP – CEP começando com …? Um! Isso mesmo. Rua Flamínia, aqui no Rio. Não parecem pessoas interessantes? Mas são poucas, como disse. Nome de homem tem aos montes ao ponto de me causar desinteresse pela história deles.

Tem poucas ruas que começam com “Dona”. Mas guardo o nome delas e fico imaginando uma mulher cuidando de todo mundo como a rua Dona Mariana (em Jacareí/SP), a rua dona Queridinha (em Itapoã CEP começando com três, portanto, Minas Gerais) e Rua dona Maria (CEP começando com dois, logo, aqui no Rio). Rua dona Avelina, rua dona Cassina, Dona Francisca, dona Catarina, dona Joana, Dona Isaura, Dona Veridiana, Rua Dona Tereza Cristina… São várias “Donas” que gostaria demais de saber quem foram.

Rua de Santo tem de todos que conheço e mais outro tanto que nunca tinha ouvido falar. São Sebastião, São Diego, Santo Antonio, Santo Expedito, São Eufredo, Santo Lenho, Santo Afonso,…

Tem ruas que fico imaginando o que se passou: rua da Gratidão (em Salvador CEP começando com quatro), rua da Represa (em São Bernardo CEP com zero), rua dos Sabiás (em Fortaleza CEP com seis), rua da Felicidade, rua da Alegria, rua dos Cavaleiros, rua das Princesas, …

E tem as ruas que sorrio quando escrevo pensando só na lindeza que é: rua das Dálias, rua das Flores, rua das Amendoeiras, rua das Laranjeiras, rua das Palmeiras, rua das Mangueiras, rua dos Ipês… Sei que poso chegar lá e ver um deserto de prédios, mas dá licença porque preciso imaginar coisas boas enquanto coloco o endereço nos envelopes.

Mais interessante do que isso são os nomes dos bairros, mas preciso voltar ao meu trabalho aqui. Caso contrário, não consigo cumprir o prometido que é mandar o livro para vocês com autógrafo ainda nesta semana. Já viram o quanto me disperso…

Por ora, parei tudo para dividir com vocês isso aqui que ando observando.

Com carinho, para todas as pessoas que compraram meu livro”.COMO ADQUIRIR O LIVRO:

“Como dialogar com um negacionista” é meu mais novo livro que está publicado pela editora Livraria da Física. Ele já está disponível na Amazon. Quem comprar por este link ( https://pag.ae/7XbERVDVv ), receberá o livro com dedicatória e autografado!

Afinal, o que temos neste livro? Aqui vai uma breve explanação feita pelo revisor Daniel Grimoni:

“O livro apresenta, através de oito capítulos escritos de forma simples e direta, como os mecanismos psicológicos ligados ao negacionismo também são verificados em quem acredita estar ao lado da razão e da ciência — duas coisas que, por sinal, carregam muito mais controvérsias do que se imagina. Como defender a ciência sem ser sincero sobre suas limitações? Como buscar a democracia enquanto se recusa o diálogo?

Com essas e outras provocações, Elika Takimoto nos apresenta um panorama de discussões e estudos sobre história e filosofia da ciência, verdade e pós-verdade, fake news, ceticismo, negacionismo, sociedade, educação e diversos outros temas. A autora, que pesquisou essas questões em sua formação acadêmica, também lida com elas diariamente, em salas de aula e conversas informais, e assim reúne sua pesquisa e sua experiência para a escrita do livro.

O que falta, então, é responder à pergunta: se essa tarefa não apenas é possível, como também é urgente e necessária, como dialogar com quem nega a ciência? O novo livro de Elika Takimoto busca oferecer algumas informações — e muitas perguntas — para ajudar nesse desafio.”

E aí, topa dialogar com uma professora?

(Qualquer dúvida: livrosdaelika@gmail.com)

Fotografias: Chamada: Reprodução / Montagem RBA Demais: Divulgação/arquivo pessoal/rede social

Autora: Elika Takimoto

Edição: Alex Rosset

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