Mães solos e educação das crianças em meio à pandemia

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As mamães solos estão aprendendo com as suas crianças a cuidarem de si e dos outros a cada dia que passa nesta pandemia pela qual estamos passando.

Ser mãe não é nada fácil, pois exige amor, dedicação, cuidados, entrega ao outro e mudanças repentinas no corpo, de repente. Quando uma mulher descobre que será mãe o seu pensamento, imediato, é de felicidade.

Sim, ela com o seu instinto de maternidade e, desde cedo educada para ser mãe, se vê rodeada de alegrias indefinidas. Prepara-se para comprar roupas para mulheres grávidas, prepara o enxoval do bebê e visita o seu médico que fará o chamado pré-natal, ou seja, o acompanhamento dos primeiros dias de gravidez até o nascimento do bebê por um médico especialista. Tudo é feito com muito carinho por parte da mulher.

Há um adendo em meio a tudo isso, pois essa mulher da qual falo é mãe solo. Ela vai ter que se virar sozinha para cuidar do seu bebê, ir ao médico, conseguir dinheiro para comprar fraldas pro bebê e tantos outros cuidados que são necessários numa gravidez. Mas, ela sabe que vai ser mãe e não importa se o pai está perto ou não.

A alegria da maternidade é maior que tudo e segue em frente nessa gravidez linda já sentindo a criança chutar a barriguinha em algumas horas de tranquilidade.

A maternidade parece um presente a muitas mulheres, noutras muitas vezes, não é bem-vinda por vários motivos que poderemos discutir em outro texto.

Passados nove meses, o bebê nasce. Aos olhos da mãe, uma criança linda que crescerá sob os seus cuidados com saúde e alegria. Mas, a dura e cruel vida começa a cobrar da mãe a presença do pai no registro civil, na pensão alimentícia, pois educar uma criança sozinha quando não se tem um emprego não é nada fácil.

A mulher luta. Não pode trabalhar porque o bebê ainda requer cuidados maternos e não quer deixá-lo nas mãos de pessoas alheias. A mãe solo sabe que terá de matar muitos leões por dia para enfrentar as picuinhas das pessoas próximas a ela em respeito a ter um filho sem a presença de um pai. Porém, ela não se importa. O bebê é mais lindo que todas as picuinhas do mundo!

O bebê cresce e completa seis anos de idade. Vai à escola. Acontece uma pandemia e o mundo fica de pernas pro ar. A mamãe perde o emprego que conquistara há três anos e a sua criança ficava o dia inteiro na escola. Agora, sozinha em casa com a sua criança entra em desespero com a falta de comida, atraso de pagamento das contas de água e luz, aluguel da casa também atrasado e cobradores à porta da sua casa.

A criança brinca o dia todo correndo dentro de casa e pulando na poltrona da sala. Para ela, o mundo ficou melhor. Está ao lado da mamãe o dia inteiro é um grande presente. Mas, alguém fala a todo instante à criança que muitas pessoas estão morrendo e ela começa a ficar com medo de perder a mamãe para esse vírus sobre o qual todo mundo vem falar com a mamãe, que ela vê passar na televisão e escuta no radinho de pilha. Sorte que a criança não encuca com isso e logo está a brincar novamente.

Seguem-se cuidados da mamãe quando sai à rua no uso de máscaras nela e na sua criança que não entende nada do que está acontecendo.

Sozinhos, mãe e filho, vão ao supermercado e para a criança aquilo tudo é uma brincadeira incrível. Poder comprar frutas, biscoitos, leite, pipoca e tantas outras coisas gostosas é maravilhoso! Sair de dentro de casa depois de três meses não tem coisa melhor! A mamãe aproveita as compras para educar a sua criança perguntando-lhe se o feijão está caro, se o açúcar está mais barato do que o feijão, quanto podem gastar naquele dia, como podem fazer para economizar. A criança se diverte sentindo-se importante na vida da mamãe.

Em casa, todos os cuidados são tomados com a criança. Ela não entende por que não pode brincar no parquinho ou na praça. Ela não entende por que as aulas são agora por aquele celular que a mamãe pediu dinheiro emprestado e financiou em trinta e seis parcelas só para que pudesse estudar em casa sem perigos. Mamãe, que perigo estamos correndo? A pergunta que toda criança curiosa ou não já deve ter feito aos seus pais em meio a pandemia.

A mamãe tem uma casa para limpar, roupas para lavar e comida para fazer, mas o filho tem dever de casa que deve ser enviado até às quinze horas daquele mesmo dia, conforme mensagem recebida da professorinha.

A criança diz que sabe fazer sozinha, a mamãe não confia e deixa todos os seus afazeres de lado para acompanhar a tarefa escolar.

O cuidado é grande. Em casa, apenas a família: pai, mãe e filhos. E agora? O que vamos fazer com os nossos filhos? Como vamos incentivá-los nos estudos se estamos assoberbados de trabalho? Veja mais sobre o assunto.

A criança pede ajuda na primeira pergunta. É sobre o papai. Querem que ela desenhe como é o papai. Sem saber o que dizer a mamãe pede para que desenhe um homem de calça, camisa e sapato. Este é o meu papai, mamãe? Não! O papai é uma figura imaginária da mamãe. E, aos seis anos de idade, a criança começa a ficar curiosa para conhecer o seu papai. A mamãe a senta no colo e inventa uma história de contos de fadas, porque a real é muito dolorosa.

A mamãe descobre que a criança gosta da história e descobre junto com ela uma forma de educá-la mais lúdica, ou seja, contando-lhe histórias fantásticas e maravilhosas.

A contação de histórias tornar-se uma arte educativa para aquela mamãe que sozinha precisa educar uma criança de uma forma que lhe cause prazer e felicidade estudar e participar das atividades online da escola.

A criança não gosta de estudar remotamente, mas a mamãe faz de tudo para que ela permaneça concentrada na aula sentando-se com ela para juntos assistirem a aula. A mamãe demonstra interesse e curiosidade pelo que está sendo ensinado à distância.

Em meio a pandemia, a educação da criança não tem sido nada fácil para a mamãe solo. Com mais tempo em casa, a criança começa a ficar inquieta, não quer dormir cedo, não quer mais ver televisão e nem assistir as aulas pelo celular.

Ela quer brincar com os seus amiguinhos e chora o tempo inteiro para ir comer os bolinhos da vovó. É preciso explicar-lhe que a vovó não pode receber visitas no momento e que brincar na rua é perigoso. É preciso explicar-lhe da necessidade de estudar em casa, pelo celular. De nada adianta. A criança está de birra e tristonha. Acha chato tudo o que a mamãe diz.

Sem querer contar-lhe que também está achando chato tudo aquilo, a mamãe sabe o quanto a sua criança está sofrendo com todas as mudanças repentinas que ocorreram na sua vida de uma hora para outra. Ela precisa se reinventar, do nada. Mas, antes que descubra o que fazer para alegrar a sua criança, ela a surpreende desenhando bonecos nas paredes da casa.

A mamãe pensa em reclamar, melhor não. As coisas estão tão difíceis para todos nós. Melhor deixar que a criança faça o que gosta, o que está lhe dando prazer naquele momento de isolamento social, longe dos amiguinhos e de tudo o que lhe faz bem.

As mamães solos estão aprendendo com as suas crianças a cuidarem de si e dos outros a cada dia que passa nesta pandemia pela qual estamos vivendo. As crianças todos os dias ensinam a nos reinventarmos. Elas pedem para aprenderem a cozinhar, lavar roupas, dar banho no cachorro, limpar o cocô do gato.

As crianças gostam das tarefas domésticas. Isso faz com que elas se sintam úteis. E as mamães vão ganhando alegrias ao verem as suas crianças contentes mesmo estando longe do que gostam. Por isso é importante dar liberdade para elas nesse momento tão difícil para todos nós.

Não tem nada demais em ser uma mamãe solo em pleno século vinte e um se não fossem as exigências da sociedade e de algumas escolas da criança pela presença de um homem adulto na família porque as mamães aprendem com as lutas da vida a criarem os seus filhos com sabedoria mesmo enfrentado diversos problemas ao longo das suas infâncias não sentem falta de uma companhia.

Não é nada fácil ser uma mamãe solo, mas muitas mulheres exercem esse amor com a maestria muitas vezes até melhor do que as mamães que têm maridos.

A criança ensina à mamãe não ter medo do vírus com o seu sorriso e brincar o dia inteiro.

Há momentos que as brincadeiras são tantas que ela esquece das milhares de mortes pelo mundo inteiro. Só lembra quando a criança vez por outra pergunta: mamãe, por que todo mundo tá morrendo? Sim, não adianta mentir para uma criança. É preciso falar a verdade com cuidado nas palavras para não causar pânico. Apesar dessa pergunta ser frequente quando a criança escuta um jornal ou sabe que alguém querido morreu, logo esquecerá a dor se a mamãe continuar tranquila e paciente. É difícil agir assim, porém é preciso.

Às mamães solos é dedicada a tarefa de educar as crianças com dupla função: a de mãe e a de pai. As crianças filhas de mães solos não se preocupam com a falta de um pai caso a sociedade não lhes cobre a sua presença. Essas crianças tornam-se mais próximas das suas mães e as ensinam a todo instante uma forma melhor para se viver com os seus jeitinhos de olhar o mundo.

Um mundo que nem sempre olha para elas com carinho, mas com questionamentos: sem pai será que vai dar pra bom menino? Sem pai será que vai dar pra moça recatada? Esse mundo que chora a morte de milhares de mamães solos que morreram vítimas de um vírus que destrói famílias todos os dias.

Que as crianças possam continuar alegres e esquecendo das coisas chatas dos adultos o mais rapidamente possível com as suas brincadeiras e vontades de viverem. Seja pintando ou desenhando em paredes ou papéis. Aprendamos a enfrentar a pandemia com o sorriso de uma criança.

Entrevista com Daniel Cara, professor da USP (Economia da educação) e membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação sobre os desafios da educação em tempos de ensino remoto e/ou híbrido. Assista a entrevista na íntegra.

Autora: Rosângela Trajano

Edição: Alex Rosset

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