O caos chegou às estruturas hospitalares, enquanto o país segue sem rumo definido no enfrentamento do vírus.
Em novembro de 1904, irrompeu no Rio de Janeiro a Revolta contra a Vacina que visava combater a varíola. A vacina – já testada com êxito no exterior – foi encarada com desconfiança pelos brasileiros em geral.
Na verdade, havia um clima contra o governo de Rodrigues Alves em função da carestia, inflação, achatamento salarial, aumento de aluguéis, o projeto excludente e elitista de remodelação do centro do Rio.
Passados 116 anos, estamos diante de um contexto parecido. Este, provocado pela irresponsabilidade das autoridades brasileiras.
É notória a má vontade do governo federal em relação à Coronavac. Jair Bolsonaro alimenta teorias conspiratórias em relação à “vacina chinesa”, menos por convicção e mais por cálculo político.
De outro lado João Dória, querendo queimar etapas para aprovação de uma vacina e vendendo uma coisa que ainda não existe. Assim,a população fica à mercê de uma briga irresponsável entre políticos, que estão preocupados com as futuras eleições.
Bolsonaro fez uma gestão totalmente letárgica da pandemia, devastadora, segundo um representante da ONU. “É um crime”, destaca um dos maiores quadros do Estado em temas sanitários, Gonçalo Vecina.
Mais uma vez Bolsonaro despreza a ciência, adota comportamento criminoso, desacreditando os efeitos da vacina e fazendo, novamente, da vida e da saúde um campo de batalha política.
Descumpre o papel básico de qualquer Estado e governo: garantir minimamente o direito à vida e à saúde dos cidadãos. Estamos diante de um governo que as despreza abertamente, sem constrangimentos. Moralmente, é o pior governo da nossa história e mais letal que o vírus!
Negacionismo
O negacionismo do governo Bolsonaro, caracterizado pela defesa do terraplanismo e da postura antivacina, é estarrecedor. Há uma verdadeira campanha orquestrada contra a ciência, contra as universidades.
No momento em que o país vive o pior momento da pandemia, assistimos o Presidente se omitir de sua responsabilidade e transferi-la para um Ministro da Saúde inepto e responsável por propor tratamentos inadequados para a doença. Convenhamos, comandante que não assume responsabilidade, não tem moral para seguir no comando.
A pandemia, que já foi considerada gripezinha nas palavras do sr. presidente, continua sendo negligenciada e matando centenas de brasileiros todos os dias. O caos chegou às estruturas hospitalares, enquanto o país segue sem rumo no enfrentamento do vírus.
A negação da ciência, o comportamento irresponsável do chefe da nação, promovendo aglomerações e não usando máscara, em muito vem contribuindo para o agravamento da situação que estamos vivendo. Não há como negar.
O curioso é que o governo culpa o STF pelo fracasso de sua política de combate ao Covid-19, mas o tribunal não o impediu de ter um plano nacional de testagem em larga escala, não proibiu a criação de uma política de rastreamento de contatos, nem desestimulou a vacinação. Também, nunca sugeriu que o Covid-19 fosse uma gripezinha.
Tomo a liberdade de me valer da história para, quem sabe, encontrar traços do negacionismo hoje tão forte entre nós, nas terras lusas no século XIX. Por escrúpulos religiosos, a ciência e a medicina eram atrasadas ou pouco conhecidas em Portugal.
Dom José, irmão mais velho de dom João VI, morreu de varíola porque sua mãe, dona Maria I, tinha proibido os médicos de lhe aplicar vacina. O motivo? Religioso. A rainha achava que a decisão entre a vida e a morte estava nas mãos de Deus e que não cabia à ciência interferir nesse processo.
Talvez, no séc. XIX, tal postura se explicasse, mas no século XXI trata-se ou de projeto político ou ignorância funcional.
“Os principais prejuízos retornam imediatamente ao todo da sociedade. O desmonte do espírito crítico causa horrores. O problema se agrava progressivamente no momento de tantas incertezas e pavores da pandemia”. (Celestino Meneghini) Leia mais!
Autor: José Ernani de Almeida
Edição: Alex Rosset