Nas minhas andanças pelo país tenho visto professores com dificuldades para trabalharem a poesia em sala de aula. Tal esta dificuldade se dê porque o professor não gosta de poesia, pois tudo o que gostamos aprendemos a transmitir para o outro. Fica o convite para uma aula com poesia.
Quando a gente se depara com a poesia de Manoel de Barros, toma um susto com a forma pela qual ele consegue usar as palavras, coisificando-as e trabalhando com metáforas. Dá uma vontade enorme de ser ele só para podermos brincar desse jeito com as palavras!
Manoel de Barros tem uma poesia voltada para o público infantil de uma singeleza ímpar. Uma poesia que fala por si mesma, que brinca com a criança e a filosofia, que fala dos vazios, do mundo, dos quintais, dos besouros e de tantas outras coisas.
O menino que carregava água nas peneiras. Manoel de Barros.
Nas minhas andanças pelo país tenho visto professores com dificuldades para trabalharem a poesia em sala de aula, mas acho que essa dificuldade se dá quando o professor não gosta de poesia, pois tudo o que gostamos aprendemos a transmitir para o outro.
A poesia de Manoel de Barros é um convite para uma aula diferente, uma aula onde as crianças possam brincar com a metafísica e as coisas sem se preocuparem com os seus conceitos complexos.
O poeta inventa palavras, e isso faz muito bem. Inventa mundos e inventa meninos. Sabe bem brincar com a imaginação das crianças. Explora o imaginário de forma inteligente e criativa chamando a criança para dentro da sua poesia.
Quem já leu a poesia o menino que carregava água na peneira sabe bem do que estou falando. O poeta fala de um menino que gostava mais do vazio do que do cheio e isso já chama a atenção da criança, pois como pode um menino gostar de uma coisa vazia se no cheio é onde estão as coisas nas quais podemos mexer? O poeta usa a palavra “despropósitos” que pode ser questionada pelo professor aos seus alunos.
Ao analisar cada palavra da poesia o professor segue descobrindo a magia e o encanto que Manoel de Barros dá ao seu menino da peneira, um menino simples, porém cheio de coisas maravilhosas, igual a qualquer outro menino, igual aos nossos alunos que vez ou outra gostam de vazios e a gente não consegue entender o motivo.
Outro poema que pode chamar a atenção dos alunos é o livro sobre nada. Usa as metáforas de forma linda e com a alegria de uma criança fala que palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria. E assim o poeta nos esclarece que todo brinquedo deve ser levado a sério. Esta já é uma poesia para alunos maiorzinhos, do ensino fundamental II, mas que nos leva a uma reflexão tamanha sobre a vida e as coisas.
Uma poesia que fala do nada; a gente fica a se perguntar o que é o nada o tempo todo e se o nada existe como é ele.
Poesia Livro sobre o Nada. Manoel de Barros.
As crianças gostam de perguntar sobre o nada, por isso a poesia voltar a ser das crianças menorzinhas novamente.
A poesia também fala de presença e de falta dentro da gente num mundo onde a falta de amor ao próximo, de cuidados, zelo e carinho vem tomando conta da nossa sociedade pode-se usar esse verso para refletir com os alunos para onde estamos indo com a nossa individualização, o que está faltando na sociedade para que ela se torne melhor e como fazê-la melhor. Pode ser questionado também o que está presente tão fortemente na sociedade que não conseguimos enxergar a olho nu, e por que as coisas costumam dá errado para alguns que não conseguem se enxergarem presentes no mundo.
No mesmo poema, o poeta fala que gostaria de ser lido pelas pedras. Daí a gente fica pensando que importância pode ter uma pedra? Será que uma pedra pode lê alguém? De que forma? Por que o poeta usou essa metáfora? O que as crianças acham desse verso? É um verso bem filosófico esse. Nos leva a um pensar crítico e investigativo forte.
Num primeiro momento percebemos que o poeta dá uma importância significativa para a pedra. Logo, podemos brincar com as crianças perguntando-lhes o que acham de uma pedra, e se gostariam de ser uma, como deve ser a vida de uma pedra, que sentimentos deve ter uma pedra, etc. Claro que isso tudo está na base do mundo imaginário, mas talvez seja esse o convite do poeta, fazer a criança entrar no mundo imaginário para ler a sua poesia.
Para concluir, citarei mais um verso que chamou a minha atenção na poesia o livro sobre nada: “não saio de dentro de mim nem pra pescar”, diz o poeta.
Eu me pergunto como seria esse sair de dentro de mim? Como a gente faz pra sair de dentro de nós? Acho que essas são boas perguntas a serem feitas às crianças que estão sempre cheias de curiosidades.
O meu objetivo com este artigo é convidar os professores a trabalharem com a poesia em sala de aula, pois ela é um instrumento de despertar o imaginário, o pensar crítico e reflexivo diante de nós e do mundo ao nosso redor. Trouxe hoje aqui a poesia de Manoel de Barros, mas acho que qualquer boa poesia faz isso com maestria e beleza. Fica o convite para uma aula com a poesia.
Poema, de Manoel de Barros.