Marcas do que se foi…

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Faço o que gosto? Valorizo-me?
Tenho disposição para aceitar críticas
e proponho a mudar-me?
Pergunto, estou de bem com a vida? 


Sou de uma geração em que a balada título deste texto – muito tocada aos finais de ano – sugeria um recomeço: “Este ano, quero paz no meu coração…”. 

Canção: Este ano quero paz no meu coração!

Desta vez, durante este ano atípico, expressões tais como a de que 2020 deveria ser esquecido, riscado de nossas memórias numa vã tentativa de fazermos de conta de que nada de ruim aconteceu, foram repetidas por várias pessoas. 

Percebo, na experiência clínica, que o desejo do esquecimento é um desejo muito comum, pois algumas pessoas chegam à psicoterapia com o discurso de querer esquecer algo que lhes tenha acontecido, com a falsa ideia de que assim não sofrerão mais. Ledo engano, pois é justamente o contrário que nos salvará, pois, devemos sim lembrar, poder falar daquilo que rejeitamos, e, numa citação de Carl G Jung lembrarmo-nos de que: “O que negas te subordina, o que aceitas, te transforma.” 

Aceitar no sentido de darmos um novo significado, provocarmos uma mudança de sentimentos. Causava-nos raiva? Compreendendo, possamos talvez oferecer-lhe a outra face, e seguirmos feliz. Foi uma injustiça? Talvez, mas e se estivéssemos no lugar do outro, não teríamos feito a mesma coisa? Sim, 2020 deixa marcas, dores, feridas que cuidaremos para que, como cicatrizes, possam ser lembradas no futuro como atitudes de superação.

Se buscarmos no fundo de nossos sentimentos, também naqueles de alegria, poderemos encontrar ainda algo que nos dê motivação e forças para acreditarmos na possibilidade de que nem tudo está perdido! Há alguém ansioso por sua formatura, outros apostando tudo em novos empregos, alguns encontrando esperanças em um novo relacionamento, outros, ajustando-se ao “novo normal”, enfim, o ciclo da vida seguindo e nos ensinando. Precisamos, qual aprendiz ante seu mestre, estarmos atentos e receptivos à vida.

E segue a balada “… quem quiser ter um amigo, que me dê a mão.” Comecemos por darmos à mão à nós mesmos, pois se me proponho a ser o amigo que estende a mão, é justo que eu esteja em sintonia comigo. Faço o que gosto? Valorizo-me? Tenho disposição para aceitar críticas e proponho a mudar-me? Pergunto, estou de bem com a vida? 

Se esperamos muitas vezes dos outros aquilo que nem damos, poderemos viver bem assim?

É claro que se o mês de dezembro, fim de um ciclo, é tempo propício para reflexões, certamente que também é o momento exato para recomeços e adoção de novas posturas. A música ainda diz: “… o tempo passa, e com ele caminhamos todos juntos, sem parar”. 

Penso estar aqui a essência do verso: o tempo passa, mas se não o acompanharmos ficaremos para trás a lamentar oportunidades. Acordemo-nos então para a realidade e façamos nossas caminhadas, pois finalizando como propõe o autor: “nossos passos pelo chão, vão ficar, marcas do que se foi.”

Feliz 2021.

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