Meio ambiente e educação ambiental: responsabilidade ética

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Vivemos uma crise sem precedentes na história a humanidade. Faz-se urgente, portanto, uma revisão da atuação humana com relação a natureza. A Educação Ambiental, neste contexto de crise climática, é uma questão civilizatória, política, ética e, talvez, a última esperança.

Muitos assuntos ocupam os debates no campo da educação – IA e CHATGPT na educação, uso Celulares nas escolas, dependência e dominação tecnológica, saúde mental, empreendedorismo, inovação, educação financeira -, porém, neste momento e neste ano de 2025, a Educação Climática e Ambiental precisa romper o “silenciamento” e o “esquecimento” a que está submetida. É uma temática prioritária e emergencial no atual contexto climático.

Neste ano estão programados importantes eventos nacionais e internacionais sobre o Meio Ambiente e a Educação Ambiental. Agora em abril, de 02 a 05, está sendo realizada a Cúpula Global da Juventude pelo Clima 2025, na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Jovens de mais de 40 países discutem as mudanças climáticas nos países do chamado Sul Global, grupo de países que o Brasil é frequentemente incluído. Jovens se importam com a condição climática atual.    

No próximo mês é a vez da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, a realizar-se em Brasília de 6 a 9 de maio, abordando como tema principal a “Emergência Climática e o Desafio da Transformação Ecológica”. A Mitigação, Adaptação e preparação para os Desastres, Justiça Climática, Transformação Ecológica, Governança e Educação ambiental constituem os cinco eixos temáticos desta Conferência.

Dos 5.570 municípios do Brasil, a maioria (66%) tem capacidade baixa ou muito baixa de lidar com eventos extremos e enfrentar a gestão de desastres. Essa é uma das questões que a 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente precisa enfrentar: como aumentar a capacidade de prevenção e adaptação dos municípios às mudanças climáticas?

De 21 a 25 de julho de 2025 será realizado o VIII Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa, em Manaus, no Brasil, contando com o financiamento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Os eixos temáticos do Congresso serão: Educação Ambiental e Desenvolvimento Humano: os Direitos Fundamentais; Educação Ambiental e Justiça Climática Global e Local; Educação Ambiental no Sistema Educativo e Diálogos Intergeracionais; Educação Ambiental e Respostas Sociais e Ambientais como: sociobiodiversidade, ancestralidade, comunidades tradicionais e grupos em situação de invisibilidade e vulnerabilidade.

Os eixos temáticos da 5ª Conferência e do VIII Congresso evidenciam o quando a Educação Climática Ambiental é ferramenta fundamental para promover mobilizações e engajamentos sociais, ampliando capacidades coletivas no campo e nas cidades, assim como a própria consciência ecológica da população, no sentido de compreendermos a crise climática, ambiental e civilizatória que vivemos. Inclusive, buscando promover a cidadania ambiental e o controle social sobre as políticas públicas.

 A COP-30, agendada para ser realizada em Belém (PA), entre 10 e 21 de novembro de 2025, tem como grande missão fortalecer as ações e compromissos globais frente à emergência climática. Este encontro internacional será crucial para os esforços de limitar o aquecimento global a no máximo 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, um limiar considerado vital para prevenir os efeitos mais catastróficos das mudanças climáticas.

Entre os temas serão abordados a Redução de emissões de gases de efeito estufa; Adaptação às crises climáticas; Financiamento climático para países em desenvolvimento; Tecnologias de energia renovável e biodiversidade; Justiça Climática e os impactos socias das transformações climáticas.

A Educação Ambiental (EA) não é um tema novo nem está superado. No ano de 1972, portanto, há 53 anos, ela ganha status de assunto oficial durante a “Primeira Conferência das nações Unidas sobre Meio Ambiente” em Estocolmo. Segundo a recomendação número 96 da Declaração de Estocolmo, a EA tem uma importância estratégica na construção da qualidade de vida.

Já a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental de Tibilisi, realizada na Georgia, ex-URSS, em 1977, reafirmou e reforçou a necessidade de serem considerados os aspectos sociais, econômicos, culturais, políticos, educacionais e éticos nos debates das questões ambientais.

Porém, no Brasil, segundo os estudos de Mauro Grün (2012), a EA é uma área de afetada pelo silêncio, de “esquecimento” proposital, com dimensão histórica e de impacto social. Este silêncio dos sistemas de ensino, das instituições de ensino e dos gestores educacionais a joga na invisibilidade e ausência no curricular escolar e acadêmico.

As reformas educacionais da última década (2015-2025), especialmente na Educação Básica (BNCC, reforma do Novo Ensino Médio, Diretrizes de Formação de Professores), nenhuma relevância ou prioridade lhe atribuem. A legislação de EA vigente é ignorada e as políticas e programas descontinuados e pontuais.

A degradação ambiental tem atingido níveis jamais vistos e imaginados.

Vivemos uma crise sem precedentes na história a humanidade. Faz-se urgente, portanto, uma revisão da atuação humana com relação a natureza. A Educação Ambiental, neste contexto de crise climática, é uma questão civilizatória, política, ética e, talvez, a última esperança.

Para Hans Jonas (2013), as leis da natureza não têm impedido que nas últimas décadas o ser humano tivesse exterminado inumeráveis espécies animais e vegetais. E questiona o pensador alemão: Que consolo podem nos oferecer as leis da natureza para a conservação de nossa própria espécie?

Na perspectiva da nossa Responsabilidade Ética Hans Jonas entende como algo que está vinculado às questões valorativas. “[…] é o cuidado reconhecido como obrigação em relação a um outro ser, que se torna ‘preocupação’ quando há uma ameaça à sua vulnerabilidade”. Não se trata de algo que é um bem para o ego, mas um bem comum, para todos e intergeracional.

Considerando que a transformação humana não é apenas moldada pela natureza, mas é influenciado pela tecnologia, com a ajuda da engenharia genética, da inteligência artificial e da exploração espacial, a nossa espécie está a entrar numa era onde a evolução pode já não ser puramente biológica e, a técnica, está a transformar este ser humano em seu objeto. É sobre este ser humano que repousa a responsabilidade ética com o meio ambiente, as diversas especiais, sobre as atuais e futuras gerações de seres vivos neste planeta.

Diante desce contexto, Peter Singer (2002) acrescenta que “nossa posição traça os limites das considerações morais que dizem respeito a todas as criaturas sencientes, mas deixa os outros seres fora desses limites”.  É pergunta: “tenho este direito?” Por isso, é necessário compreender que a ameaça poderá privar as futuras gerações de conhecer e apreciar a diversidade natural que está ao seu redor.

A questão ambiental implica em problemáticas sociais bastante complexas e urgentes.

É fundamental pensar soluções para transformar a maneira como nos relacionamos com o planeta. As infâncias estão intrinsecamente ligadas às mudanças que a sociedade está vivenciando. É preciso reconhecer que crianças e jovens não são meras espectadoras dos acontecimentos. Promover um sentir e pensar relacionados às ideias para adiar o fim do mundo (Krenak, 2019) é mostrar caminhos alternativos para o viver.

Referência

GRÜN, Mauro. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. 14ª edição – Campinas: SP; Papirus, 2012;

JONAS, Hans. Técnica, Medicina e Ética: sobre a prática do princípio da responsabilidade. Tradução do Grupo de Trabalho Hans Jonas da ANPOF. – São Paulo:  Paulus, 2013.

JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Tradução: Marijane Lisboa, Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro: Contraponto : ed. PUC-Rio, 2006.

KRENAK, Airton. Ideias para adiar o fim do mundo. 1ª edição, – São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

SINGER, Peter. O meio Ambiente. Ética Prática. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

Autor: Gabriel Grabowski. Escreveu e publicou outros 45 textos no site, dentre os quais “Recuperar a educação ambiental e tentar enfrentar o capitalismo”: www.neipies.com/retomar-a-educacao-ambiental-e-climatica-e-tentar-superar-o-capitalismo/

Edição: A. R.

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