A memória das pessoas falecidas é também muito importante. Tem a ver com a consciência histórica e de que a pessoa não está solta no mundo. Uma das grandes dificuldades neste mundo é a falta da consciência histórica, a desconexão com o passado e com o futuro.
Neste dia 02 de novembro muitos brasileiros farão memória de seus entes queridos já falecidos. Os gestos que acentuam a memória são diversos: visita aos cemitérios, orações, limpeza de túmulos, oferta de flores, acendimentos de velas, oferta de missas, orações, entre outros.
Não se deixa passar sem acento uma data que é significativa para a maioria das pessoas. Diz respeito à nossa humanidade. Aqueles que passaram pelas nossas vidas e deixaram marcas em nossos corações partem fisicamente, mas a lembrança fica. O ser humano cultiva seus afetos, sofre com as perdas, sente pelas situações de luto. É desafiado a continuar a viver e caminhar, porque só caminha quem tem esperança e a esperança é a virtude dos cristãos.
É importante compreender o luto para além de uma realidade em si, fechado.
Neste caso beira à esterilidade. É perigoso. Cabe compreendê-lo como sinal de um processo maior. O luto aponta para o sentimento de perda de alguém que foi muito importante e, sendo importante, faz falta. Reclamamos sua ausência. Triste seria se não sentíssemos falta de pessoas que passaram pelas nossas vidas e que não estão entre nós.
O dia de finados convida a algumas ações significativas que ajudam a viver a ponte com os entes queridos, compreendendo que a morte não é barreira ou muro intransponível, mas é compreendida à luz da fé. Convida também a lermos a nossa vida na condição de cristãos, especialmente o sentido que damos a ela e as opções que fazemos enquanto somos portadores do “sopro vital” dom e graça de Deus. São estas as ações:
A visita ao cemitério é um rito marcante que envolve outras atividades como a limpeza dos túmulos, o oferecimento de flores e o acendimento de velas. É como expressar o não esquecimento do familiar ou amigo que ali está sepultado. Esta ida tem um caráter de saudade, memória e reverência aos falecidos. Revela uma ligação com o passado experenciado, de pertença à vida e às relações com aquela pessoa que foram importantes. E, na perspectiva pessoal, a relação com o futuro, a realidade reservada a todos os viventes, assim como expressa o ditado popular: “a morte é a única certeza do horizonte”.
A memória das pessoas falecidas é também muito importante. Tem a ver com a consciência histórica e de que a pessoa não está solta no mundo. Uma das grandes dificuldades neste mundo é a falta da consciência histórica, a desconexão com o passado e com o futuro.
A memória das pessoas que foram significativas em nossas vidas ajuda o ser humano a tomar consciência da sua história e das pessoas que foram importantes nessa história. A ela deve-se um tributo. A tradição cristã foi muito sábia ao perder esta consciência da história porque ela é impulso e alento do caminhar rumo ao futuro. Fazer esta memória não é saudosismo estéril, mas reconhecimento de que não estamos sozinhos no mundo, somos pessoas de relações.
A terceira ação é a prece pelos mortos. É compromisso cristão muito antigo rezar pelos mortos. Tem raízes bíblicas. O texto de Macabeus menciona a necessidade da oração pelos mortos em vista da sua salvação (2 Mc 12, 38-45). Outros textos também mencionam a prece pelas pessoas que morreram. Jesus rezou pelo seu amigo Lázaro (Jo 11, 41-44). Os apóstolos rezavam pelas pessoas falecidas (Atos 9,36-40). Nos séculos IV e V já havia a recomendação da prece pelos mártires e falecidos e no século XII demarcou-se a data de 02 de novembro como o dia de se rezar pelos mortos.
A tradição cristã compreende que a oração pelos mortos é uma obra de misericórdia espiritual. A prece pelos mortos fortalece o laço de comunhão com os entes queridos mediado pela fé. Se intercedemos pelos vivos, rezemos também pelos mortos, aqueles que nos aguardam na morada eterna porque nos precederam seguindo o primogênito entre os mortos o Cristo ressuscitado.
A oração pelos mortos é memória e ato de fé.
Autor: Pe. Ari Antonio dos Reis. Também escreveu e publicou no site “Rezar pela unidade cristã”: www.neipies.com/rezar-pela-unidade-crista/
Edição: A. R.