Enquanto o jogo prossegue aqui, surge uma série de interrogações. Se ele terminasse nesse campo de terra, seria vã nossa fé? De que adiantaria nossa esperança, nossa caridade e nossa luta por um mundo melhor? Mas, e quem não tem fé, não alimenta a esperança e não pratica a solidariedade, poderá participar desse jogo alhures, na hipótese de ele ter seguimento?
A afirmação acima foi feita por um amigo que diz não acreditar em Deus. Chamou a atenção, pois não é usual ouvir esse jogo de palavras relacionadas à morte. Tantas coisas fazem parte do jogo da vida, mas logo a morte fazer parte do jogo! Fiquei intrigado. Pensei: a morte pode fazer parte do fim do jogo, porém não do jogo em si. Se fosse para fazer parte do jogo, seria coerente pensar que tal jogo deveria ter continuidade. Mas, não, segundo meu amigo, a morte seria o fim da partida e a partida para o fim.
Acreditar em Deus é um direito de cada pessoa. E o jeito de relacionar-se com a divindade o é igualmente, embora as instituições religiosas busquem sempre organizar maneiras coletivas de estabelecer tais relacionamentos. Do mesmo modo é direito não acreditar, uma vez que a fé é uma adesão livre.
Ninguém pode ser obrigado a ter fé, embora ela possa ou até deva ser estimulada e fortalecida. Também, é direito crer que a vida não é um jogo que termina com a partida, no caso, com a partida desta vida. Equivale dizer, um jogo que tem sequência no campo eterno, não obstante, totalmente desconhecido. Apenas esperado e pretendido por todos quantos tem fé na imortalidade da vida.
Enquanto o jogo prossegue aqui, surge uma série de interrogações. Se ele terminasse nesse campo de terra, seria vã nossa fé? De que adiantaria nossa esperança, nossa caridade e nossa luta por um mundo melhor? Mas, e quem não tem fé, não alimenta a esperança e não pratica a solidariedade, poderá participar desse jogo alhures, na hipótese de ele ter seguimento? E ainda, confirmada essa hipótese, será gratuita a entrada ou reentrada em tal jogo? E o que dizer daqueles que são retirados ou se retiram do jogo prematuramente? As indagações se vão em várias direções.
Se um ateu é solidário, luta pela justiça social, defende a vida em todas as suas expressões, é humanista, não estará ele também com a partida ganha? Disse São Tiago (2, 17) que a fé sem as obras está completamente morta, mas podem ser bem vivas e vivificantes as obras de quem as pratica mesmo sem crer.
Os declaradamente ateus ou supostamente pecadores poderão preceder a outros jogadores no Reino definitivo. É de Jesus esta afirmação, feita diante dos chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo: “…os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino do Céu” (Mt 21, 31). A matemática do jogo da vida nem sempre é uma equação cartesiana.
Praticar o mal em nome da fé é a pior jogada. E não é raro observar esse tipo de comportamento. Infelizmente também segue comum a intolerância religiosa, racial e por outras motivações. Práticas que tornam a vida tensa e insuportável em todos os campos. Por outro lado, vale reafirmar sem parecer piegas, que as melhores jogadas são aquelas feitas com solidariedade, justiça e cuidado. E que o melhor e o essencial de qualquer religião é o amor.
As possibilidades sobre o jogo da vida são diversas. Muitas faltas, derrotas, vitórias e empates podem ocorrer enquanto essa partida acontece. O importante, antes da partida (derradeira ou passageira), é procurar cometer menos faltas possível e almejar vencer o campeonato. Essa vitória, com certeza, não será possível obtê-la de forma individual. Por certo, também não se poderá comprar a premiação. Ou ela será gratuita ou não será de fato e pra valer. Mas, quem acredita, se esforça e agradece por merecer. Quem não sabe a hora, não espera acontecer!
Para maiores aprofundamentos sobre o tema, sugerimos vídeo que segue: https://youtu.be/f3_8x1-I-oM?t=1092
Autor: Dirceu Benincá. Professor Universitário na área de Ciências Humanas (FURG). Também escreveu e publicou no site “O bem-viver depende do bem pensar”: https://www.neipies.com/o-bem-viver-depende-do-bem-pensar/
Edição: A. R.