Neste céu de manto azul,
Pelo vento pastoreados,
Carneirinhos de algodão
São, aos poucos, transformados em
Monstros aterradores,
Cuspindo raios, prantos, dores,
Nos vastos rincões do sul.
Parceiros do dia a dia,
Nos banhos e pescarias,
Rios, riachos e sangas,
Tão mansas corredeiras,
Tornam-se sobremaneira
Tsunamis arrasadores
De vidas, sonhos, cores.
Está tudo acabado…
Recuso-me a acreditar que
Irá renascer meu pago,
Feridas vão cicatrizar,
O povo, hoje, cansado
Mais forte irá levantar.
Já que é difícil mudar
Realidade tão dura,
Muda-se o modo de olhar.
Isso faz parte da cura.
O fim é um novo começo.
Que tal olhar o avesso?
Para entrar em novo clima,
Leia de baixo pra cima.
Poema originalmente publicado na obra “Sol das Águas de Maio” (2024, p. 220-221) a qual constitui o resultado de ações solidárias entre escritores independentes, idealizada e coordenada por Nurimar Bianchi (Soledade/RS), com o objetivo de levar livros e recursos às populações atingidas pelas enchentes de maio no estado. O lançamento do livro em Passo Fundo será no próximo dia 05 de maio, no Auditório da Academia Passo-Fundense de Letras (APL).
Autora: Roseméri Lorenz. Também escreveu e publicou no site o texto “Decepção pronominal”: https://www.neipies.com/decepcao-pronominal/
Edição: A. R.