Michael Pedrotti é um jovem que entrou no mundo da arte ainda bem menino. Levado por seu pai a um curso de teclado, quando desejava muito brincar e jogar bola, foi descobrindo a música como essência de sua realização.
Nasceu em Ernestina, uma pequena cidade ao norte do RS, bem pertinho de Passo Fundo. Começou, como a maioria dos artistas, tocando em pequenos eventos de escola e da comunidade em que vivia.
Pedrotti já fez experiências com algumas bandas, umas mais caseiras, outras mais profissionais, sempre fazendo o que mais gostava: tocar. No retorno à terra natal, passou a cursar Música, na UPF (Universidade de Passo Fundo). Desde então, vem se engajando em bandas e projetos educacionais que envolvem a música, ou a musicalização.
Conheçamos Michael Pedrotti, por ele mesmo.
***
SITE NEIPIES: Como e quando descobriste a vontade de fazer música e viver dela?
Michael Pedrotti: Na minha casa sempre se ouviu muita música, sem se prender a estilos ou a clássicos, mas sim totalmente influenciados pelas músicas que na época tocavam nas rádios.
Fui me interessar profundamente pela música, quando conheci os instrumentos musicais. Tínhamos um pequeno teclado em casa, e meu pai, apesar de não saber tocar, estava sempre brincando com o instrumento, e isso inconscientemente, me despertou interesse em aprender a tocar. Quando eu tinha 11 anos meu pai me levou a uma aula de teclado. Fui, mas muito contrariado, pois como a maioria das crianças dessa idade, queria jogar bola, brincar de outras coisas. Mas a partir da segunda aula de teclado, tomei gosto. Logo contava os dias para a próxima. A partir daí me despertou interesse por outros instrumentos também.
Mas até aí não tinha pensado em viver disso.
Muito tempo depois, já com 15 anos de idade, montei minha primeira banda com a ajuda dos amigos. Ensaiávamos muito e logo começamos fazer pequenas apresentações na cidade e, com isso, começaram a vir os primeiros cachês.
Como morava em uma cidade pequena, Ernestina, eram raras as apresentações, então decidimos procurar uma cidade maior. Logo após me formar no segundo grau, fomos para litoral catarinense.
Passamos por um momento difícil, de aceitação. Mas depois de muita insistência, conseguimos entrar no circuito de bares noturnos acumulando muitas apresentações. Além de tocar na noite, comecei a dar aulas de violão, e isso me deu um suporte financeiro ainda maior, percebendo assim que se mergulhasse de vez nesse mundo poderia viver disso.
SITE NEIPIES: Tiveste interessantes experiências com Bandas de Rock. Qual foi e qual ainda é o maior desafio para um grupo de adolescentes ou jovens que quer fazer boa música?
Michael Pedrotti: Primeiro grande desafio é tocar um instrumento musical de forma satisfatória, buscando não apenas o conhecimento teórico mas prático, mantendo sempre contato e troca de experiências com outros músicos, almejando sempre sua própria sonoridade.
SITE NEIPIES: A partir de qual momento passaste a perceber o teu potencial de voz e violão?
Michael Pedrotti: Quando estava aprendendo a tocar violão e guitarra montei minha primeira banda com a ajuda de amigos. Como não tínhamos vocalista comecei a me arriscar nos vocais durante os ensaios, mas claro que provisoriamente, pois achávamos que encontraríamos um vocalista num curto espaço de tempo, mas isso não aconteceu, e o provisório perdurou. Logo percebi que se me dedicasse poderia assumir definitivamente esse posto na banda além da guitarra.
Quando chegamos no litoral catarinense(Banda) nos deparamos com a difícil realidade de conseguir lugares para tocar, pois poucos bares e casas noturnas tinham espaço para bandas. E me chamou atenção que a maioria desses bares adotavam a prática de músicos solos (voz e violão). Como estava difícil nossa situação financeira como banda pela escassez de shows, surgiu a ideia de eu tentar esse novo formato de apresentação (voz e violão) para que conseguíssemos nos manter financeiramente até entrar no circuito com a banda.
Dessa forma fui apresentado a esse novo formato de apresentação, no qual tomei gosto e faço até hoje.
SITE NEIPIES: Qual foi a importância do Curso de Bacharelado em violão na consolidação de tua formação como músico?
Michael Pedrotti: O primeiro método de violão que estudei foi “os amigos”. Catando uma informação aqui, outra ali, fui montando meu conhecimento no violão. Só mais tarde fui ter aulas com professores e me aprofundar mais no conhecimento teórico e técnico.
A troca de informações e a experiência de tocar com outros músicos me acrescentaram um conhecimento e uma bagagem musical imensa.
Mas num determinado momento senti a necessidade de estudar algo novo, expandir meus conhecimentos no instrumento. A ocasião me trouxe pro Rio Grande do Sul novamente e descobri o curso de Bacharelado em violão da UPF, onde me matriculei.
Foi uma experiência incrível, pois minha formação até o momento era extremamente popular e o violão erudito me acrescentou muito em termos técnicos e disciplinares. E essa ligação do mundo erudito com o popular me fez crescer imensamente como músico.
SITE NEIPIES: Conte-nos como foi tua primeira experiência unindo educação e música?
Michael Pedrotti: Minha primeira experiência foi extremamente prazerosa mas também um pouco curiosa. Comecei a estudar licenciatura em música atrás de novos conhecimentos, mas logo vi que esse curso não era o que eu estava esperando no momento, pois não conseguia me imaginar dentro de uma sala ministrando aulas e acabei trocando o curso e me matriculando em bacharelado em violão.
Num certo dia recebi a ligação de um amigo de um amigo, falando que tinha uma vaga numa determinada escola para professor de musicalização infantil, mas era preciso começar imediatamente. No primeiro momento me assustei com a situação, pois nem licenciatura estava estudando. Primeiramente me opus a proposta mas depois de muita conversa e insistência aceitei o desafio.
O primeiro dia foi um pouco tenso pois minha inexperiência estava a mostra. Para aumentar minha ansiedade descobri que no mesmo dia eu teria aula com várias turmas, sendo do pré até o quinto ano e essa disparidade de idade entre os alunos me assustou ainda mais, por exigir diferentes abordagens de ensino.
Mas toda essa ansiedade e preocupação se acabou quando entrei na sala de aula, onde nessa primeira experiência, levando apenas meu violão consegui me adaptar muito bem, e essa troca com os alunos me atraiu imensamente, fazendo me apaixonar instantaneamente por essa prática tão maravilhosa que é a docência.
Após isso, voltei a estudar licenciatura em música na qual sou formado pela UPF, e até hoje trabalho com musicalização infantil.
Fotos: Divulgação/arquivo pessoal
SITE NEIPIES: Voltando à tua terra natal, hoje te realiza poder usar teu talento e tuas experiências de música e arte através da musicalização. Qual é a importância da musicalização na formação integral de uma criança ou adolescente?
Michael Pedrotti: Já faz alguns anos que moro em Passo Fundo, porém sou de uma pequena cidade do norte do estado chamada Ernestina.
Trabalhei e trabalho com musicalização infantil em diversas cidades da região, porém só nesse ano de 2020 essa pratica foi adotada nas escolas municipais de Ernestina. Por ser uma cidade vizinha a Passo Fundo e por eu ter um grande vínculo com esse município resolvi fazer o processo seletivo no qual consegui a vaga.
Está sendo um momento especial pra mim, pois depois de um longo período longe da cidade, estudando, trabalhando, enfim, crescendo como músico, professor, pessoa, poder voltar trazendo toda essa bagagem comigo e poder trabalhar com musicalização com as crianças é fantástico. Outro ponto importante que torna esse momento especial é o fato de que sou o primeiro professor de musicalização da cidade, pois essa pratica só foi aderida nesse ano. Então depois de ter saído da cidade atrás de meu sonho de viver dessa arte (música) onde muitas pessoas na época desacreditavam, voltar como professor me traz uma satisfação imensa.
O ensino de musicalização nas escolas é de suma importância para o desenvolvimento da criança, pois além do conhecimento técnico, prático e teórico, há muitos outros benefícios que já nos foram apresentados em estudos importantes. Mas em meu ver, um dos aspectos mais importantes nesse desenvolvimento da criança através das aulas de musicalização infantil, é o companheirismo, o precisar do outro, o respeito ao próximo, o compartilhar, a paciência, a união, a importância do outro. Isso tudo está inserido nas aulas de musicalização, onde todos esses aspectos são trabalhados de forma conjunta. Esses benefícios para o desenvolver da criança pode ser percebido a curto prazo, na própria escola, em casa, enfim, se reflete na sociedade.
SITE NEIPIES: Qual é o papel que a música e a arte podem desempenhar para a gente levar uma vida mais leve, livre e solta, ainda mais em tempos de pandemia e isolamento social?
Michael Pedrotti: Tem um papel fundamental, pois a arte tem o poder de despertar sentimentos diversos nas pessoas, e ainda através dela conseguimos entender, captar, o que está se passando no momento atual, além de conseguir reviver momentos, através das lembranças que uma música por exemplo pode despertar, sentir cheiros, sabores, enfim, a arte nos leva por um passeio por diferentes lugares, muitos desses ainda não visitados por nós. E esse entendimento que a arte nos proporciona nos faz enfrentar os dias atuais com mais serenidade.
SITE NEIPIES: Como avalias a vida dos artistas e dos músicos, neste período em que eventos públicos estão proibidos?
Michael Pedrotti: Os artistas nunca tiveram um vida fácil, mas nesse momento se agravou os problemas já existentes e também vieram à tona outros que ainda estamos aprendendo a resolver.
Mas como a maioria das pessoas, nós artistas, estamos tendo que viver com essa difícil realidade e tendo que se reinventar. Estamos procurando opções e maneiras de levar nossa arte até as pessoas, pois o artista vive de aplausos, vive do despertar de sonhos nas pessoas, então além da necessidade financeira temos a necessidade desse contato com o público. Com isso cada um vai encontrando maneiras diversas de manter esse contato mesmo à distância, e a internet está sendo um aliado muito importante nessa ligação artista-público.
SITE NEIPIES: Na tua visão, por que ainda não implantamos no Brasil a disciplina ou o Conhecimento de Música nas escolas?
Michael Pedrotti: A arte no Brasil sempre foi marginalizada, sempre tratada ou pensada como algo não essencial na nossa sociedade, quando comparada com outras áreas de atuação mais diretas.
Apesar dessa ideia estar impregnada em nossa sociedade, o ensino de música nas escolas está começando a se desenvolver, caminhando a passos lentos é claro, mas está caminhando. Pois esse assunto era pouco falado a um tempo atrás e hoje muitas escolas dessa região já aderiram e estão aderindo o ensino de música na educação infantil, principalmente as escolas municipais.
Os municípios e as escolas que aderiram essa prática de ensino mantém ela, pois os benefícios que ela traz se reflete a curto prazo na comunidade.
Posso usar como exemplo minha cidade natal Ernestina, que nunca tinha se pensado em aulas de musicalização infantil e nesse ano de 2020 foi implantado o ensino em todas as escolas municipais da cidade.
SITE NEIPIES: Fale-nos também dos teus projetos atuais e aqueles que projetas para o futuro.
Michael Pedrotti: Iniciei 2020 com muitas ideias que seriam postas em prática durante esse ano, entre elas estavam o “Grupo de percussão Bahtuca” da cidade de Barão de Cotegipe, Grupo de música da Escola Herculino Baldissarela da cidade de Ronda Alta, iria assumir como professor de música no Cras em Ernestina.
Iniciamos um grupo de violão também na cidade de Ernestina, grupo esse que já tinha aproximadamente 20 integrantes de diversas idades, além de estar planejando mais uma viagem pela américa latina levando a música brasileira e pesquisando a cultura de outros países, e também produzindo músicas autorais visando diversos festivais desse segmento. Mas a grande maioria desses projetos foram interrompidos pelo fato de sermos atingidos por essa pandemia.
As aulas de musicalização infantil de Ernestina foram mantidas, a distância, de maneira on-line, e nesse momento estou focando minhas ideias, minhas energias, meu comprometimento com essa nova maneira de ministrar aulas, pelo fato de ser algo novo não só para os alunos mas para os professores, exigindo todo um planejamento diferenciado, novas técnicas de ensino, para que os alunos sejam atingidos de uma maneira satisfatória com o conhecimento de musicalização.
Estou esperançoso que esse momento difícil de pandemia acabe logo, para poder colocar em prática todos esses projetos novamente, e muitos outros que estão por vir.
Durante esse período de isolamento social, também estou desenvolvendo novos projetos, direcionados a musicalização infantil, como meu 2º disco de músicas infantis, além de um projeto de contação de histórias onde a música e os instrumentos musicais serão o fio condutor.
Também estou aproveitando esse período para compor.
Estou participando de um projeto de Lives solidárias com a banda Diletantes, onde uma vez por mês nos reunimos para levar nossa arte até a casa das pessoas.
Estou também aproveitando esse momento para colocar os estudos em dia me preparando ao máximo para que quando essa pandemia passar poder voltar com força total para a vida de professor e artista.