Precisamos falar das desigualdades e reconhecer que existem privilégios,
injustiças e oportunidades desiguais para as pessoas no Brasil.
Sou uma mistura de sorte, oportunidades agarradas,
contexto favorável e algum nível de dedicação.
Isso não pode ser generalizado…
O caminho mais fácil agora, seria defender que a conquista do meu doutorado, por exemplo, é resultado de mérito pessoal e familiar, mas não! Não!
Não compartilho com pensamento simplificador apenas para ganhar os louros das conquistas.
Em primeiro lugar, sou branco em um país altamente racista. Sou homem em um país altamente machista.
Terminei minha faculdade em um contexto de amplo expansão do Ensino Superior e a Pós-graduação no Brasil.
Tive acesso também à bolsa de mestrado (CNPQ), que o governo atual tem cortado de todos os lados, isso permitiu me dedicar a atividade de pesquisa durante dois anos, em caráter exclusivo. Sem ela, não teria conseguido amadurecer intelectualmente e me projetado com sucesso para o Doutorado.
Sou filho de professora de Artes do Município de Porto Alegre (mestre na sua área), que pôde me aconselhar e dialogar comigo em casa sobre muitos teóricos e indicando livros que utilizei (ter alguém para dialogar sobre teorias, em casa, já imaginou?). Minha família sempre me apoiou, falavam do quanto se orgulhavam (reconhecimento das pessoas que te amam, faz toda a diferença).
Vivo no Brasil, falar de mérito individual é tão hipócrita e individualista, que beira a falta de noção. O Brasil é um país muito injusto, sem reconhecer os privilégios que alguns estão cercados, te faz um ser menos humano.
Tive esforço sim, algum nível de esforço individual, claro que abri mão de muitos momentos de diversão e tranquilidade. Mas precisamos falar das desigualdades e reconhecer que existem privilégios, injustiças e oportunidades desiguais para as pessoas no Brasil. E eu sou uma mistura de sorte, oportunidades agarradas, contexto favorável e algum nível de dedicação. Isso não pode ser generalizado…
Enfim, antes de me acomodar com essa e outras conquistas, tenho o dever humano de lutar para que o máximo de pessoas possíveis tenha chances iguais às minhas de crescer profissionalmente, intelectualmente e como um ser.