Indiscutivelmente o ser humano é um sobrevivente. Disso não tenho dúvidas. Mas transpondo este cenário vivido em escala macro para o ambiente de sala de aula, como o homem (espécie) tem sobrevivido como aluno? É claro que ele não deixa de ser humano quando adentra uma sala de aula, mas o que queremos afirmar é que esse espaço demanda outras formas de conduta e de ação com especificidades e características próprias. A criança/adolescente/jovem se transforma em aluno, com linguagem e posturas particulares, algumas adquiridas no exercício de “ser aluno”, como estratégias necessárias para sobreviver e não ter de abandonar, ou de lá ser banido, por não conseguir assimilar as regras e leis daquele espaço.
Das possíveis medidas experimentadas no curso de uma trajetória acadêmica quero falar de algumas adotadas em um momento específico: a hora da prova. Como se portam ou comportam-se os alunos durante o período de aplicação de uma prova? As atitudes variam: cabeça baixa procurando lembrar tudo que foi estudado para conseguir a melhor nota possível e fugir do exame, da recuperação ou até da reprovação; olhar vago procurando alguma resposta que possa vir do além, quem sabe uma inspiração divina nessa hora? Nada mau; folhar a prova, ler as questões, talvez, por acaso, alguma resposta pode estar no enunciado de alguma outra; fazer “caretas” para mostrar ao professor que aquela questão foi estudada e a resposta virá à memória a um tempo oportuno; demonstrar tiques nervosos como passar a mão sobre os cabelos, esfregar o rosto, coçar as bochechas, fazer trejeitos com a boca…
Enfim, poderia descrever uma variedade de outras práticas presenciadas durante a realização da temida prova, mas quero ater-me às estratégias adotadas quando o estudante não estuda, quando não sabe o que responder, busca a ajuda de um companheiro ou de mecanismos não autorizados e “ilícitos” para sobreviver à sala de aula. O desespero daquele momento obriga, pouco importa se é arriscado ou pode ser pego com a “boca na botija”.
Em outros tempos os recursos eram menos sofisticados e com menor aparato tecnológico. Hoje, aqueles comportamentos tradicionais de pedir uma resposta ou passar uma informação(enquanto o professor distrai-se ou vira-se para atender a um colega), fazer a “famosa” cola (denominada também de resumo estratégico para horas inesperadas), cochichar com o colega ao lado, “escrever” na mão ou na classe, passar bilhete, fazer de conta que está lendo a prova com ela bem levantada para o outro aluno ver as respostas, cederam lugar a outros mecanismos carregados de potencialidade tecnológica, verdadeira estratégia de guerra.
O senso comum tomou conta da escola e da universidade, aboliu uma das verdades fundamentais: conhecer exige trabalho, estudo e dedicação, o que para muitos, não se constitui mais tarefa do aluno.
Como a tecnologia demorou a chegar à sala de aula, trazida pelo professor, os estudantes introduziram-na de maneira rápida e efetiva com outras finalidades, menos nobres do que o ato de aprender. Ela passou a ser a inseparável estratégia de sobrevivência nas horas das provas. Aquilo que sempre se profetizou a respeito das tecnologias naquele momento torna-se a pura realidade: socialização do conhecimento, espírito de equipe, trabalho coletivo, divisão de tarefas para cumprir um objetivo, solidariedade, ideias inovadoras.
O lamento a respeito de tudo isso é que não possui finalidade educativa, nem se constitui em oportunidade de aprendizagem. Serve única e exclusivamente para sobreviver àquele momento, depois disso segue-se o curso “normal” sem transpor tudo isso para a vida cotidiana como verdadeiro aprendizado. Usa-se para encobrir a mais triste das realidades: a crença de que se pode ter competência sem conhecimento. O senso comum tomou conta da escola e da universidade, aboliu uma das verdades fundamentais: conhecer exige trabalho, estudo e dedicação, o que para muitos, não se constitui mais tarefa do aluno.
O senso comum tomou conta da escola e da universidade, aboliu uma das verdades fundamentais: conhecer exige trabalho, estudo e dedicação, o que para muitos, não se constitui mais tarefa do aluno.