Não foram as águas

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Talvez em algum outro horizonte possamos ainda semear o arco-íris, na infinita complacência da paz de uma criança.

Não foram as águas que me entristeceram…

Mas teu olhar, pálido como um dia de outono

prazeroso em demorar-se….

Não são as coisas que se dão fim.

Somos nós que damos fins a elas.

No jogo de arrancar

o coração um do outro,

perfuramos nossos olhos.

Ouvimos a música do horizonte e,

na verdade, era uma música triste, fria, distante,

porque nem nossos olhos,

nem nossos ouvidos,

estavam afinados com o arco-íris.

Sobe agora em meu barco,

como uma criança pequenina

e inocente,

e me deixa levá-la

para além da montanha onde o Sol desaba…

Talvez em algum outro horizonte

possamos ainda

semear o arco-íris,

na infinita complacência

da paz de uma criança.

Não me fiz surdo para o trompete

que anuncia o fim do mundo.

Não ignorei os corações afogados.

Com o mal, porém, é sempre assim: quanto mais lhe damos atenção,

mais ele cresce,

como erva daninha,

e toma e afoga nossos jardins.

Vem comigo para o outro lado da montanha,

ainda que tenhamos, primeiro, que subi-la.

Do lado de lá há um lindo e calmo córrego,

no qual lavaremos a face,

no qual nos banharemos nus,

e nos livraremos da lama que nos cobre.

Nus, poderemos, então,

olhar nos olhos um do outro,

e tomaremos um ao outro como espelho

da nossa própria alma.

Entre o teu olhar e o meu

o Sol, retornando, há de plantar o arco-íris.

Autor: Aleixo da Rosa. Também escreveu e publicou crônica “Professores não sabem nada”: https://www.neipies.com/professores-nao-sabem-nada/

Professor de filosofia e escritor Siga nas redes sociais: https://www.facebook.com/aleixoescritor?mibextid=ZbWKwL https://instagram.com/aleixoescritor?utm_source=qr&igshid=MzNlNGNkZWQ4Mg%3D%3D E-mail: aleixodarosa@gmail.com

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