Não temos uma geração mimimi, mas uma geração incompreendida

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Não cobremos demais das nossas crianças e jovens. Tudo tem um limite. Essa geração que nos acostumamos a chamar de mimimi é a que está se suicidando todos os dias, a que está matando pais e responsáveis porque não suporta mais as cobranças de um mundo que elas não pediram para viver nele. Um mundo que não perdoa erros e defeitos.

“Quando somos jovens, temos manhãs triunfantes.”, frase do escritor francês da obra prima “Os Miseráveis”. Sim, quando jovens temos manhãs triunfantes porque estamos cheios de sonhos e vontades de conquistar o mundo, achamos que podemos tudo, achamos que vamos salvar o meio ambiente do perigoso homem malvado que derruba árvores e destrói tudo. Fazemos manifestações em praças e nas ruas por melhorias nas nossas escolas públicas, pelo transporte escolar e pela merenda. Temos forças para lutar pelos nossos sonhos até que alguém chegue e nos roube os sonhos e o amanhã, o que está cada dia mais rotineiro.

Costumamos dizer que os nossos jovens vêm de uma geração mimimi, que, devido a falta de pulso firme dos pais e responsáveis eles acham que podem tudo. Quem pensa assim está completamente enganado e errado. Não estamos criando uma geração mimimi porque não castigamos as nossas crianças e jovens ou porque não as batemos mais com cinturões ou chinelos, como faziam os nossos pais antigamente.

A geração que nasceu no século XXI está completamente perdida. Ela não sabe para onde ir ou o que é melhor para si. São tantas as oportunidades, tantas as escolhas a serem feitas, tantas as responsabilidades logo cedo, muitas vezes ainda crianças, que elas acabam prejudicadas e tendo os seus desenvolvimentos cognitivos e emocionais sobrecarregados e como válvula de escape acabam fazendo coisas que os adultos não gostam.

A tecnologia batendo a toda hora na porta das nossas crianças e jovens com aparelhos eletrônicos modernos capazes de se conectarem com o mundo em milésimos de segundos, as redes sociais, os jogos eletrônicos e os amigos virtuais que eles conquistam no meio de todos esses algoritmos e inteligência artificial especialmente preparada para lidar com os cérebros ainda em formação, são um perigo para formarmos crianças e jovens que por tudo fazem uma confusão no supermercado ou no shopping envergonhando pais e responsáveis.

Não é porque eles querem fazer a birra ou por falta de palmadas, é porque eles não sabem como se comportar. As suas cabecinhas estão sobrecarregadas de informações desnecessárias. É a escola que tem disciplinas demais e exige da criança e do jovem que seja o melhor em todas elas, é o futebol ou a natação que exige que ele vença sempre, é o curso de idiomas ou de música que exige o melhor do aluno.

São muitas as cobranças. São diversas as exigências. Não há quem não se estresse com tantas coisas ao mesmo tempo.

Para se protegerem de tantas cobranças que nós, adultos, sem nos darmos conta preparamos para os nossos filhos matriculando eles em tudo quanto é curso que vemos ou nos informam a Internet, cobrando que eles tirem nota 1000 no ENEM e que sejam aprovados nos cursos de medicina ou direito das melhores universidades do país, esses reagem ao contrário do que esperávamos só para nos contrariar, só para nos afirmarem que as coisas não funcionam como queremos, que eles têm autonomia mesmo sendo tão jovens para decidirem sobre as suas vidas.

Assim, eles passam a ter comportamentos rebeldes. Coisas que muito desagrada os pais. Muitos começam a beberem bebidas alcóolicas muito jovens, outros começam a usar drogas cedo demais e ainda têm aqueles que abandonam os estudos e vão viver pelas ruas sem quererem saber de responsabilidades. Sem contar com o que dorme demais e perde a hora de ir à escola.

O maior de todos esses problemas são as diversas síndromes que estão acometendo as nossas crianças e jovens devido não saberem lidar com este mundo de cobranças que seus próprios pais os colocaram: ansiedade, crises de pânico, depressão, estresse ao limite. São tantas as síndromes que listo apenas as mais comuns. Isso é um pedido de ajuda, de socorro. Uma forma que as crianças e jovens encontram para dizerem que não aguentam mais essa vida doida e doída ao mesmo tempo.

Se para nós, adultos, as diversas cobranças do dia a dia no trabalho nos atormentam, imagine para crianças e jovens que só querem saber de brincar e se divertirem com os amigos. Como eles vão ter tempo para fazerem o que gostam se nós roubamos tudo o que lhes pertencem, fazendo deles nossas máquinas controladas por uma espécie de controle remoto que são as nossas ordens de faça isso e faça aquilo rápido.

A pressa que toma conta de nós, adultos, estamos levando para o mundo dos jovens. Queremos que eles pensem rapidamente e tomem decisões de imediato. Não lhes damos tempo para fazer escolhas.

Eles recebem as nossas ordens com medo de enfrentarem o futuro e desde cedo precisam ser responsáveis em muitas coisas que lhes desagradam, como: ter que escolher uma profissão, ter que se preparar para morar sozinho quando chegar a maior idade, ter que se tornar independente o mais rápido possível para não ser chamado de filho canguru ou coisa parecida. Para quem não sabe, filho canguru é aquele que chega aos vinte ou trinta anos e continua na casa dos pais.

Será que o mimimi não está sendo nosso? Será que não somos nós que estamos criando para os nossos filhos tantos mimimis que nem percebemos o mal que estamos lhes fazendo com as diversas cobranças e exigências para um mundo que cada vez mais recebe crianças e jovens vulneráveis nas suas emoções e se aproveitam deles para os viciarem em drogas ou coisa parecida?

Não é porque não batemos ou castigamos os nossos filhos como faziam antigamente conosco ou porque não lhes dizemos não a todo instante que eles estão se tornando rebeldes e se revoltando contra nós, adultos, pais, responsáveis, avós e professores.

A geração do mimimi que tanto costumamos chamá-la está dentro de um mundo que não aceita mais crianças e jovens que não sejam competitivos. O mundo tornou-se uma competição para os nossos filhos.

Os mais vulneráveis emocionalmente, aqueles que não têm com quem conversar sobre as suas aflições, medos, angústias e traumas, os que são acometidos por crises de ansiedade e estresse ao extremo tendem a cometerem atos de violência muitas vezes horríveis. Não foi falta de castigo ou palmada, não foi falta de pulso firme dos pais, não foi falta do que fazer, e sim, a bolha onde aquela criança ou jovem se protegia inchou tanto que chegou a explodir porque sozinha ela não deu conta de cumprir com os seus diversos deveres e obrigações desagradáveis ao seu bom viver.

Precisamos urgentemente buscar soluções para criarmos crianças e jovens que possam viver sem a pressa de crescerem, sem os deveres e responsabilidades que devem ser nossos, que possam ter respeitadas cada fase das suas vidas como assim nos ensina a psicologia infantil.

Não cobremos demais das nossas crianças e jovens. Tudo tem um limite. Essa geração que nos acostumamos a chamar de mimimi é a que está se suicidando todos os dias, a que está matando pais e responsáveis porque não suporta mais as cobranças de um mundo que elas não pediram para viver nele. Um mundo que não perdoa erros e defeitos.

As crianças e jovens muitas vezes já nascem com problemas genéticos de depressão, outras adquirem ansiedades ao longo dos anos e ainda têm aquelas que são as mais perigosas para a sociedade que são as que cometem crimes coletivos, as que logo cedo estão a roubarem bancos e a virarem traficantes.

É certo que muitas são vítimas das desigualdades sociais pelas quais o nosso país vive há dezenas de anos, outras caem no mundo das drogas porque não tiveram escolhas e acharam um caminho fácil para saírem da casa dos pais e abandonarem as suas obrigações. Isso não é mimimi, e sim falta de amor e compreensão das nossas partes.

Precisamos salvar os nossos filhos urgentemente dos mundos dos crimes, das guerras dos tráficos e das violências antes que um traficante ou assassino os resgatem primeiro do que nós. As nossas crianças e jovens precisam serem compreendidas.

Não é no primeiro deslize, no primeiro flagra com o cigarro de maconha ou com a bebida alcóolica que vamos castigá-los ou ameaçá-los das mais diversas formas cruéis que só nós adultos somos capazes de inventar nas nossas cabeças, parece que muitas vezes viramos monstros quando nos aborrecemos com as nossas crianças e jovens querendo engoli-las vivas de tanta raiva e decepção que vivemos com elas. Calma, não imitemos Cronos!

Porém, não é assim que se educa uma criança ou um jovem. É preciso cuidado. O mundo de hoje exige que os pais estejam o tempo todo próximos dos seus filhos, o que não acontece na verdade. Ao contrário, estamos cada vez mais distantes. Não temos sequer tempo para comparecer às reuniões da escola e enviamos o motorista ou a babá. Quando somos mais pobres mandamos um bilhete na agenda do aluno dizendo que estamos ocupados demais com os nossos trabalhos.

Não comparecemos mais as suas apresentações teatrais, esportivas e não estamos mais presentes nas suas conquistas. Não valorizamos mais as coisas belas que eles fazem com maquetes para a feira de ciências ou a escrita de um poema para a menininha por quem estão apaixonados.

Não ajudamos mais as nossas crianças e jovens a crescerem de forma espontânea e necessária para o bem viver com harmonia e autonomia para se tornarem pessoas competitivas em todas as esferas da sociedade.

Enquanto cobramos demais das nossas crianças e jovens, o mundo lá fora oferece oportunidades maravilhosas. E não é um mundo que esteja longe deles não. É o mundo da Internet que está ali pertinho, a todo instante fazendo promessas de uma vida sem responsabilidades e cobranças. Um mundo onde depois de entrar é quase impossível de sair. O mundo do crime. Seja ela qual for.

Na verdade, a geração dita de mimimi só quer ser respeitada e aceita conforme se sente bem e sentir-se bem é ter seus direitos válidos por todos nós. É o direito de poder dormir até tarde nos fins de semana, de ficar na Internet conversando com os amigos, de ter a confiança de ir para a balada e ficar até mais tarde um pouco, de poder sair sem ser necessário de acompanhamento dos pais. Eles querem autonomia e precisamos confiar neles para que possam fazer o mínimo que exigimos.

Claro que não vamos deixar os nossos filhos passarem a noite inteira numa balada ou saírem para com amigos que nunca os vimos. Não é por aí. Tudo tem limites. Mas, se conhecemos bem os nossos filhos e estamos sempre perto deles observando com quem fazem amizades e com quem se relacionam não há o que temermos.

A geração mimimi só quer de nós um pouco de liberdade, respirar fora dos muros dos condomínios altos onde os protegemos, sair de dentro dos nossos carros com vidros elétricos.

Antes de acharmos que estamos criando jovens cheios de vontades e desejos, de acusarmos o filho do vizinho de fazer o que quer, antes de dizermos que esta geração faz tudo o que bem quer porque não é castigada e tem muitos direitos, pensemos no amor e na compreensão que toda pessoa deseja ter. Também é assim com as crianças e os jovens. Todo mundo precisa de atenção e cuidados especiais, principalmente quando estamos numa idade em que tudo é difícil de escolher e novo para gente.

Afinal, o novo ao mesmo tempo que assusta e causa pânico, também nos inspira a conhecê-lo e investigá-lo. Este novo é perigoso para as nossas crianças e jovens que podem se sentirem convidadas a explorá-lo apenas por curiosidade e depois por vício e necessidade para continuar a viver sob a ameaça de bandidos fortemente perigosos.

É preciso cuidar dessa geração que tem tudo a sua disposição a hora que desejar. Que como dizemos não sabe aceitar um não. Não é assim. Sabemos que uma das primeiras palavras que as nossas crianças aprendem é o não. E se elas aprendem que o não é uma negação, é algo que não se pode fazer, basta continuarmos do nosso jeito, com cuidados dizendo não para os nossos jovens.

Tudo é uma questão de bom senso e criticidade. A reflexão nos convida a criarmos uma geração com mentes e corpos sadios prontos para a competitividade de um mudo que exige cada vez mais pessoas com inteligência emocional de alto nível.

Para concluir este texto que eu gostaria de não o concluir, mas de poder conversar com você, leitor, nas redes sociais ou através de email sobre a sua opinião dessa geração “perdida” e que precisa ser salva dos perigos da globalização e da massificação das culturas onde tudo está misturado e se tornando uma coisa só, impossível de se separar.

A Internet está colonizando o pensamento das nossas crianças e jovens, e como todos sabemos o colonizador é opressor e quer a terra toda para si. Cuidemos disso!

Deixo vocês como os versos do meu cantor predileto Roberto Carlos que diz “Hoje lembro com saudade o tempo que ficou / O tempo passa tão depressa só que em mim ficou / Jovens tardes de domingo, tantas alegrias / Velhos tempos, velhos dias.”

Que as nossas crianças e jovens possam ser como as tardes de domingo de Roberto Carlos, ou seja, com tantas alegrias e tantos sonhos para crescerem cheios de esperança no amanhã.

Autora: Rosângela Trajano

Edição: Alex Rosset

1 COMENTÁRIO

  1. Kkkkk quanta abobrinha. Crianças, adolescentes,
    e jovens não tem experiência de vida nenhuma, logo, num debate de ideias a opinião destes não tem muito valor. Mas, pelo contrário, estes acham que sabem de tudo, recebem informações de má qualidade, prontas e acreditam ser os portadores do conhecimento, mas na verdade não passam de massa de manobra. Foram fragilmente forjados por programação preditiva.

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