Não zombe de quem reza

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As armas e estratégias de pressão pela paz parece não instigarem a força soberba dos exércitos. Eles já ingressaram conhecendo o terror das bombas. Mas não conhecem a profunda força do sentimento humano e da oração de todos os credos. Por favor, não zombem de quem reza!

Parece-nos impossível a todo o ser humano imaginar que a guerra seja inofensiva ou que se enquadre num espectro virtual. As comunicações céleres e visíveis em detalhes sobre os confrontos em vários pontos do mundo mostram que a violência esmaga o ser humano.

Acredita-se que o as atrocidades cometidas contra povos pobres, miseráveis, ou ricos fere a essência da humanidade. A consciência dos homens, ainda que não mostre comoção aparente, vem recebendo a carga de sentimento pelo direito de viver.

Se a ninguém é negado o sagrado direito de existir, viver em paz é sua primeira consequência inarredável. Desde que se tem notícia da existência de seres humanos sobre a terra, mesmo nos moldes tribais mais remotos, a disputa pela vida digna tem estabelecido convenções para conviver.

Os animais irracionais guardam a genética deste equilíbrio, como vemos na natureza.

Entre os humanos, os tratados e toda a forma de diálogo é o meio de evitar a autodestruição. Então é o diálogo, espécie de poder anônimo que, ainda carente e afetado pelos desatinos de uma disputa absurda, consegue salvar o quanto possível.

Neste aspecto que se impõe a retomada da crença no ser criador para conter os seres destruidores. Fala-se na oração, que cada religião ou crença adotou desde os primórdios. Assim, vemos a dedicação do Papa Francisco e de tantas outras lideranças religiosas, insistindo e rogando pela paz.

No contexto de existência somos todos pecadores, mesmo que seja pela omissão. O Papa e tantos outros líderes de diferentes religiões, clamam angustiados pela paz que destrói vidas e obras materiais das pessoas. Este clamor em oração é o derradeiro brado de misericórdia que o cidadão insere como bandeira de luta.

No momento, a guerra da Ucrânia expõe a atrocidade de tais confrontos. As armas e estratégias de pressão pela paz parece não instigarem a força soberba dos exércitos. Eles já ingressaram conhecendo o terror das bombas. Mas não conhecem a profunda força do sentimento humano e da oração de todos os credos. Por favor, não zombem de quem reza!

A Cruz

É difícil sabermos o quanto cada um crê nas revelações religiosas, nas escrituras sagradas e tradições místicas que nos atrevemos a interpretar do jeito que somos. E somos humanos.

São muitas as narrativas sobre existência da ação divina nos acontecimentos milenares do mundo em que vivemos. Nesta semana da Páscoa buscamos entender o comportamento humano na vida e morte de Cristo.

A forma como cada um entende a ligação com Deus envolve grande mistério íntimo. Mesmo entre os que escolhem negar a existência divina e qualquer relação existencial, há elo inerte que pode surgir a qualquer momento. Neste sentido a persistência da história de Jesus Cristo, que nasceu entre nós, viveu e morreu, é o relato mais sério que se conhece.

De qualquer forma, sabemos de muitos mártires políticos, guias sociais, orientadores, vidas inteiras dedicadas à justiça social, como Martin Luther King ou Mandela, que abdicaram das eventuais vantagens materiais para si e se entregaram de corpo e alma à paz social do semelhante.

Cristo, no horto das oliveiras prenunciava seu destino. Ia ser imolado pelas causas de justiça social, não aceitas pelo poder farisaico.

No domingo de Ramos, ao ser proclamado pela multidão de pessoas mais pobres, preferiu andar montado num jumento, sabendo que a modalidade era desfilar num cavalo triunfante. A mensagem concreta que Jesus transmitiu sobre sua missão de socorrer os mais humildes.

Após a última ceia, no lugar chamado Getsémani revelou sua angústia humana, na véspera da morte, mas persistiu na missão divina: “Tristis est ánima mea, usque ad mortem: sustinete hic. Vigilate mecum” (“Minha alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo”). E a mais angustiante expressão de um ser humano, foi Cristo que proclamou: “Eli,Eli, lamma sabactháni” (“ meu Deus, meu Deus! Por que me abandonaste”, em hebraico).

Ora, quem morre conscientemente pela causa alheia, mirando a salvação dos irmãos, é o maior motivo para uma reflexão, a qualquer momento da história. Ele morreu na cruz.

As mulheres, crianças, velhos, doentes e homens guerreiros, que morrem ou são lançados na dor da violência, reduzem-se a uma explicação genérica, de que a guerra sempre existiu. Esse é o sentimento que se pulveriza na consciência humana. Abandonamos a utopia da paz. Será? Leia mais: https://www.neipies.com/a-utopia-da-paz/

Autor: Celestino Meneghini

Edição: Alex Rosset

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