Cada pessoa tem memórias de Natais, tristes ou felizes, que nos marcam para sempre. Dentre as muitas festas de Natal inesquecíveis, está a que eu declamei o poema “Palavras a Papai Noel”, de Madalena Correia. A personagem da história era uma menina que perdoava o Papai Noel por ele não ter trazido presentes a ela, no dia 25.
Os natais em família sempre foram momentos de muita alegria na Família Hilário Brockstedt, em Soledade, RS.
No anos 70 e 80, a lista de encomendas de presentes para o Papai Noel começava a ser feita meses antes, assim como o comportamento das crianças melhorava, para se fazerem por merecê-los, já que a primeira pergunta do bom velhinho era, invariavelmente: – Você se comportou bem neste ano?
Em alguns natais o meu próprio pai Gilberto fazia as vezes de Papai Noel. Saía dizendo que ia chamá-lo e depois voltava lamentando que não tinha encontrado o bom velhinho, enquanto este tinha terminado de entregar os presentes e retomado suas andanças, poucos minutos antes.
Vez ou outra reuníamos a família mais ampla, incluindo avós, tios e primos. E, claro, não faltava música ao vivo, danças ensaiadas e apresentadas pelas primas e declamação de poemas.
Quando a família começou a crescer, com a chegada de genros, noras e netos, a alternativa foi mudar o sistema de presentear passando a utilizarmos a brincadeira do “amigo secreto”. Até hoje o momento de revelação rende divertidas tentativas de adivinhações, boas risadas e lindas homenagens.
Dentre as muitas festas de Natal inesquecíveis, está a que eu declamei o poema “Palavras a Papai Noel”, de Madalena Correia. A personagem da história contada em versos, era uma menina que perdoava o Papai Noel por ele não ter trazido presentes a ela, no dia 25.
Tentando entender o porquê, ela concluiu que não tinha tempo de brincar do lado de fora da casa, já que tinha que ajudar a mãe em todas as atividades do lar, bem como cuidar dos irmãos menores, sempre com seu vestidinho roído. Assim, disse ela, ao bom velhinho:
“Papai Noel eu já sei
Porque você não me vem
Nesse dia 25.
Você pensa que não brinco”.
Ao finalizar os versos, chorei copiosamente, já que eu imaginara que a menina teria mais ou menos a mesma idade que eu, em torno de sete anos o que gerou uma profunda empatia.
Conforme a criadora dos versos, a menina morava em uma esquina, assim como eu, e também gostava de usar tamanquinhos. Contudo, eu brincava muito na rua, e ganhava presentes no dia 25.
Até hoje, passados 50 anos, esta história me emociona muito e tenho a certeza que formou parte da pessoa que sou. Não carrego sentimentos de culpa, mas, sim, de empatia.
A cada Natal procuro minimizar a dor daqueles que não se sentem vistos pelo “Papai Noel”. Sei que não conseguirei resolver os problemas do mundo, mas em alguma esquina, alguma menina poderá brincar de boneca e peteca como almejava a grande pequena criança do poema. Quem sabe até com um vestido e um tamanquinho novo.
Autora: Marilise Brockstedt Lech, Psicóloga, Presidente da Academia Passo-Fundense de Letras. Autora da crônica “Onde mora a felicidade”: https://www.neipies.com/onde-mora-a-felicidade/
Edição: A. R.
Natal é o nascimento de Jesus Cristo deveríamos comemorar o aniversário dele e presentea-lo com oração mas ao invés disso esperamos ganhar presente e acreditar no Papai Noel. Mas o que vale são as lembranças.