Muitas situações cotidianas passaram a ser consideradas normais.
Mas será que são normais? Onde foi que nos perdemos?
Como iremos nos encontrar?
Normal. Segundo o dicionário, aquilo que é conforme a norma, regular, usual, que é comum, natural, aceitável.
Gostaria de saber quando foi que passamos a considerar normal que pessoas morassem na rua. Em que momento tornou-se usual ter medo de sair de casa, medo de voltar, medo de deixar nossos filhos caminhar sozinhos até a esquina?
A gente não devia, mas se acostuma (Marina Colassanti).
Desde quando é normal que crianças sejam maltratadas, mulheres agredidas, idosos abandonados?
Como foi que passamos a aceitar como natural que jovens andem sujos pelas ruas, mais mortos que vivos, sem rumo e sem perspectivas? Quando passou a ser comum tanta gente pedindo esmolas nas sinaleiras, tantas camas improvisadas pelas calçadas? Desde quando é natural que as pessoas gritem no trânsito, ofendam-se nas redes sociais, sejam violentas com colegas de escola ou de trabalho?
Como podemos considerar aceitável que pessoas próximas a nós espalhem fotos e vídeos íntimos de gente que nem conhecem, ou que conhecem bem demais? Como pode ser comum a indigência, a barbárie, a deterioração da vida humana, a desconsideração total com sentimentos e necessidades dos outros?
Como é possível que tenhamos sentimentos profundos de compaixão com pequenos animais e não consigamos ter empatia por seres iguais a nós, que cruzam nosso caminho todos os dias?
Podemos dizer que não é da nossa conta, que não fizemos mal a ninguém e não criamos essa situação. Mas não se trata da guerra na Síria, das crianças na África. São nossos vizinhos, são as pessoas que conhecemos, pessoas que nasceram no mesmo bairro, na mesma cidade, que compartilham conosco o espaço, a história, a realidade.
Como é possível conviver lado a lado com a miséria, com a violência, como se estivéssemos em outro mundo?
Está claro que não criamos essas situações, mas é impossível não sermos afetados por elas, mesmo que seja na forma de medo e tristeza. Enquanto culpamos o governo, os políticos, a crise, o capitalismo, ou alguma outra entidade abstrata da qual nos excluímos, seguimos adiante ignorando o que nos cerca. Onde foi que nos perdemos? Como iremos nos encontrar?
O que é ser normal?