Nada democrática a sociedade que não
tolera os pensamentos divergentes e que combate
as diferentes formas de organização social que
querem praticar e viver os ideais coletivos.
As ditaduras (políticas, de consumo, religiosas, de mercado) são as maiores inimigas das palavras. As palavras sempre traduzem conceitos, que nada mais são do que o nome das coisas. Por isto mesmo, as diferentes ditaduras são extremamente hábeis em reduzir o sentido e o significado das coisas que podemos pensar.
Só a democracia nos permite alargar os horizontes das ideias que estamos construindo na história. Somente ela é capaz de considerar as contradições dos pensamentos, para aperfeiçoá-los. Por conta disso, convivemos em permanente tensão entre aqueles que querem fazer das ideias exercício de liberdade e aqueles que gostariam de dizer aos outros “o que podem e devem pensar e fazer”.
Nossa democracia ainda precisa ser muito mais exercitada e experimentada, para ser apreendida.
Vivemos, por vezes, uma equivocada disputa entre ter posição e ser contra. As disputas, demasiadamente ideologizadas, não permitem que as palavras/conceitos se revelem em todos os aspectos, sob os mais diferentes pontos de vista.
Ser democrático não é ser dono da verdade. Significa estar aberto à construção do conhecimento, considerando as diferentes interpretações das coisas e dos fatos, num processo dialético de aprendizagem. A verdade surge no exercício do consenso, nem sempre fácil, mas sempre e absolutamente necessário.
Conquistamos liberdade de pensar, mas nossas ações ainda são, demasiadamente, obras de ideias dominantes. Temos a sensação de que nossas ideias pessoais nada resolvem; de que elas são fracas e impotentes.
Antes do sistema se tornar democrático, precisamos nós, sermos democráticos, no mais alto patamar da nossa responsabilidade humana, humanizando-nos ao bem comum! (Cristina Schnorr)
O mundo e as pessoas são movidos por ideias, sempre em disputa na sociedade. Isoladamente, nossas ideias perdem fôlego, não conseguem concretizar-se. Somente as ideias gestadas e praticadas coletivamente conseguem romper com a lógica ideológica dominante e conseguem traduzir-se em prática da vida cotidiana daqueles que resolvem assumir-se como sujeitos de seus conhecimentos e de sua história.
“Não existe uma verdade igual para todos. As leis, as regras, a cultura, tudo deve ser definido para um conjunto de pessoas; o que vale para um lugar pode não valer para outro”.(www.dsilvasfilho.com/index.htm)
Problema é que em ditaduras contemporâneas como as nossas não somos educados para a cooperação e a solidariedade. Prevalece a cultura hedonista (culto ao eu) que sempre reproduz o conceito dos vencedores. Aos vencedores, a glória. Aos vencidos, sentimentos de incompetência, revolta e impotência. Estes últimos geram tensões sociais e de convivência, desfavorecendo nossa condição de seres em relação.
A autonomia dos sujeitos é a maior concretização da democracia real e verdadeira. A luta por democracia invoca novas relações interpessoais, baseadas na interdependência e na reciprocidade.
Jean Piaget, ao estudar o juízo moral das crianças, nos ajuda a considerar que “a autonomia só aparece com a reciprocidade, quando o respeito mútuo é bastante forte, para que o indivíduo experimente interiormente a necessidade de tratar os outros como gostaria de ser tratado”.
Nada democrática a sociedade que não tolera os pensamentos divergentes e que combate as diferentes formas de organização social que querem praticar e viver os ideais coletivos.
Democracia está ameaçada no mundo.(Sociólogo Boaventura de Sousa Santos)
Democrática é a sociedade que permite aos homens e mulheres a realização de sua dignidade, preservando seus modos de ser, pensar e agir, individual e coletivamente.
Pratiquemos e aprendamos democracia, intensamente, com ousadia, sem nenhum culto às ditaduras.
As ditaduras nos reduzem; as democracias promovem a nossa dignidade e humanidade, expandem nosso conhecimento e aumentam as chances de maior felicidade.