O que a democracia não comporta não é a divergência radical,
mas violência sobre os adversários, transformados em inimigos.
Como lidar com períodos sombrios na história de um país? O Nazismo na Alemanha, o Fascismo na Itália, o Apharteid na África do Sul, as ditaduras no Chile, Argentina, Brasil. Uma maneira é procurar entende-los e nunca esquecê-los, os submetendo à análise criteriosa da história.
E quando as sombras novamente começam a se abater sobre um país? Aí é preciso, com rapidez combatê-las, à luz da razão com base nos valores democráticos. É o que precisamos fazer agora, com urgência, diante das ameaças do bolsonarismo às nossas mais caras instituições.
Depois de oito meses não restam dúvidas de que, se tiver oportunidade, Bolsonaro não hesitará em destruir o que restou da combalida democracia brasileira.
Estamos diante da emergência de discursos que se ajustam ao que Theodor Adorno chamou de “síndrome fascista”, cujo elemento dominante é o ódio segregativo. Este é o grande risco que a nossa democracia está correndo, segundo o psicanalista Christian Dunker, professor da USP.
Lentamente o sentimento de ódio se transferiu do PT para o comunismo, daí para o esquerdismo, gênero, ideologia e disso para qualquer conceito que contenha expressão “social”. Assim, é possível entender como alguns “especialistas em história”, consideram o Partido Nacional Socialista de Hitler, de esquerda. Uau!!
Na visão sectária do bolsonarismo, qualquer política de bem-estar social, qualquer iniciativa de redução de desigualdade, de reconhecimento da diversidade, de defesa de direitos humanos passa ser “coisa de comunista”.
Neste universo fica autorizado o ataque as liberdades intelectuais, artísticas, de imprensa etc.
Em Porto Alegre, a exposição Independência em Risco, promovida por cartunistas, foi cancelada porque a presidência da Câmara de Vereadores – local da mostra –, considerou os desenhos ofensivos, já que mostravam críticas ao governo Bolsonaro.
Um de meus botões, estupefato, indagou: quando começará a queima de livros?
O ataque a inteligência brasileira é assustador. A começar pelo Ministério da Educação que até agora não apresentou uma política clara para a área. Seu titular vem se notabilizando por erros ortográficos crassos e atitudes marcadas pelo ridículo, além de reduzir verbas para bolsas e pesquisa.
Estamos diante do crescimento de uma direita pseudoconservadora que revela um ódio instrumental diante da diversidade, ao contrário dos que defendem genuinamente uma democracia conservadora que são, por tradição, indiferentes aos costumes alheios. Aqueles, querem a eliminação do “outro”.
Neste projeto figura o encorajamento a violência e intolerância. Isto fica claro na retórica do armamento, do policiamento ostensivo e do Exército no poder.
Enfim, a marcha da insensatez continua acelerada. O bolsonarismo-fundamentalista odeia tudo o que o restringe e limita, embora se diga defensor da lei. Na verdade, da lei que o protege e beneficia.
A democracia aguenta bem a polarização. Ela é o reino do compromisso e do diálogo, mas suporta bem os momentos de disputa e de conflito, próprios do exercício da política inerentes à pluralidade humana.
A democracia sempre conviveu com momentos de polarização política – na Europa,nos Estados Unidos e também no Brasil. O que a democracia não comporta não é a divergência radical, mas violência sobre os adversários, transformados em inimigos.
Diante deste quadro, precisamos com urgência, nos mobilizar. Como defende o rapper BNegão, “Quanto mais gente não afinar nem pipocar, melhor”.