De nada adiantará se cada um/a não organizar sua escala de valores com base nos princípios éticos, humanitários e solidários. O importante é que o “bem” e o “bom” tenham sempre como foco principal o coletivo!
Dia desses conversei com uma pessoa sábia, que me falou coisas importantes. E percebi que o que é importante para uns pode não o ser para outros. Depende muito da visão de mundo, de sociedade, de ser humano, de princípios, de meios e de fins de cada um/a.
De todo modo, para efeitos de viabilizar a vida coletiva, definem-se padrões de pensamento, de comportamento social e de conduta ética. Não obstante, subsiste a pluridiversidade de pensar, de viver e de ser. Uma parcela da sociedade vê isso como riqueza; outra parte, como problema.
Entre as coisas que julguei importantes na conversa com a referida pessoa, está o desejo de mudar o mundo. Na verdade, a pretensão é muito audaciosa. Em primeiro lugar caberia identificar o que seria necessário mudar. Em segundo, o que seria mais importante. Em terceiro lugar, o que seria possível. Em quarto, por quê fazê-lo. Em quinto, quem o faria. Em sexto, quais as dificuldades a serem enfrentadas nessa missão. Em sétimo (para não ir ao infinito com as questões), com que meios, recursos e estratégias mudar aquilo que se julga mais importante, possível e urgente.
No meio da aludida e rara pretensão, emergem outras, com as quais a maioria das pessoas parece se ater. Entre elas, a preocupação de só mudar ou manter o ambiente à sua volta; mudar ou manter a sua própria condição social; mudar ou manter seus próprios interesses. A manutenção ou a mudança de atitudes e de padrões de conduta sempre estão assentadas em princípios e valores, tais como o bom e/ou o importante.
Não só desejar o bem estar individual, mas querer transformar a realidade para garantir o bem viver coletivo é uma questão de ética humanista.
Já faz tempo, o jornalista norte-americano Walter Winchell afirmou: “O bom não é ser importante, o importante é ser bom”. De novo prorrompe um conjunto de indagações: o que é ser importante? O que é ser bom? Por que ser ou deixar de ser importante? Por que alguns parecem importantes, mas não são bons? Por que outros até dizem ser bons e pessoas de bem, mas, na prática, utilizam armas de todas as espécies para agredir, violentar e destruir os outros? Acerca do tema, o beato José Allamano nos legou essa máxima: “Fazer o bem, bem feito, nas coisas simples de todo dia, com constância e sem barulho”.
O desejo de mudar o mundo é extremamente necessário, indispensável e salutar. Isso não isenta a necessidade de, muitas vezes, ter de mudar-se a si mesmo, empenhar-se na mudança de aspectos no âmbito familiar ou do pequeno grupo e comunidade. Porém, não é suficiente olhar só o ponto pequeno, conquanto vislumbrar o cenário abrangente.
Ao olharmos para o horizonte, vemos que o mundo é maior que nossas circunstâncias e circunferências.
De acordo com o escritor uruguaio Eduardo Galeano, é preciso alimentar a utopia: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar” (Las Palavras Andantes).
Entre as questões que [ainda] considero (u)tópicas está a construção de uma sociedade justa e solidária. Para tanto é de suma importância superar a indiferença diante da produção coletiva da morte e da exclusão em massa dos pobres. É igualmente importante fortalecer a posição crítica ante os mecanismos de dominação do sistema de mercado total. Urgente assumir com coragem atitudes propositivas de enfrentamento à cultura da mentira, do ódio e do falseamento da realidade que se generalizaram e se naturalizaram na sociedade.
Mais do que nunca, são essenciais e inadiáveis, em todos os níveis, ações concretas para evitar o caos socioambiental e tentar “adiar o fim do mundo” (Ailton Krenak).
Essas questões dependem, sim, de eficientes e qualificados processos de educação, bem como de políticas públicas que lhes garantam suporte.
De nada adiantará se cada um/a não organizar sua escala de valores com base nos princípios éticos, humanitários e solidários. O importante é que o “bem” e o “bom” tenham sempre como foco principal o coletivo!
Autor: Dirceu Benincá
Edição: Alex Rosset
Amei seu artigo!
Parabéns pelos questionamentos, reflexões e ensinamentos de grande sabedoria.
Elisabete Marlene Bianchi – Pelotas / RS