O brasileiro quieto está acovardado
e tenta se convencer de que deve
se orgulhar da sua covardia.
Antes do golpe, muita gente ficou calada com o argumento de que não acreditava
no êxito dos golpistas. Quando o golpe se consumou, continuaram quietos, porque
imaginavam que aquilo não iria durar muito.
Quando prenderam Lula, os quietos aquietaram-se ainda mais, como se aquele fosse um drama do PT, até porque alguns diziam que Lula logo seria solto.
Quando Bolsonaro levou a facada e disparou nas pesquisas, teve gente que não acreditou no que iria acontecer, e preferiu de novo não se mobilizar contra nada, não abrir a boca, não palpitar, porque era preciso esperar.
Bolsonaro se elegeu e os quietos continuaram silenciosos, porque a situação era confusa, os interesses não estavam bem claros, a família estava dividida e o país seria salvo por algum milagre.
Quando Sergio Moro decidiu participar do governo e confirmou-se o golpe do Judiciário, como todo mundo previa, os silenciosos ampliaram seus silêncios, porque Moro era o guru da classe média ressentida e poucos tinham coragem de questionar o juiz caçador de corruptos.
Bolsonaro, Moro, os milicianos, Queiroz, os filhos de Bolsonaro, os armamentistas, os desmatadores, os grileiros, o agronegócio, os fabricantes de veneno, os assassinos de Marielle, os destruidores da educação, os adoradores de torturadores, todos eles se apoderaram do país.
E os quietos estão cada vez mais encaramujados. Os quietos são, pela quietude, parte do conluio.
Os silenciosos manejam a pior das políticas, a política do drible, do negaceio, do não-sei-nada-disso, do me-deixa-fora, do isentão e do isentinho que têm mil desculpas para não dizer e não fazer nada.
O brasileiro silencioso, acomodado na sua mudez, é o pior dos bolsonaristas, porque sua aparente neutralidade apenas fortalece a extrema direita.
O sujeito quieto, que se omite diante de todas as questões postas pelo bolsonarismo, é mais cúmplice da destruição do país do que os que aliaram ao golpe de 64 de peito aberto, como a maioria dos adesistas fez.
O omisso tenta ficar encoberto pelas próprias desculpas. Muitas vezes, domina a família, alguns amigos e até orienta posições onde trabalha. A posição dele é não ter posição, e aí é que está a posição do quietão dissimulado.
O silencioso é o colaboracionista que, como fizeram na Paris ocupada, recolheu-se ao seu acovardamento porque não queria se indispor com o entorno que havia virado nazista.
Mas hoje o cara isentão e omissão não chega a ser alguém com medo, que teme perder emprego, amigos e a admiração da direita, Ele é na essência um acomodado no desconforto geral. O desalento dos que estão na volta aprofundam sua acomodação.
O omisso vive das sobras da desgraça geral, porque ele não é da elite, não é rico, mas flana entre os que se beneficiam da desgraceira como se fosse um deles.
O silencioso se apresenta como um ser acima dos dilemas postos pelos entreveros políticos, como um cara com sabedoria superior. O brasileiro quieto está acovardado e tenta se convencer de que deve se orgulhar da sua covardia.