No momento em que as notícias péssimas
povoam o nosso cotidiano, a premiação de Chico Buarque
é um verdadeiro bálsamo, em meio a
mediocridade que nos cerca e nos assusta.
Os sensíveis e comprometidos com a dignidade da vida revelam um apreço especial por Chico Buarque e, agora, sentem-se eufóricos quando o escritor, cantor e compositor, aos 74 anos, foi consagrado com o Prêmio Camões de Literatura, considerado a honraria mais importante da literatura em língua portuguesa.
Como escreveu Antonio Cândido, Chico “é um homem realmente exemplar, cuja integridade pode servir de modelo e cuja variedade e aptidões chega a causar espanto”. Chico em seus textos e melodias, denota coisa rara que é a sobranceira relação às modas, a absoluta indiferença ao êxito.
No teatro Chico, com raro talento, fundiu harmoniosamente a maestria artística e a consciência social (Gota D’Água; Roda Viva) completando um perfil de cidadão serenamente destemido e participante, sempre na melhor orientação política, como demonstra no atual contexto que vive o país.
Também na área da ficção Chico mostrou-se um dos melhores praticantes do gênero entre nós (Estorvo, Benjamin, Budapeste, Leite Derramado). Chico escreve de forma densa, sem concessões, inventivo, com um toque de originalidade rara.
Na música Chico tem um extraordinário trabalho que levou Tom Jobim a assim defini-lo: “Eterno, simples, sofisticado, criador de melodias bruscas, nítidas, onde a vida e a morte estão sempre presentes, o dia e a noite, o homem e a mulher, tristeza e alegria, o modo menor e o modo maior, onde o admirável intérprete revela o grande compositor, o sambista, o melômano inventivo, o criador, o grande artista, o poeta maior…”
No momento em que as notícias péssimas povoam o nosso cotidiano, a premiação de Chico Buarque é um verdadeiro bálsamo, em meio a mediocridade que nos cerca e nos assusta.
O Camões vem premiar um artista múltiplo: podemos apreciar sua genialidade e poder de criação como compositor, seresteiro, poeta e cantor, tradutor, adaptador de poemas para balé, recriador de tragédias gregas como óperas contemporâneas, na literatura infantil, na ficção, mesclando a cultura de outros séculos e de outras civilizações com a nossa.
Como escreveu Gilberto Gil: “Em tudo, Chico Buarque tem sido levado a fazer-se fonte, a tornar-se ponte, a seguir-se em caminhos por onde trilham gerações como a minha, a nossa, rumo aos livros de história”.
Louvemos o grande Chico Buarque de Holanda!!!