O conflito entre fé e ciência

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Para Collins, a ciência é a única forma confiável para entender o mundo da natureza. As ferramentas científicas, quando utilizadas corretamente, são fantásticas para gerar profundos discernimentos na existência material. Porém, a ciência é incapaz de responder questões mais profundas, tais como: Por que o universo existe? Qual o sentido da existência humana? O que acontece após a morte?

O conflito entre fé e ciência é uma das grandes questões que perpassa a história do pensamento ocidental. Desde a modernidade, quando houve a separação entre as questões religiosas e as questões da ciência, esse problema tem acompanhado diversas gerações e provocado calorosos debates. Muitos escritos foram produzidos na tentativa de dar respostas as inquietantes indagações que surgem dessa tensão entre as razões da crença e a crença na razão.

Como a ciência é movida pela dúvida e pela razão, enquanto que quem alimenta a fé é a crença e o espírito, tornou-se frequente a ideia de que os cientistas costumam ser descrentes e de que as “verdades” da ciência não se conjugam com as “verdades” da fé.

Entre os diversos livros que abordam a temática, a presente resenha irá se ocupar do livro A linguagem de Deus de Francis Collins. Diretor do Projeto Genoma e considerado um dos cientistas mais respeitados da atualidade, o biólogo americano Francis Collins foi ateu convicto até os 27 anos. A partir da própria experiência pessoal ao cursar medicina e testemunhar o verdadeiro poder da fé religiosa entre seus pacientes, mudou sua visão de mundo e passou a se considerar um cientista religioso.A linguagem de Deus é uma descrição de como ele deixou de ser ateu, uma narração das dificuldades que encontrou nos meios acadêmicos quando passou a confessar sua crença e a apresentação de evidências de que a ciência e a religiosidade devem caminhar juntas em prol da humanidade.

Na belíssima e esclarecedora introdução, Collins apresenta a questão central que perpassa todo o livro: “Nesta era moderna de cosmologia, evolução e genoma humano, será que ainda existe a possibilidade de harmonia satisfatória entre as visões de mundo científica e espiritual?”. Collins está convicto que sim, pois para ele não há conflito entre esses dois domínios. O domínio da ciência está em explorar a natureza. O domínio de Deus encontra-se no mundo espiritual, um campo que não é possível esquadrinhar com os instrumentos da linguagem da ciência. Por isso deve ser examinado com o coração, com a mente e com a alma – e estas devem encontrar uma forma de abarcar ambos os campos.

Para Collins, a ciência é a única forma confiável para entender o mundo da natureza. As ferramentas científicas, quando utilizadas corretamente, são fantásticas para gerar profundos discernimentos na existência material. Porém, a ciência é incapaz de responder questões mais profundas, tais como: Por que o universo existe? Qual o sentido da existência humana? O que acontece após a morte? Por isso sua intenção com A linguagem de Deus é explorar uma integração sóbria e intelectualmente honesta entre a visão científica e a visão espiritual.

Não é possível no espaço deste breve ensaio descrever e analisar os argumentos de Collins desenvolvidos nas 279 páginas que compõe o livro. No entanto, para nossa reflexão, gostaria de destacar uma advertência ele faz para os que acreditam em Deus e para os cientistas.

Para os primeiros ele diz: “Se Deus é criador de todo o universo, se Deus tem um plano específico para a entrada da humanidade em cena e se Ele deseja uma afinidade com os humanos, nos quais injetou a Lei Moral para que se aproximassem Dele, Deus não pode ser ameaçado pela nossa mente minúscula e seus esforços por compreender a magnitude de Sua criação”.

E para os cientistas ele adverte: “Se você é daqueles que acreditam nos métodos da ciência, mas permanecem céticos em relação à fé, este seria um bom momento para se perguntar que obstáculos estão em seu caminho na busca de uma harmonia entre essas duas visões de mundo”.

Com isso Collins quer demonstrar que a ciência não é ameaçada por Deus; ela é aprimorada. Da mesma forma Deus não é ameaçado pela ciência; Ele a possibilitou por completo. E compreendendo dessa forma que poderemos juntos, recuperar os fundamentos sólidos de uma síntese satisfatória entre intelectualidade e espiritualidade de todas as grandes verdades. Certamente um bom tema de reflexão educacional que precisa ser enfrentado no fazer pedagógico de todos os que se comprometem em tornar o espaço escolar um processo de formação cidadã.

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

Curso de Filosofia e do Mestrado e Doutorado em Educação da UPF

Edição: Alex Rosset

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