“Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei…porque me arrependo de os haver feito.” (Gênesis 6:7)
Calma ai!
Acredite ou não em Deus, é isso mesmo! Um dia, um pouco distante do tempo em que se chama hoje, Deus se arrependeu feio. Aliás, além se arrepender, disse que ia fazer desaparecer tudo.
Mas voltou atrás.
Foi Noé quem achou graça diante de Deus e o fez mudar de ideia, conforme o Texto Bíblico. E o resto nós sabemos, pois o dilúvio acabou por salvar a todos e, enfim, chegamos até aqui. Mas o estrago foi grande, com violência e matança de toda ordem, por todos, descendentes de Abel ou Caim.
Logo, estamos todos a beira do colapso, pois somos fruto da criação de Deus e do seu arrependimento, igualmente. O que pode ser sido um erro em nos poupar, para céticos e desamparados.
Pensando bem, Deus deve estar perplexo com a nossa capacidade de esfolar e matar. Mata-se Mãe e Pai, mata-se a esposa, filhos e vizinhos. Mata-se a todos e ainda a tudo o que existe ao seu redor. Não há dia em que não se vê a crueldade humana em ação. Não há dia ou noite, em que não nos é oferecida a maldade humana à mesa do jantar, muitas vezes, vendo crianças dilaceradas na banalização de uma mortandade, entre terroristas ou matadores autorizados. Uma guerra sem fim, justamente nas terras onde Noé caminhava.
Mas há outras brigas por aí e o estoque de mísseis não para de crescer. Hoje, é grande o número de vendedores da morte pelo mundo. Que criador teria orgulho desse impulso fraticida?
Mas por que será que Deus se arrependeu de se arrepender?
Não ouvimos ou lemos que tenha se arrependido do resto de sua criação, exceto animais e répteis. O mar, o céu, crisântemos, jasmins, cinamomos e tudo o mais. Isso não! Parece que o que se move é o que destrói.
Ele se arrependeu justamente do homem, de você, de mim, consequentemente. Não gostaria de ser um errante pela Terra, fruto de um Criador que viu em sua frente, o poder da liberdade humana, concedida, para em seguida suspendê-la.
E que tem aquilo, né? Dando as costas, um de seus netos, digamos, Caim, matou de imediato a seu irmão.
_Onde está Abel, seu irmão? Perguntou o Senhor.
_Não sei: acaso sou tutor de meu irmão?
_A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim, disse Deus, resumindo a trágica dualidade de violência combinada, que acompanharia a humanidade para sempre: terra e sangue.
Além de o matar, mentiu! Vemos o primeiro homicídio em curso. E de brutalidade e atrocidade chegamos, enfim, a agressão final; nossa casa.
Todas as razões do paraíso para o Seu arrependimento, portanto. Não só continuamos a nos matar como destruímos o que ele criou. Uma casa que não nos pertence, uma vez que aqui, estamos de passagem. E por estarmos nesta hospedaria, deveríamos pelo menos não destruir o que não é nosso, motivo na qual nascemos, respiramos, dançamos e saímos para trabalhar.
Mas à ira de sua criação não haveremos de escapar. Vale para crentes e incrédulos. Destruindo o nosso meio, ou apenas assistindo e calando, enquanto outros o fazem, haverá um preço. Porque não paramos reclamar do que pode vir!
_Nossa, como tudo está mudando! E é somente o começo.
O fato de crermos ou não, não altera o prato; todos respiramos o mesmo ar, olhamos as mesmas paisagens. E os rios e pássaros que desaparecem a cada dia, diz respeito a todos os nossos amanheceres. Os que defendem a vida e seu esplendor, o meio ambiente ou os indiferentes. Todos molharão seus pés um dia, em todos os dilúvios que virão.
Estamos sentindo apenas o que vem por aí. O paraíso em que vivíamos agora se torna um clima ameaçador. E os tempos nunca mais serão os mesmos. Na Espanha, carros empilhados nos deram um ‘spoiler’ do que chega. Chuvas em horas que deveriam cair em meses. Reis são vaiados e ameaçados em público, algo impensável em alguns anos atrás, eles mesmos, sempre a salvos do banquete da devastação e suas consequências.
Por aqui, vimos o que os rios podem fazer. Cercar a todos até que confessemos nosso ódio à natureza e ao que nos entorna. Após cortar até o último tronco choramos pelas vidas arrastadas nos beirais do seu leito.
A violência banalizada agora tem outra aliada: a violência climática. O termo é forte. Ficamos nas explicações, quando alguém, em sua indignação, chama os cortadores de árvores ou lançadores de esgoto em terra alheia de criminosos. Pois é o que são! E, por fim, a violência gerada na ausência de empatia, finalmente chegou ao meio ambiente: cortar e matar.
Mas vem do Norte as notícias trágicas de que tudo deve retornar ao seu lugar: a glória dos anos 50. Intrusos que não têm documentos, os que lavavam latrinas, tem de sumir de seu país adotivo. Velhas térmicas a carvão serão ativadas. Estupradores nomeados a cargos públicos. A verdade reinventada. Em breve, seus cidadãos sentirão falta de quaisquer acordos que lhes devolva um amanhã.
Bem falou a Greta, quando afirmou, que os poderosos que hoje sujam o planeta estarão mortos em 20 anos. Nossos filhos e netos é que terão de respirar a sujeira toda.
Um dia, sendo improvável, gostaria de perguntar ao Criador, no que pensava e no que viu quando falou que iria destruir a todos. E por qual razão não o fez. Bastaria me explicar qual foi a sua esperança neste homem recém-criado e que já dava mostras horrendas do seu caráter. Preciso desta conversa!
Agora, o próprio Deus tem de nos dar forças para enfrentar as incertezas dessa jornada, com os degraus da violência climática crescendo, que começou não faz muito e que quase nem existiu. Porque a vida vale a maravilha que é, a cada segundo, a ela dedicamos os nossos suspiros de alegria e vertigem.
Dará forças o mesmo Deus, então!
A quem pedir, claro.
Referências:
1) Viu o Senhor que a maldade do homem havia se multiplicado na Terra…e isso lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei…porque me arrependo de os haver feito. Porém, Noé achou graça diante do Senhor. A Terra estava corrompida à vista de Deus, e cheia de violência. (Gênesis 6: 5 a 11): Diálogo do Senhor com Caim. (Gênesis:4 a 10)
2) Greta Thunberg, ativista climática sueca.
3) O texto Bíblico utilizado foi o da tradução de João Ferreira de Almeida, versão atualizada.
Autor: Nelceu A. Zanatta. Também escreveu e publicou no site “Restarão árvores a queimar em 2025”: www.neipies.com/restarao-florestas-a-queimar-em-2025/
Edição: A. R.