A eleição municipal não deu
muita chance aos imitadores de Bolsonaro.
O truque da alma bolsonarista não funcionou mais.
Nunca antes o Brasil elegeu tantos picaretas quanto em 2018. Antes de serem fascistas, racistas, homofóbicos e ultraconservadores, eles são pilantras. Lula certa vez contou 300 picaretas no Congresso. Hoje devem ser mais, todos eleitos em 2018 em nome de algum apelo moralizante.
Os picaretas prometeram caçar bandidos, enquadrar corruptos e realizar exorcismos. Nada de novo. O Brasil sempre elegeu gente com arma, Bíblia ou relho na mão. Mas desta vez muitos nem sabiam fingir que sabiam fazer o que estavam prometendo. Nem a atirar, nem a exorcizar e nem a surrar com relhaços.
São apenas picaretas. São pilantras que pegaram carona no embalo de Bolsonaro e produziram o que certos cientistas passaram a chamar de ciclo bolsonarista.
Não há ciclo nenhum, ao contrário do que disse há poucos dias Rodrigo Maia. O presidente da Câmara, faceiro com os ventos que empurraram a sua direita fofa para prefeituras e Câmaras, acha que o ciclo que elegeu Bolsonaro está esgotado.
O que se esgotou foi o fenômeno circunstancial que produziu uma extrema direita capaz de obter votos na cacunda de Bolsonaro. Mas isso não é ciclo nenhum.
Não há ciclo político que se encerre em apenas dois anos, nem em grêmio estudantil. Não há nenhum fenômeno de massa que possa ter sido atribuído ao que se chama de bolsonarismo.
O que pode ter chegado ao fim, com o fracasso de Bolsonaro e dos candidatos de extrema direita na eleição municipal, é o espaço para a ostentação de ignorâncias, mais do que para ideologias. Os enganadores, que se elegeram com facilidade em 2018, já não funcionam mais nem como cacarecos. Bateu a exaustão.
Antes dos picaretas de extrema direita de Bolsonaro, a desinformação, o medo e a manipulação se misturavam a outras formas de dominação pela ação de coronéis, de donos de pequenos currais e de especialistas em criar ilusões moralistas. Eram os picaretas paroquiais do tempo de Lula.
O novo picareta da eleição de 2018 sentiu que havia um caminho aberto por Bolsonaro para que se transformassem em figuras nacionais. Muitos se elegeram governadores (alguns com adesão encabulada), senadores e deputados.
A eleição municipal não deu muita chance aos imitadores de Bolsonaro. O truque da alma bolsonarista não funcionou mais. Mas há um cenário preocupante para 2022, em meio à eleição de mulheres e negras de esquerda.
É a possibilidade de ampliação do espaço do que seria o centro de Rodrigo Maia, com a ressurreição do espírito do PFL. A estratégia deles já havia funcionado com algum sucesso em 2018, foi aperfeiçoada em 2020 e deve vir com força em 2022.
Se as esquerdas não souberem reagir, os governos e o Congresso serão transformados em latifúndios dessa gente, que tem o suporte financeiro de milionários e famosos. Sai o picareta criado por Bolsonaro e vem aí a multiplicação de figuras tipo Tabata Amaral.