O Holocausto é o maior exemplo do perigo da intolerância

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As crianças reproduzem o que têm assistido nas ruas e, eventualmente, até uma postura inspirada em comportamentos dos pais. E isso ecoa no ambiente escolar, onde não é tão madura, entre os jovens, a percepção do quanto isso é sério.

O presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, em entrevista, afirma que são “muito sérios” os episódios de intolerância registrados em ambiente escolar durante e após as eleições. Ele avalia que o cenário “é fruto da polarização” e acrescenta que é preciso “inibir a percepção de que a diversidade não é uma riqueza”.

Por que a intolerância política invadiu o ambiente escolar?

As crianças reproduzem o que têm assistido nas ruas e, eventualmente, até uma postura inspirada em comportamentos dos pais. E isso ecoa no ambiente escolar, onde não é tão madura, entre os jovens, a percepção do quanto isso é sério. Se já havia propagação (de intolerância) a partir de pessoas intelectualizadas, imagina em crianças que não têm noção do que isso representa.

Qual o risco disso?

É algo muito sério porque pode trazer o sentimento de que é correto, de que é bom, de que não tem nenhum tipo de repercussão nas relações sociais. As pessoas devem trabalhar justamente pelo contrário, minimizando a discriminação, minimizando os discursos de ódio e inibindo a percepção de que a diversidade não é uma riqueza.

Manifestantes bolsonaristas fazem atos antidemocráticos pelas ruas e rodovias do país após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

O que as escolas devem fazer?

Ficar atentas. E, dentro do menor movimento, têm que coibir e explicar. E, se possível, inserir ensino sobre o Holocausto. O Holocausto é o maior exemplo da história do perigo que representa a intolerância. Entendo que esse episódio deve ser tomado como uma referência no processo educativo para acentuar os valores de respeito ao próximo, de aceitação à diversidade e de sentimento de compaixão. Tanto que, em vários locais no país, o Holocausto passou a ser tema obrigatório.

Qual é o papel dos pais?

Primeiro, repensar suas atitudes quando pais. Segundo, imaginar que o cenário político é uma das condições de relacionamento de uma sociedade, de uma comunidade.

Algumas pessoas defendem uma liberdade de expressão ilimitada. Onde está o limite?

Na própria Constituição brasileira, que diz que a liberdade de expressão deve existir desde que não crie uma situação de perigo frente ao próximo e, nesse caso, está criando.

Nos últimos dias, um aluno de uma escola de Valinhos (SP) publicou uma foto de Hitler e escreveu: “Se ele fez com judeus, eu faço com petistas”. Como o senhor avalia?

É fruto da polarização que vivemos em nosso país, na qual a posição divergente não é tratada com respeito. Não há problema em pensar diferente. O problema está em não aceitar as pessoas diferentes e, pior, repudiar com violência.

Como a intolerância política está ligada ao nazismo?

Primeiro, precisamos entender que o processo de globalização não diminuiu a desigualdade. Isso construiu todo um processo que levou à defesa de culturas mais nacionalistas, que muitas vezes criam uma visão exagerada de proteção, muitas vezes discriminatória. Nesse ambiente, é bastante fértil a propagação de ideias como o nazismo.

O antissemitismo também aumentou no Brasil?

Está documentado, cresceu muito nos últimos dois anos, assim como células nazistas.

Por quê?

É reflexo da geopolítica global. A reação à globalização é um movimento nacionalista.

O senhor foi presidente da Conib em 2010 e 2014, anos eleitorais. E, principalmente em 2014, a eleição foi muito polarizada…

Mas nunca com essa hostilidade.

Os episódios se intensificaram neste ano?

Não tenho a menor dúvida. Inclusive com o incentivo de alguns líderes, como o presidente (Jair Bolsonaro). Porque ele tem uma bandeira muito nacionalista. O movimento nacionalista o elegeu.

Vemos as instituições muitas vezes repudiando tais ações. Só repudiar é suficiente?

Não. Precisam tomar as medidas judiciais cabíveis.

Sobre crianças e adolescentes, o que precisa ser feito?

Temos que colocar os ministérios públicos para ver o que as escolas estão fazendo. Por serem episódios no ambiente escolar, a responsabilidade também é da escola. É preciso ver se as escolas estão sendo exigentes para evitar que isso se propague ou se estão sendo lenientes. Se estão sendo lenientes, precisam pagar por isso.

Claudio Lottenberg, líder da Confederação Israelita do Brasil 

Foto: Agência O Globo

FONTE: https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2022/11/o-holocausto-e-o-maior-exemplo-do-perigo-da-intolerancia-diz-claudio-lottenberg-lider-da-conib.ghtml

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