O Homeschooling, ao contrário do que afirmam,
não será, no Brasil, salvamento seletivo para
um modelo educacional moribundo?
Puxada estranhamente pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, ao invés do Ministério da Educação, a MP do Homeschooling, sob pretexto de liberdade de escolha, encontrou a solução para qualificar a educação brasileira: tirar todas crianças da escola.
Aliás, todas não, só algumas. O modelo já funciona muito bem em países desenvolvidos, com taxas de analfabetismo perto do zero e alto desenvolvimento humano, e vem dar voz a pouco mais de 15 mil estudantes, segundo a ANED, deixando no vácuo mais de 50 milhões de estudantes que esperam uma resposta de qualificação da educação formal, que em milhares de casos é a única chance de romper ciclos de pobreza.
A grande motivação dos defensores do modelo, seria a violência e o bullying sofrido pelos estudantes, além de incompatibilidade moral e religiosa das famílias com o sistema escolar. Mas será mesmo? Ou seria um processo de salvamento seletivo para um modelo educacional moribundo?
Para reflexão, lembro dos 4 pilares da Educação para o Século XXI da UNESCO: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser.
Nessa rica e contemporânea visão de Educação Integral, estão presentes habilidades cognitivas e socioemocionais.
As cognitivas, dão conta dos multiletramentos como leitura e escrita do mundo, habilidades mais técnicas e mecânicas, mas imprescindíveis para qualquer pessoa ser produtiva e independente na sociedade atual.
As socioemocionais, tratam justamente de “aprender a viver com os outros” e “aprender a ser”, desenvolvendo empatia, valorização da diversidade, resiliência e percepção do outro como seu par, temas que podem ser colocados em segundo plano no Homeschooling, criando um hiato social irreparável em toda uma geração.
Temos problemas gravíssimos na educação brasileira, gerando falta de percepção de valor pelos estudantes e famílias de diversas classes sociais. Mas, se o barco está furado, precisamos nos concentrar em consertá-lo, e não oferecer salva vidas para quem pode, enquanto olham de longe o barco naufragando com 99,9% dos passageiros agonizantes.