Professor Laércio Fernandes dos Santos é um professor esforçado, esmerando arte com ousadia, para humanizar-se, tornar-se melhor ser humano. Como ele mesmo conta, a literatura foi chegando e ficou para impregnar sua existência de sentidos e inovações: “a literatura sempre correu no meu corpo feito sangue que alimenta a célula. Como água para o rio. Como a praia para o mar. Jamais, depois dessas maravilhosas experiências, posso viver sem que a arte da palavra esteja nos meus movimentos educacionais”.

 

Conheça Laércio Fernandes dos Santos por ele mesmo.

“Lembro-me como se fosse hoje. Ela apareceu na minha vida. Bom tempo já se passou não lembro quais dos pretéritos, se perfeito ou imperfeito, mas até acredito que ela tenha vindo num pretérito-mais-que-perfeito. Porque esse pretérito é raro: de lembrara, surgira, transformara. Transformara-se na minha vida. Arte que me conquistara. Arte que metornara essência. Palavra que é matéria prima para ela. A Literatura que é matéria.

“Era uma escola simples. Do interior. Na simplicidade nostálgica. A professora era mestra. Contar histórias era o que vidrava o olho de um garoto na primeira fileira. As histórias eram de sabedoria e encanto. Encanto que nascera e ficou. Da Salete era a voz e a maestria”.

O curso de Letras veio mais tarde. Como sonho de criança. Como algo impossível para quem viveu sua infância num interior longínquo. Casa de chão coberta de tabuinha. Mas dos sonhos não devemos desistir. Mais uma vez a Literatura revive. E o Projeto Invasão Cultural caiu como uma luva na minha alma e no meu coração.

O projeto Invasão Cultural começou há muitos anos quando ainda se estava na universidade, em específico no curso de Letras, em 1996, quando surge a ideia de levar a literatura de forma mais expressiva do que simplesmente ler um livro. Dessa forma, surge a vontade de um grupo de jovens, todos acadêmicos do Curso de Letras motivados pelos professores da área de literatura, com o mesmo objetivo: levar a palavra falada com emoção.

Primeiramente, reuniram-se Laércio Fernandes dos Santos, Clodoaldo Cirello Casagrande, Roberta Salinet, Douglas Pereto e Janaína Britto de Castro para discutir como se poderia chamar atenção com textos retirados dos livros. Esse grupo tinha como coordenadores Clodoaldo, Douglas e o professor Eládio Vilmar Weschenfelder.

Esse grupo precisava ter um nome, foi então que veio o nome Bando de Letras e a atividade envolvida “Invasão Cultural” por se tratar de uma declamação surpresa de textos diversos, em que a plateia seria surpreendida por poesias e histórias, inclusive em outros idiomas. Assim, o grupo se reúne e treina os textos com entonação e, em seguida, parte para as invasões culturais em todas as salas do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – IFCH e em outros prédios da Universidade de Passo Fundo, logo esses jovens atingem destaque que recebem convites para eventos fora de Passo Fundo.

Na primeira apresentação de estreia, invadem-se as salas do IFCH com o seguinte combinado: um dos integrantes bate na porta da sala de aula e pergunta para o professor ou a professora se é prova ou não, recebendo a resposta da negativa, apaga a luz e os demais integrantes falam as palavras: “Medo”, “Sangue”, “Sombra”, palavras essas extraídas do poema “Impulso”, escrito por Clodoaldo que, em seguida, ele mesmo declamava na íntegra.

Na segunda apresentação, coube a mim, como integrante a entrada declamando a música Judiaria de Lupicínio Rodrigues, bradando: “Agora você vai ouvir aquilo que merece”. (Veja mais aqui). Com essas palavras apontava-se o dedo para alguém da sala.

 “Esse movimento da arte chama atenção por onde passa, pois a literatura passa a ser vista com outros olhos, e, acima de tudo, sentida. Assim, percebe-se, por parte dos espectadores, que a literatura mexe com as emoções e sentimentos de cada ser humano. Coisa que é inerente à arte no sentido amplo”.

Para (KAY PRANIS, 2010, p.55-56): “Quando se conta uma história, a informação é transmitida de modo a criar abertura por parte daquele que escuta. A partilha de histórias fortalece o sentido de conexão, promove a reflexão acerca de si mesmo e empodera os participantes.”

“Isso é o que a arte na educação tem o poder de fazer quando bem aproveitada, pois ela mexe com a oralidade, sentimentos mais íntimos, pois a humanidade volta a essência do escutar”.

O grupo edita um livro com vários poemas e contos dos integrantes de própria autoria, é o que aparece na apresentação do livro O Beijo Definitivo (1997) que o professor Eládio Vilmar Weschenfelder escreve na apresentação: “Esta antologia de poemas e de contos escritos por oito acadêmicos do Curso de Letras da Universidade de Passo Fundo. O Grupo identificado como Bando de Letras, tem proporcionado inúmeras “invasões” culturais divulgando sua produção literária no meio acadêmico.” (WESCHENFELDER: in PERETO, 1997, p. 05)

“A Literatura sempre correu no meu corpo feito sangue que alimenta a célula. Como água para o rio. Como a praia para o mar. Jamais, depois dessas maravilhosas experiências, posso viver sem que a arte da palavra esteja nos meus movimentos educacionais”.

Já fui diretor de escola, vice-diretor, Coordenador Pedagógico, Coordenador de Polo universitário, mas o que realmente me faz vibrar é a literatura.

“A literatura, arte da palavra, seja de qualquer nível, podendo juntar a arte e educação, torna-se uma aliada para um trabalho eficaz dentro das escolas. Visto que ela desperta o amor à admiração da arte e, por consequência, transforma o ser humano dando a ele oportunidade para expressar suas emoções ou deixá-las fluir, facilitando a comunicação oral e escrita, a convivência e o conjunto de valores, além de um sentimento melhor perante a sociedade”.

Além do que, possibilita o adentrar em outros mundos, até então, desconhecidos. Outro ponto que fica evidente é a mediação que o educador faz, porém essa será beneficiada quem a conduz gostar da arte da palavra e saber sensibilizar para que a experiência flua através dos sentimentos de quem está envolvido na aula.

“Ainda, o trabalho com o texto poético ou narrativo, seja ele, romance ou novela vai permitir que o educador de línguas possa despertar no educando um olhar diferenciado para o estudo da linguagem. Nesse sentido, o ensino fluirá muito melhor”.

Fica evidente que a arte na educação permite outra dimensão dentro das escolas e na vida de todos os educadores e educandos. E uma das formas para o princípio pelas leituras dos diferentes gêneros.

Vale ressaltar da necessidade do incentivo à leitura e do uso da mesma em todos os componentes curriculares, optando pelo uso de outros espaços e mídias que extrapolem as paredes da sala de aula. Isso permite a educadores e educandos uma vivência mais profunda da arte da palavra. Para isso tudo, tem de haver um desprendimento por parte do professor de língua e literatura e do educando, porque não trabalhará somente a mente, mas o corpo e a alma, seguidos das emoções e sentimentos.

“A literatura, como arte, consiste em um grande trampolim para o ensino e para despertar no educando o interesse em aprimorar a linguagem e a leitura, por consequência, uma mudança de atitude e de competência linguística em todas as áreas do conhecimento e da formação humana do cidadão”.

Muitos educadores trazem a educação juntamente com a arte e também há jovens que explicitam isso como Clodoaldo Cirello Casagrande, um jovem-arte-educador que buscava no outro a arte. Por isso, por onde passo, levo a literatura para meus alunos, intensamente.

 

Referências

KAY, Pranis. Processos Circulares. São Paulo: Palas Athenas, 2010.
PERETO, Douglas. O Beijo Definitivo. Passo Fundo: Ediupf, 1997.

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