Em síntese, Platão foi pioneiro ao atribuir
um sentido profundo para a educação:
descobrir e desenvolver as capacidades humanas individuais,
preparando-as de modo que possam se colocar em
contato com as atividades dos demais.
Platão, filósofo grego da antiguidade, é conhecido na história da filosofia como o primeiro e grande idealista. Idealismo é a doutrina de pensamento baseada na crença de que as ideias movem o mundo.
Quanto melhor for pensada a ideia, mais possibilidades se têm de realizá-la. Mas Platão teria sido ainda mais enfático ao dizer que a realidade é mera cópia das ideias perfeitas que existem no mundo inteligível. Sendo assim, tudo o que vemos, ouvimos, tocamos, sentimos e degustamos, é formulado por ideias que residem no intelecto cuja sede repousa no mundo inteligível.
O idealismo platônico é justificado por uma refinada teoria metafísica, a qual condensa problemas filosóficos profundos, insolúveis até os dias de hoje. Nos diálogos de juventude ele trata do problema das virtudes humanas, como coragem, justiça, temperança e sabedoria.
O problema aí é o de saber como o ser humano se tornar virtuoso e se as virtudes podem ser ensinadas. Nos diálogos intermediários, o conhecimento humano é um dos problemas centrais.
Como o ser humano conhece? Qual é o papel das ideias? As percepções possuem alguma finalidade epistemológica? Menão, República e Teeteto são diálogos importantes para pensar o problema do conhecimento humano.
Educação para Platão.
De todos os diálogos platônicos, Fedão está entre aqueles que mais me agrada. Ele trata do papel da filosofia e do problema da imortalidade da alma. O diálogo relata os instantes finais da morte de Sócrates.
Ao ser condenado pelo tribunal grego, ele já havia tomado cicuta, o veneno mortal destinado aqueles julgados de morte. O fim de Sócrates era questão de horas. O nervosismo e impaciência tomavam conta de seus discípulos, embora Sócrates mostrava-se calmo e resignado.
Como pode alguém manter-se sereno diante da morte que se aproxima? Sócrates, na resposta que oferece aos seus discípulos, diz que não havia motivo para preocupação, uma vez que dedicou sua vida toda à filosofia.
Ora, como a filosofia nada mais é do que o ensinamento sobre a morte, então não havia motivo para agitar-se diante dela. Também, outro argumento adicional, que tornou-se decisivo à teologia cristã, a vida não se esgota com a morte do corpo. Ela segue no Jardim de Hades, em nova forma, longe das prisões do próprio corpo.
Esta resposta, oferecida por ele aos seus discípulos impacientes, cravou fundo na tradição filosófica posterior, tendo consequências pedagógicas importantes. A morte é uma longa preparação que começa com uma vida bem sucedida, cuidada ao longo do percurso: saber se alimentar bem, não cometer exageros, cuidar do espírito e dar-se bem com os outros, valorizando os detalhes que a natureza e o mundo oferecem.
Nas apreciações que a filosofia popular faz de Platão normalmente está ausente este pensamento filosófico profundo, que ainda nos ensina sobre o sentido da vida e seus dilemas. Ocorre, no mais das vezes, uma vulgarização de seu pensamento.
Fala-se, com frequência, por exemplo, do amor platônico, querendo dizer com isso que se almeja algo que não pode ser alcançado na prática. Deste modo, platônico passou a ser compreendido, pejorativamente, como sinônimo de tudo o que é irrealizável, pondo, portanto, a pessoa fora do mundo e da realidade.
Mas, um juízo parcial e muito equivocado sobre o pensamento de Platão não é obra só daqueles que não possuem formação filosófica. Deve-se, também, a filósofos muito esclarecidos, que desempenharam papel importante na história do pensamento ocidental. Tal é o caso de Karl Popper, importante teórico das ciências, que escreveu aLógica da Pesquisa Científica, livro que modificou positivamente o debate acerca dos métodos e teorias da ciência contemporânea. No entanto, para o Popper da Sociedade Aberta e seus inimigos, Platão foi o teórico do Estado absoluto e o primeiro grande inimigo do pensamento liberal.
Qual é, neste contexto, o juízo de Dewey sobre Platão? O Platão que aparece no capítulo VII de Democracia e Educação está muito longe de ser vulgarizado, embora Dewey não o tome na seriedade merecida.
Em todo caso, ele reconhece em Platão aquilo que é nuclear à teoria da educação: a estabilização da sociedade exige que os seres humanos façam uso adequado de suas capacidades (disposições) de tal modo que possam coloca-las a serviço dos demais. Ou seja, há uma pressuposição ética de fundo que se refere à exigência de se colocar o desenvolvimento das disposições humanas a serviço da comunidade.
É papel da educação descobrir tais disposições e forma-las progressivamente para o uso social. Com isso já se vê em Platão um nexo estreito entre educação e sociedade, sendo que a finalidade da educação não pode ser definida sem levar em consideração as demandas sociais. Este é um grande legado que a teoria educacional platônicas traz para a posteridade.
Neste sentido, Platão já oferece, mesmo que de maneira ainda incipiente, recursos conceituais para se pensar a educação como um fenômeno eminentemente social, que ocorre no convívio social entre os seres humanos no interior de seus grupos sociais e institucionais.
Contudo, o limite de Platão foi, segundo Dewey, de não ter conseguido delimitar, com mais precisão, a pluralidade indefinida as capacidades e atividades que caracterizam o ser humano ou o grupo social. Ele focou em certas disposições e secundarizou outras, dando mais atenção, por exemplo, aos aspectos cognitivos e menos aos aspectos afetivos e emocionais. Este limite restringiu sua própria visão a um número pequeno de classes de disposições (capacidades) e de organizações sociais.
Platão coloca a ideia do bem como fim último da educação, por meio da qual deve-se determinar quais são as capacidades humanas e as organizações sociais mais importantes para atingir tal finalidade. Com isso está dizendo, simultaneamente, que não há educação com qualidade sem que haja um fim para o qual ela se direciona.
Como a educação entrelaça-se com os modelos provenientes das instituições, costumes e leis, quanto mais justos forem tais modelos, melhor será a própria finalidade da educação.
Dewey visualiza o aspecto circular na teoria platônica da educação: a boa educação depende de instituições, leis e costumes justos, na mesma medida em que tais instituições são resultado de uma boa educação.
O bom entorno social forma bons espíritos na mesma proporção em que espíritos bem cultivados estão na base de instituições com boas leis e bons costumes. Contudo, está boa circularidade dependia da atmosfera democrática inexistente na época de Platão.
Em síntese, Platão foi pioneiro ao atribuir um sentido profundo para a educação: descobrir e desenvolver as capacidades humanas individuais, preparando-as de modo que possam se colocar em contato com as atividades dos demais.
Seu grande limite foi o de não ter percebido a fundo a singularidade do indivíduo. Enfatizou excessivamente o social em detrimento da individualidade do ser humano. Focou demasiadamente no papel do Estado e empalideceu o papel do indivíduo singular.
O filósofo Grego Platão, foi discípulo de Sócrates e professor de Aristóteles. Escreveu sobre uma grande variedade de assuntos, tais como Política, Estética, Cosmologia e Epistemologia. Até hoje fazemos referência ao “Amor Platônico” e aos “Ideais Platônicos”. A busca de Platão pela verdade e pelo conhecimento formou a base de grande parte da Filosofia Ocidental.
O que esta crítica nos ensina em termos de educação? Mesmo que a interpretação de Dewey não esteja de todo correta em relação a Platão, nos ensina que a teoria educacional precisa pensar de modo adequado a relação entre indivíduo e sociedade, considerando que a formação de um depende do outro.
Constituído por múltiplas capacidades, o indivíduo é capaz de uma infinidade de combinações que enriquece sempre mais a sociedade, da mesma forma que o cultivo individual de suas disposições espirituais depende de instituições, leis e costumes que valorizem seus talentos e coíbam seus caprichos.