Saudades e esperanças. Que nossas saudades sejam suavizadas e nossas esperanças fortalecidas. Busquemos as forças necessárias para fazer as devidas lutas nossas de cada dia. Lutas para dar conta da própria subsistência. Mas também para promover a justiça social, a democracia plena, a fraternidade universal, a paz ativa e pela ecologia integral!
Há tempo para tudo debaixo do céu, como afirma o autor do livro do Eclesiastes (cap. 3). Tempo para nascer e tempo para morrer. Tempo para viver e tempo para pensar sobre a vida e sobre a morte. Tempo para ficar triste e tempo para se alegrar. Tempo para fazer o luto e tempo para empreender a luta. Tempo para se isolar e tempo para se abraçar. Até tempo para colocar máscaras e tempo para tirá-las. Tempo para estar angustiado e tempo para ser feliz.
Em qualquer tempo, não é adequado fazer luto onde se deve fazer a luta; assim como não convém lutar quando apenas cabe fazer luto. Luto é um sentimento dilacerante, de dor extrema. Ele é experimentado quando morre um familiar, um amigo, um vizinho, parente ou uma pessoa pela qual tínhamos muito carinho e admiração.
O luto é também um sentimento experimentado pelas pessoas que são sensíveis e solidárias, que amam o próximo mesmo que ele seja desconhecido, simplesmente por ser humano. Assim, podemos estar em luto pelos mortos da guerra, da Covid-19, dos acidentes nas estradas; pelos mortos pela fome, pela violência e por doenças diversas. Quem pensa na morte e no grande sentido da vida, não vive de maneira fugaz e desrespeitosa com as outras vidas.
Fazer luto por divergência de ideias e de formas de ver o mundo; pela derrota no campo político e democrático; pela perda do campeonato do time favorito, ou por situações similares, é descabido e inadequado. Aí tem-se o direito de ficar triste, de buscar entender as causas; direito de fazer algum tratamento; de esperar a próxima eleição, a próxima partida, etc.
A luta pela luta também não faz sentido e não se justifica. Toda luta tem ou precisa ter sua causa. Mas, as causas podem ser muito diversas e até antagônicas. A luta para ofender, agredir, destruir ou excluir o outro acaba sendo luta diabólica. Por outro lado, há lutas que valem a pena, que fazem a diferença.
A luta de Jesus Cristo, por exemplo, foi pela vida em plenitude para todos (Jo 10, 10). Foi para que todos amassem a Deus (que está no meio de nós) e ao próximo como a si, não para que houvesse ódio acima de tudo e de todos!
Diante do cortejo que levava ao cemitério o jovem, filho único da viúva de Naim (Lc 7, 11 – 17), Jesus ficou triste, enlutou-se. Mas, não só isso. Moveu-se pela compaixão. Agiu para que o jovem retomasse a vida e vivesse plenamente. Essa deve ser também a luta dos que pretendem levar a sério a sua fé cristã. Luta para construir as condições a fim de que todos vivam com direitos e dignidade.
Vamos, pois, neste mês de novembro, também mês dos finados, além de ir ao cemitério, fazer o devido, respeitoso e recomendado luto diante dos que partiram desta vida. Vamos agradecer a Deus pela vida que, apesar de tantos percalços, desencontros, dores e doenças, “é bonita, é bonita e é bonita” (Gonzaginha).
Vamos nos alimentar da espiritualidade capaz de ver no outro um irmão e uma irmã a ser amado e não um inimigo a ser combatido.
Convivamos com saudades e com esperanças. Que nossas saudades sejam suavizadas e nossas esperanças fortalecidas. Busquemos as forças necessárias para fazer as devidas lutas nossas de cada dia. Lutas para dar conta da própria subsistência. Mas também para promover a justiça social, a democracia plena, a fraternidade universal, a paz ativa e pela ecologia integral!
Autor: Dirceu Benincá