O conhecimento é o suporte mais importante na
construção de conceitos e na desconstrução de preconceitos.
A publicação de conhecimentos da tradição africana deseja
contribuir para a afirmação de diferentes verdades,
como contraponto à verdade absoluta.
A cosmovisão africana, assim como outras culturas que vieram depois, encontrava nos mitos, explicações para tudo e todas as situações. Nesse momento em que diferentes visões de mundo e percepções de vida se chocam na busca pela hegemonia, penso ser oportuno trazer este mito da cultura Yorubá.
“O Ayê (a terra) e o Orum (espaço sagrado) eram separados por um grande espelho, por meio do qual Olodumàré (o ser supremo) acompanhava todos os acontecimentos do mundo, que eram refletidos nesse espelho, mostrando assim, apenas uma verdade sobre o cosmos.
Ewá (divindade feminina do panteão africano) filha de Olodumàré, era responsável por pilar todo o alimento do mundo em um grande pilão. Seu pai a recomendou que tivesse cuidado para não bater com a mão do pilão no grande espelho.
Um dia, Ewá realizava sua tarefa muito feliz, cantando e dançando, quando então o acidente aconteceu. Ewá, assustada, chorando muito, foi contar ao pai o que havia acontecido, com medo da sua reação. Para sua surpresa, Olodumàré, com serenidade, acariciou seu Ori (cabeça) e disse:
– Minha filha, quebraste o espelho? Que bom!
A partir de agora não teremos mais uma única verdade, mas incontáveis verdades. E todas elas trarão o crescimento da humanidade e a preservação do mundo.
Acabaste de individualizar a humanidade e agora cada indivíduo precisará ouvir e entender a verdade do outro, para se compreenderem como seres coletivos.
Ewá secou suas lágrimas e seguiu feliz pilando todo o alimento do mundo.”
É preciso sensibilidade para reconhecer o óbvio e é óbvio que no ambiente escolar, que é um espaço de transformação, as diferenças são mais visíveis. Somente a sensibilidade, um olhar mais atento e uma capacidade de percepção ampliada, fará com que educadores conscientes preparem-se para atuar no desmonte da tese da verdade absoluta.
A educação é o caminho. Caminhemos!