Percebam que Zé Leôncio não falou que buscaria uma professora habilitada, que pagaria um ótimo salário, que daria todas as condições de trabalho para que ela atendesse adequadamente as crianças. Não. Ele disse que elas deveriam fazer um sacrifício em nome da educação.
No capítulo da novela “O Pantanal” do dia 09 de setembro, tivemos uma cena que mostra exatamente o que a elite brasileira pensa da educação e principalmente do professor.
Zé Lucas e Zé Leôncio discutiam sobre a possibilidade de se ter uma escola chalana, onde as crianças pantaneiras teriam aulas nestas embarcações que cortam os rios pantaneiros. Lá pelas tantas, Zé Lucas questiona sobre quem estaria disposto a dar aulas para aquelas crianças em uma chalana no meio do pantanal. Eis que Zé Leôncio responde:
– Uai, nóis contrata uma professora. Elas tão acostumada a faze sacrifício.
A fala de Zé Leôncio é a expressão do pensamento da sociedade brasileira sobre o professor. Percebam que ele não falou que buscaria uma professora habilitada, que pagaria um ótimo salário, que daria todas as condições de trabalho para que ela atendesse adequadamente as crianças. Não. Ele disse que elas deveriam fazer um sacrifício em nome da educação.
Mas, justiça seja feita, não é somente o latifundiário Zé Leôncio que pensa assim. Nós ouvimos estas falas quase que diariamente de autoridades, políticos, e as vezes até mesmo de professores, em todo o Brasil.
Tento me convencer que talvez tenha sido uma crítica refinada à elite agrária brasileira. Mas, logo em seguida, Irma, a cunhada de Zé Leôncio, se prontifica a ser esta professora, me convencendo que não havia crítica alguma. Irma parece ter feito o curso de letras, o que não o habilita a alfabetizar, e parece também que ela nunca pisou em uma sala de aula, e pelo que entendi, nem salário ela vai querer.
Isso diz muito sobre o Brasil, a sua classe política, e a sua elite com suas raízes escravocratas, mostrando o longo caminho que precisamos percorrer, até que nos tornemos um país minimamente civilizado.
Autor: Eduardo Albuquerque, professor