O que faz do pensamento de Paulo Freire uma aproximação com a educação ambiental é o reconhecimento do ser humano de que está sempre se transformando e encontrando novas soluções para um viver melhor.
Já dizia a filósofa política Hannah Arendt “A educação é onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo.” Sim, devemos amar as crianças e educá-las com esse amor grandioso para que se tornem adultas virtuosas e possam sempre procurar fazer o bem as pessoas ao seu redor, aos animais e a natureza em geral.
A boa educação se resume não somente na criança ir à escola todos os dias para adquirir uma bagagem de conhecimento técnico e pronto. Não! Educar vai além dos muros da escola. Educar é amar. Educar uma criança exige paciência e boa vontade por parte dos pais e professores. Quando aprendemos a educar uma criança, aprendemos também a amá-la com todo o nosso amor. E, certamente, essa criança também aprenderá a nos amar, pois vê na gente aquele adulto que a protege e a educa com carinho e afeto.
No aniversário de 100 anos do nosso educador Paulo Freire eu não poderia deixar de trazê-lo até vocês num texto que é mais um poema dedicado a ele com todo o meu amor e carinho pelo que fez à nossa educação.
Apesar de termos uma parcela de pessoas que o criticam e o excluem, o certo é que Paulo Freire sempre viverá nas academias universitárias públicas, nas escolas as mais longínquas que pudermos imaginar e nas lembranças do homem do campo desde a cidade de Angicos no Rio Grande do Norte até as maiores por onde passou deixando o seu legado de bom educador. Mesmo que inventem outro patrono para a nossa educação brasileira, Paulo Freire permanecerá por muitos séculos como o melhor de todos os educadores que o nosso país já teve e o seu método de alfabetização merece respeito e aplausos.
Mas, Paulo Freire não foi simplesmente um alfabetizador. Ele via o aluno ir distante, ele sonhava com o aluno alcançando novos caminhos, ele fazia com que o seu aluno pensasse além dos muros da sala de aula, foi isso que fez dele esse grande educador reconhecido no mundo inteiro. E nesse seu método de alfabetizar entrava o seu pensamento de tornar o adulto crítico e reflexivo diante das coisas ao seu redor. De forma que esse método foi trazido para o mundo das crianças e, atualmente, muitas escolas de educação infantil e fundamental adotam o seu método. Paulo Freire desejava que o seu aluno aprendesse conforme o conhecimento de mundo que ele trazia para escola. A maioria dos seus alunos era de trabalhadores rurais. Como sabemos um trabalhador rural conhece o campo, a pequena plantação de milho e feijão, os seus poucos animais como duas ou três vaquinhas e etc. Era baseado nesse entorno da escola que tudo acontecia na sala de aula de Paulo Freire.
Quando um aluno de Paulo Freire era solicitado a soletrar a palavra “uva” fazia-se necessário que ele conhecesse sobre aquilo que estava estudando para melhor assimilar o seu conhecimento. Foi assim que surgiu a educação ambiental do nosso grande educador Paulo Freire. Lecionando a homens do campo ele conseguiu descobrir que a criticidade e o pensamento reflexivo para cuidar da natureza era preciso ou o seu aluno jamais seria alfabetizado como desejava. Era preciso cuidar dos mundos daqueles homens e ensiná-los a transformá-los para melhor, a dialogar sobre eles, a pensarem que esses mundos exigem cuidados.
Todos nós sabemos que no campo existem árvores e animais de todas as espécies. E foi assim que convidado para fazer uma palestra sobre meio ambiente Paulo Freire pôde mostrar que no seu método de ensino havia uma preocupação com a natureza. O educador tornou-se uma referência para a temática após ser convidado para participar da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Eco 92, no Rio de Janeiro.
As escolas que educam as suas crianças baseadas na metodologia freiriana são as que mais se preocupam com o meio ambiente e ao mesmo tempo com o pensamento crítico e reflexivo dos seus alunos.
O pensamento de Paulo Freire sobre a educação ambiental entra na escola de educação infantil e fundamental quando a criança é convidada ao diálogo na construção do seu conhecimento, ou seja, quando o professor deixa que o seu aluno fale daquilo que chama a sua atenção, das coisas ao seu redor e nada melhor do que neste momento o professor introduzir o tema da natureza para que o diálogo possa desencadear várias questões necessárias ao momento em que estamos passando com poluição, desmatamento, queimadas e tantos outros problemas. Esse diálogo sempre conduzido pelo professor pode trazer o tema do meio ambiente e outros também, o importante é que o aluno possa apresentar o seu pensamento de forma autônoma e crítica. Assim, é dada a oportunidade ao aluno de pensar na importância das florestas, dos animais, dos oceanos e etc.
Outro aspecto que pode ser observado no pensamento de Paulo Freire e trazido para a sala de aula das crianças é quando as vemos como agentes transformadoras da sociedade e do meio onde vivem, ou seja, a criança que tem o pensamento crítico ela consegue com a sua curiosidade transformar o mundo em sua volta fazendo com que os adultos reflitam sobre os seus gestos e atitudes. Isso pode ser bem utilizado quanto ao meio ambiente, pois a criança que dialoga na escola sobre a natureza vai saber que não se pode jogar lixo na rua e, logo vai chamar a atenção do adulto para a sua atitude. Com isso, ela consegue transformar as pessoas para melhor criando um mundo mais saudável para se viver.
Transformar a sociedade para uma criança sozinha pode ser bem difícil e quase impossível, mas se a criança tiver o auxílio de pais e professores certamente ela conseguirá. Essa sociedade que está cheia de vícios e atitudes agressivas ao meio ambiente. Não se aprende mais soletrando como antigamente, mas se aprende ainda conhecendo as coisas no entorno da escola e com o conhecimento de mundo que as crianças trazem para dentro dela. E isso é importante.
“Em ‘Pedagogia da indignação’, Freire diz que não tem como a educação acontecer sem levar em conta o entorno da escola. Do pensamento freiriano o aluno sabe que está inserido num local e que faz parte do planeta. Com esse saber o aluno ou criança traz tudo o que tem fora dos muros da escola para dentro dela. E o que tem no planeta de grandioso? O meio ambiente. Essa natureza que precisamos cuidar e que os adultos todos os dias a agridem.
Quando uma criança vê uma floresta sendo queimada ou uma árvore sendo derrubada isso está ocorrendo no local onde vive e é preocupante para ela saber que não pode fazer nada sozinha, mas pode levar tudo o que presenciou lá fora para dentro da escola e dialogar com os professores e amigos sobre o que fazer para evitar tais problemas ambientais. A criança conhece melhor o nosso planeta do que nós próprios porque ela pesquisa, ela lê, ela é curiosa, ela busca nos livros e na internet respostas sobre coisas que deixamos passar despercebidas. Na fase da alfabetização quando se está aprendendo a ler a palavra “árvore” muitas dúvidas surgem na sala de aula, muitos pensamentos são expostos e tudo isso o professor deve aproveitar para construir um diálogo onde as crianças tenham vez e voz de falar.
Quando a gente fala da natureza nos vem à mente logo florestas, oceanos e animais. Mas, há uma dimensão muito maior em tudo isso que é preciso pensar criticamente sobre como resolver as questões que estão ameaçando a natureza. Há uma ideia no senso comum de que a educação ambiental é necessária para salvar as árvores, os animais e os rios das agressões dos adultos, porém é algo que vai mais além.
Faz-se necessário cuidar da natureza porque ela é a garantia da vida como um todo e porque a gente está ligado a ela. Neste contexto entra mais uma vez o pensamento de Paulo Freire, pois a garantia de vida do homem só pode ocorrer se ele cuidar das coisas ao seu redor, do seu local de moradia, do seu planeta. Assim é que quando ensinamos as crianças a plantarem árvores e limparem as folhas secas dos canteiros das nossas cidades estamos ensinando-lhes a cuidarem do planeta, mas para isso é preciso que as expliquemos o motivo de estarmos praticando aquela ação e deixemos que elas nos façam perguntas.
O nosso grande educador Paulo Freire não escreveu textos propriamente sobre o meio ambiente, mas o seu pensamento tem muitas questões que podem servir para o seu ensino. Como todo bom educador, o seu pensamento pode ser utilizado em todas as áreas do ensino.
A educação crítica problematiza, faz o aluno pensar, sai do comodismo e nos traz indagações necessárias aos dias atuais: isso sempre foi assim? Pode ser diferente? O que fazer agora? Como fazemos? Por que estamos fazendo assim? Como melhorarmos? São indagações como essas que levam as crianças a refletirem sobre os problemas que têm afetado o meio ambiente e que precisam ser discutidos tanto dentro da escola como em casa e nas brincadeiras com os coleguinhas.
Afinal, uma criança não pode permitir que o seu amiguinho jogue a garrafa plástica que tomou água no meio da rua, mas explicar a ele o motivo de não fazer aquilo para o bem do nosso planeta.
Uma contribuição freiriana importante para a educação ambiental é a visão do ser humano como ser inacabado, logo o mundo é inacabado também e pode ser transformado. O que isso quer nos dizer? A criança precisa saber que ela vai aprender um pouco todos os dias e que ela vai se moldando ao longo do tempo. Essa aprendizagem a ajudará a transformar o mundo ao seu redor, pois fará dela uma pessoa crítica e reflexiva em relação as coisas como lhe são apresentadas e como gostaria que elas fossem.
O mundo pode ser modificado por nós, cada um de nós pode interferir no mundo e fazê-lo ficar parecido conosco. Como seres inacabados, as crianças sentem vontade de todos os dias irem para escola e aprenderem um pouco mais para formarem os seus espíritos com conhecimentos críticos que possam auxiliá-las a construir um mundo melhor para si e para as pessoas que amam. Você já experimentou perguntar para uma criança: o que você faria para melhorar o planeta? Certamente muitas respostas interessantes serão alcançadas e assim formar um grande diálogo sobre este assunto.
Ainda em “Pedagogia da indignação”, Freire diz que não tem como a educação acontecer sem levar em conta o entorno da unidade escolar. A criança aprende que o planeta é algo que está ali perto de si, ao seu entorno, é o seu bairro, é a sua rua, é a sua casa. Descobre que o planeta não é algo abstrato e longe de si. Assim, a escola passa a ser um lugar onde vai contribuir com a cidadania planetária. A criança se percebe nesse local e que as suas atitudes vão contribuir para o todo e que é preciso melhorar as ações para a vida continuar existindo. É neste momento de descoberta por parte da criança que o professor e os pais devem apresentar-lhes filmes, documentários e livros sobre a importância de proteção ao planeta. Isso ajudará a criança a entender que o seu planeta Terra é esse lugar onde vive e onde estão todas as coisas ao seu redor e que tudo o que fizer impactará nele.
Para a criancinha, o planeta parece ser uma coisa longínqua e que ela nunca vai alcançar, quando na verdade ela precisa descobrir que vive dentro dele.
O professor pode convidar a criança para descobrir as coisas fascinantes do nosso planeta Terra fazendo caminhadas entorno da escola, fazendo trilhas em sítios ecológicos, passeios a parques florestais. Ele também pode encorajar a criança a falar do local onde vive, como é a sua rua, como é a sua cidade e o que acha delas. Esses conceitos freirianos podem ser trabalhados com teatros de fantoches, paródias, desenhos e etc. Os desenhos podem ser bastante explorados sempre solicitando para que as crianças desenhem como é o lugar onde vivem e como poderia ser para melhorar a vida ao seu redor. O professor deve permitir que a criança crie e não aprontar nada para ele. Também deve sempre se manter o diálogo buscando explorar a curiosidade das crianças sobre os problemas de calçamento, saneamento básico, lixo nas ruas e etc., nesses debates.
O que faz do pensamento de Paulo Freire uma aproximação com a educação ambiental é o reconhecimento do ser humano de que está sempre se transformando e encontrando novas soluções para um viver melhor. Assim é preciso ensinar a criança. Que ela possa aprender a buscar sempre transformar-se para que a sua vidinha seja sempre cheia de alegrias e coisas boas. Com isso, a criança sabe que se o dia hoje não foi bom para ela, amanhã poderá ser melhor e que se não conseguiu aprender um assunto ensinado pelo professor hoje terá o amanhã para aprender. É preciso ensinar a criança que todos os dias é tempo de aprendemos algo novo e de que devemos agir sempre em busca do bem do nosso planeta para uma vivência saudável.
O diálogo e o agente transformador começam dentro de casa e depois vai para a escola, é preciso que os pais saibam disso desde a tenra idade da criança. Não basta entregar a sua criança a escola e esperar que ela faça tudo para a aprendizagem crítica e reflexiva do seu pequenino ser, mas que esse ser inacabado possa sempre agir para transformar o mundo ao seu redor e transformar-se a si mesmo visando o melhor para a sua vida e para tudo aquilo que está ao seu redor.
Ensinar as crianças a cuidar do meio ambiente para que a vida continue existindo é bastante importante. E esse ensinamento pode chegar com o pensamento de Paulo Freire dando autonomia à criança para pensar por si mesma e não que lhe introduzam conhecimentos no seu pensar sem que possa refletir para que isso tudo vai lhe servir.
Todo conhecimento ensinado a criança deve ter um motivo, uma explicação, não se vai descendo goela abaixo um conhecimento que nem se sabe o que vai fazer com ele agora ou mais tarde. É preciso respeitar o pensamento da criança. Também é preciso respeitar o seu conhecimento de mundo. O professor deve se colocar como um mero observador, quem é o protagonista de tudo é o aluno, ou seja, a criança.
E foi Paulo Freire que nos disse “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.” Que nós possamos ver alegria nesse processo de busca ao transformar as coisas ao nosso redor e ao nos transformar sempre almejando a boniteza dos nossos gestos. Os gestos da criança que pensa com autonomia são sempre grandiosos e curiosos, ela quer cada vez mais saber o porquê das coisas e isso faz bem para si. Quando crescer passará a ser um adulto crítico que não aceitará determinadas atitudes e palavras que possam ferir o seu espírito crítico e reflexivo.
Da mesma forma se apresenta a criança que quer transformar o seu planeta, de repente ela pode com a ajuda dos pais plantar uma árvore no seu quintal ou desenhar um dia de sol para presentear a vovó. Tudo é motivo de alegria e boniteza quando a busca necessária ao conhecimento se dá através de um ensino-aprendizagem onde a criticidade da criança possa dialogar com as nossas ações e atitudes diante do mundo que nos rodeia.
Deixo vocês nesta manhã de primavera com os versos do meu amado poeta Alberto Caeiro, o poeta da natureza, que nos diz o seguinte “Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores? / A de serem verdes e copadas e de terem ramos / E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar, / A nós, que não sabemos dar por elas. / Mas que melhor metafísica que a delas, / Que é a de não saber para que vivem / Nem saber que o não sabem?”
Que as nossas crianças não precisem saber para o que vivem assim como as árvores do nosso poeta, e que a as suas metafísicas sejam sempre as de buscar o nada dentro de uma árvore frutífera desenhada nos seus pensamentos críticos. Amei estar com vocês nesta manhã linda onde os pardais cantam à minha janela!
Começamos a nos educar quando passamos e exercitar a admiração pela beleza da vida, não como turistas, mas como nativos que dividem o seu território, o seu ambiente exterior e interior com os demais seres que o habitam. Quando, então, amar e respeitar se tornam ações compartilhadas. E hábitos são transformados a partir de um contínuo trabalho interior. (Sergio Augusto Sardi) Leia mais: https://www.neipies.com/educacao-ambiental-e-pedagogia-do-amor/
Autora: Rosângela Trajano
Edição: Alex Rosset
PAULO FREIRE, O MESTRE MAIOR ME INSPIROU COM SUAS OBRAS,TODA A JORNADA DE PROFESSOR. É O meu Patrono na Academia de Letras, ciências e Artes de Ponte Nova – ALEPON. Seu texto tem tudo a ver com a obra dele. Tambem6me lembrei do grandioso Leonardo Boff, na sua obra “Ética da vida”. Excelente, Danda, parabéns!
Também me lembrei*
Belo artigo! A educação freirinha é linda e eficaz, pois produz no adulto e na criança a criticidade reflexiva, na qual o aluno é o agente do seu processo educativo, pois aos poucos vai aprendendo sobre si, sobre o outro e sobre o mundo, que começa pelas observações do entorno da escola, da sua casa e do seu bairro, sendo assim, logo a criança ou adulto se percebe importante em suas ações para o bem estar coletivo , o qual leva o aluno a se ver que faz parte do mundo e que suas ações contribuem para a continuidade da vida no planeta…
Excelente texto, amiga. Parabéns
Parabéns pela escrita…