Como? Pensou Helena. Consumindo, ou melhor, comprando algo que ela deseja e entregue? Doía mais porque no fundo, o que estávamos ensinando para uma criança é que a felicidade se encontrava nas coisas materiais.
Helena estava no shopping (não era um lugar que ela costumava frequentar com frequência, mas, o mercado que ela frequentava ficava no shopping, então sim, podemos dizer que ela frequentava parte do shopping com frequência!).
Como de vez em quando a vontade dela por doces, principalmente na TPM, superava tudo que ela sabia sobre os malefícios do açúcar, ela resolveu comprar um sorvete (com bastante cobertura de chocolate e caramelo! Mais doce que batata doce).
Ao sair do mercado, rumo ao seu objetivo maior, o sorvete!
Helena se deparou com os enfeites natalinos, e uma árvore com algumas cartinhas. Ela resolveu espiar. Espiou várias.
Todas elas seguiam um padrão: endereçadas para o dito Papai Noel, solicitando os seus respectivos presentes: que iam desde uma boneca até uma bicicleta, ou um vídeo game.
Ao fechar e devolver a última cartinha lida, Helena olhou para a placa que dizia “faça uma criança feliz neste natal”.
Como? Pensou Helena. Consumindo, ou melhor, comprando algo que ela deseja e entregue? Doía mais porque no fundo, o que estávamos ensinando para uma criança é que a felicidade se encontrava nas coisas materiais.
Ela respirou fundo e foi em busca do seu sorvete até que, ao invés de aproveitar o seu sabor, a cabeça dela insistia em pensar nas crianças. Prometeu a si mesma que depois do sorvete ela voltaria à árvore.
– Oi moça. Você por acaso tem o contato de algum responsável por essas cartinhas?
– Sim, só um minuto que vou lhe passar.
– Contato salvo, muito obrigada!
. . .
No dia de Natal, Helena foi até uma comunidade carente da cidade. Onde havia pedido permissão para organizar um encontro com a criançada.
Um abraço gostoso e demorado com cada criança, uma apresentação e um convite estendido aos pais para participarem do momento. Sentados em círculos, Helena pediu aos pais que compartilhassem com as crianças, como eles costumavam brincar antigamente.
A cada nova história, Helena anotava atentamente as brincadeiras, uma em cada bilhete, acrescentando tudo em uma caixa.
– Por favor, alguém pode pescar um papel dessa caixinha!
– Gabi, uma criança de 5 aninhos levantou o seu dedinho e pescou um papel.
Esconde-esconde…pega-pega… pular corda …
Helenas, as crianças e seus pais passaram um dia inteiro brincando juntos. Ao final, todos estávamos cansados, mas, com algumas certezas: que elas dormiriam bem naquela noite e que provavelmente nunca mais esqueceriam aquele dia.
Autora: Ana P. Scheffer. Também escreveu crônica: “Um fenômeno intitulado Final de ano”: https://www.neipies.com/um-fenomeno-intitulado-final-do-ano/
Edição: A. R.