“Vivemos tempos de grande ignorância, como um sintoma da falta de valorização da escola. Ademais, há a romantização e idealização do professor como alguém capaz de sacrifícios enormes para cumprir seu “ideal”. Essa visão romântica da educação aparece sobretudo nos meios de comunicação, mas é reflexo do pensamento de uma sociedade na qual o valor do professor não é o mesmo de outros profissionais.
(Valquiria Ponciano, arte-educadora e arteterapeuta)
“Há carência de momentos e espaços para escuta do professor. Somos professores por profissão e educadores por missão, mas, sobretudo, somos pessoas, gente. Se faz necessário que o professor assuma um protagonismo para além do espaço escolar. A educação constrói conhecimento, mas, também, socialização. O conto “O Mundo” de Eduardo Galeano ajuda a entender a humanidade dos professores e o reconhecimento das humanidades que existem em cada um de nós e em cada pessoa”.
(Nei Alberto Pies, professor e escritor).
Conheça o conto
“Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo”.
Eduardo Galeano, escritor uruguaio.
Publicado no Livro dos Abraços, editora LPM, 1991. Leia mais aqui.
“É necessária a politização do professor, entendendo a política como um exercício de cidadania. Não é aceitável vermos o Brasil com tantas riquezas sendo apropriadas por poucos e expropriadas por outros países do mundo. Fico preocupado com o futuro da profissão, uma vez que os jovens já não demonstram muito interesse em ser professores. Isso é resultado de anos sem investimento, cuja relevância aparece apenas em véspera de eleições. O discurso da “escola sem partido” é, na verdade, o desejo de uma escola “sem consciência”.
(Mauro João Calliari, professor aposentado e membro da direção do CPERS).
“Educar é, sobretudo, ampliar a consciência da própria realidade e do mundo. A escola deve ser espaço de formação humana, de promoção de aprendizados, mas, sobretudo, fomentadora de autonomia e consciência de classe visando ao protagonismo do aluno como sujeito da história. Se o aluno tiver acesso à consciência de sua realidade política e social, ele saberá agir para a mudança da realidade. Esse papel não se efetiva sem a participação das famílias. As aulas à distância, durante a pandemia, relevaram como o meio familiar se reflete no aluno. É na família, onde a falta de políticas públicas revela suas consequências”.
(Renata Piasentini da Rocha, professora de História na rede estadual).
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O que os professores relatam em seus olhares, é o lado sensível da visão utilitarista e economicista da educação, em que o professor passa a ser apenas uma engrenagem da máquina, exigindo-se dele resultados quantificáveis, e onde os alunos são vistos como produtos de uma fábrica. A desvalorização da educação e do professor é uma estratégia do projeto neoliberal do mundo.
Os estados e os governos preferem investir na produção de conhecimentos úteis e determinados, reduzindo o papel da arte e das humanidades, seja porque não geram lucro aparente, seja porque promovem a consciência e o questionamento do status quo vigente.
Por isso, nestes tempos de escolhas políticas para a cidade, é necessário votarmos naqueles que se comprometem em ouvir e ser voz dos educadores, em partidos cujos princípios sejam comprometidos com as pessoas, com mudanças sociais, com igualdade e respeito à diversidade.
Prefeitos e vereadores devem estar comprometidos na implementação de políticas públicas amplas, as quais, de modo direto ou indireto, promovem a vida digna das famílias, refletindo na valorização dos docentes e no protagonismo dos alunos.
Não vote em quem não acredita na educação, na ciência, e quem acha que os educadores tem privilégios e são vagabundos. Um pouco de amor próprio e caldo de galinha só nos fortalecem!