Eventos climáticos extemos são desequilíbrios do clima que afetam diretamente o nosso cotidiano, causando perdas e destruição; abalando a nossa saúde física e mental, além de influenciar em fatores econômicos, sociais e ambientais de uma região.
Julgo que se faz de extrema importância refletirmos sobre esses eventos, principalmente, no contexto atual em que o Rio Grande do Sul, um estado da região sul do Brasil, passou por uma das maiores enchentes da história, sendo que, no ano passado, já havíamos passado por um evento semelhante.
Não há como ignorar a reincidência de chuvas intensas em um curto período de tempo. E fica difícil de entender isso como meramente uma ação da natureza, como se ela fosse um ente isolado, e nos abster de nossa influencia no meio em que vivemos.
Nesses últimos dias, argumentos como “o homem não tem influência no clima”, acompanhado de teorias conspiratórias que não agregam em nada na resolução de nossos problemas, foram bem recorrentes, mesmo com o alarme das mudanças climáticas, embasadas na ciência.
Mas, responda-me, quando você acende uma lareira, queimando lenha em sua casa, você consegue alterar o clima daquele ambiente? Fica mais quente, né? Então, podemos dizer que sim, não é mesmo?
– Aí Ana, mas se eu acender um fogo em um campo aberto, a minha influência é insignificante.
Quando você contabiliza um campo aberto, você tem que contabilizar a influência de 8 bilhões de pessoas, acrescido as indústrias que criamos, os veículos que utilizamos e tudo mais que de alguma forma influencia no clima, geralmente, acrescentando calor por meio da queima de combustíveis fósseis.
Como resultado de nossas ações, temos o aumento de dióxido de carbono na atmosfera, que curiosamente, após a revolução industrial aumentou em 120 partes por milhão em apenas 150 anos. Um aumento muito significativo em curto período de tempo. Que por sua vez, age no clima, aumentando a tendência de reações extremas e mecanismos compensatórios.
Digamos que a natureza pode ter o seu ciclo de chuvas intensas, períodos de muito frio ou muito calor, mas, isso não significa que esse contexto não possa ser agravado pela ação humana, porque somos parte da natureza, e é justamente o que parece estar acontecendo.
Se há algo que possamos aprender com esses eventos é o quanto parece não existir fronteiras para o clima ou quando o assunto interfere na vida de todos os seres aqui no planeta. E que ações isoladas, por mais que tenham a sua importância e seu papel mitigatório, não serão o suficiente. Precisaremos estabelecer uma sinergia enquanto humanidade em prol do mesmo objetivo.
Ao mesmo tempo, cabe aos principais envolvidos nesses eventos climáticos extremos, desenvolver meios com a finalidade de se reestabelecer, se aprimorar, e se proteger. Diante do exposto, esta produção tem por interesse apresentar aspectos a serem refletidos, tendo como referência o evento de chuvas intensas aqui no Rio Grande do Sul.
Farei isso com base em minhas vivências nesse período, além dos conhecimentos que adquiri por meio de minha formação como arquiteta e urbanista e filósofa. Longe de ser um manual de como fazer as coisas, meu principal interesse é abrir um espaço para que possamos pensar em meios de aprimoramento, a fim de que sejamos mais eficazes quando o assunto for a nossa segurança e bem-estar.
Convido você a utilizar os comentários como meio de também compartilhar a sua experiência, as dificuldades mais observadas neste período e suas sugestões de como o gerenciamento das questões relacionados aos eventos climáticos extremos pode e deve ser aprimorado.
Deixo aqui a minha esperança que possamos ser ouvidos!
Caso você não possuir sugestões e mesmo assim desejar contribuir, compartilhe este texto, fazendo com que mais pessoas possam ter contato com essas ideias!
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Sabe, se tem uma questão que me alinha toda vez que eu cometo um erro ou uma falha, é destinar um tempo para refletir sobre o que aconteceu, e estabelecer diretrizes de como evita-lo quando um contexto semelhante surgir. Essa estratégia costuma aliviar meus sentimentos incômodos graças a sensação de que eu estou fazendo algo por isso.
Portanto, talvez a pergunta que todos nós possamos nos fazer, e nossos governantes precisem encarar, é o que poderia ter sido feito, que não foi, para que esse contexto fosse no mínimo amenizado?
E aqui eu sigo com as minhas reflexões…
1. Sobre os planos, os papéis e o gerenciamento político.
A primeira sugestão que me vem em mente se trata de um plano de contingência. Que muito mais que um documento formal, visa estabelecer diretrizes, procedimentos e ações a serem adotadas em caso de ocorrência de desastres naturais entre outros eventos adversos que possam colocar em risco a nossa segurança e bem-estar.
Agora eu lhe pergunto: a sua cidade tem um plano de contingência? Você recebeu alguma orientação de como agir em situações como essas? Indo um pouco além, se existe esse plano, como ele dialoga com a região, o estado e o país? E como podemos fazer com que o plano não seja mais um papel caro e engavetado aqui no Brasil?
Se algo ficou evidente neste período de enchentes foi o quanto necessitamos ter mais clareza de como agir em situações como estas, além de um diálogo claro e coordenado pelo órgão de referencia com as pessoas que desejam ajudar. É por isso que precisamos de um plano.
Mas, por onde a gente começa? Pelos interessados, ou seja, nós. Porque se há algo que está ficando cada vez mais escancarado, é que delegar questões que dizem respeito diretamente a nossa qualidade de vida, para instâncias maiores, excessivamente burocráticas, pouco efetivas e muito distantes de nossa realidade, não está dando certo. Em resumo, a gente pode contar com o apoio deles, mas precisaremos ser protagonistas.
Eu recomendaria, após o encaminhamento das questões urgentes, aproveitar o momento para reunir as lideranças da sociedade civil e redigir um documento solicitando o apoio do poder municipal na elaboração de um plano de contingenciamento.
Começar com perguntas básicas como qual é o objetivo deste plano e como a gente cumpre com ele, pode ajudar na hora de colocar as coisas no papel. Convocar pessoas que entendam do assunto também, além de dar ouvido a população e as principais dificuldades enfrentadas neste período.
Outra questão fundamental é o mapeamento. Podemos utilizar este evento para favorecer o mapeamento das áreas de risco como ter em mãos uma estimativa de habitantes desta região. Aos poucos, conforme formos nos organizando, podemos criar até mesmo uma rede compartilhada de soluções, para que mais municípios possam refletir e implementar, e aqui sim entra o papel do estado e porque não dos conselhos, como orientador, condutor e conector de nossas ações.
Falando em papel… é importante aproveitar o momento para estabelecer ou no mínimo ter mais clareza sobre o papel dos órgãos federais, como também dos conselhos, universidades, associações e entidades nesses eventos. Dar nome ao problema e compreender como cada um pode contribuir com a resolução e o que é mais indicado cada um fazer, tendo em vistas o objetivo último, deve reduzir essa sensação caótica de sentir que nossos esforços são insignificantes. Ou de fazer tudo ao mesmo tempo e no final sentir que não estamos fazendo nada.
Outra questão que podemos nos questionar é como garantir que de fato tais planos sejam implementados. E aqui, além de estabelecer estratégias claras e indicadores a fim de que consigamos medir o progresso, quem sabe possamos ajustar alguns papéis.
Por exemplo, eu vejo que é uma prática legal do conselho de arquitetura e urbanismo fiscalizar obras para conferir se elas têm o devido responsável, isso também é feito pelo conselho de engenharia, e também é dever dos fiscais municipais. Resumindo, são três entidades fazendo a mesma coisa.
Mas, quem é que fiscaliza a prefeitura por elaborar, seguir e implementar os planos? Por exemplo, não é incomum ver cidades elaborando planos, como o de mobilidade, apenas para o cumprimento legal, mas sem a real efetivação. Ou de planos diretores sendo elaborados para o favorecimento de alguns ao invés de todos. Ou nos casos, geralmente de municípios menores, em que as normativas estão defasadas e o setor de planejamento urbano é praticamente inexistente?
Digamos que em uma sociedade ideal, as pessoas devem fazer algo não por medo de punição, mas por compreender que aquilo é o certo a fazer. E assim na pessoa adulta cresce a capacidade de autogerenciamento. Em outras palavras, ninguém precisa cobrar uma prefeitura que entende a importância da implementação de um bom plano, porque ela vai buscar implementar.
Mas, talvez, os municípios que fazem um plano apenas para cumprir a lei, ou em muito dos casos, não o efetivem por questões de interesses pessoais, ou por plena ignorância, precisem de uma mãozinha. Ou melhor, um conselho de conselhos não só de arquitetura e urbanismo e engenharia, como também de advocacia, contabilidade, psicologia dentre outras áreas fundamentais e que tem muito a contribuir no gerenciamento político e por consequência no planejamento e efetivação de ações em nossas cidades.
Já que não podemos garantir que a pessoa mais indicada assuma o cargo de prefeito, dentre outros cargos importantes que muitas vezes é a base indicações pouco fundamentadas, ao menos que possamos garantir que independentemente de quem esteja lá, receba uma orientação e possa compreender a importância de certas ações, sendo também cobrado por isso. E aí, ao invés de fiscalizar as obras, a gente possa ajustar algumas atribuições e fazer com que os conselhos fiscalizem e orientem a prefeitura que vai não só fiscalizar obras, como também executar os planos.
1.1 Alertando sobre os alertas
Outra questão evidente que veio à tona neste período foi a necessidade de se estabelecer uma rede de avisos eficiente, em que cada município tenha um responsável por receber e repassar informações oficiais e embasadas nos estudos meteorológicos sobre o alerta de possíveis eventos climáticos extremos. Isso porque, não dá para avisar as pessoas apenas pelas redes socias. Precisamos aperfeiçoar esse mecanismo e aqui vale abrir um edital para receber muitas ideias. Desde aplicativos, cadastro de números para chamadas no celular com mensagens automáticas, sirenes enfim, o momento é de captar e organizar ideias e aplica-las.
Mas, digamos que a gente recebeu o alerta, e agora, a gente faz o que? Aqui vem a importância da orientação, treinamento e de um plano. A população precisa ter clareza de onde ir e como agir em situações como esta.
1.2 Definição e gestão de Alojamentos
Ou seja, alerta eficaz e evacuação da área com destino aos alojamentos elencados pelo plano de contingenciamento. Esses espaços, principalmente para cidades menores, poderiam ser de uso hibrido, como por exemplo um salão de festas, que vira alojamento.
Sim, isso é o que está acontecendo, mas podemos nos aperfeiçoar, como por exemplo: ampliando os banheiros e acrescentando chuveiros; ter uma planta setorizada a fim de orientar a instalação de divisórias leves e removíveis, que podem ser aquelas que a gente vê nas feiras. Ações como essas podem tornar espaço habitável e menos caótico, por um tempo maior, principalmente àquelas pessoas que perderam até mesmo a sua casa.
Outra questão seria um manual básico de gerenciamento de pessoas, que pode ser um para todo o estado. Quando criado por quem entende do assunto é uma estratégia que poderá adiantar muito o processo, porque já antecipa os principais problemas, apresentando soluções. Porque acredite, manter pessoas assustadas e desconhecidas reunidas em um espaço não é uma tarefa fácil. E fica muito pior quando a gente não tem experiência. E eu não sei se você percebeu, mas novamente, eu recorro a necessidade de sistematizarmos e otimizarmos o conhecimento, porque eis uma ferramenta poderosa e subutilizada.
Pensemos que quando essa evacuação é feita de forma planejada e antecipada, dá tempo de levar consigo o essencial que é comida, água, medicamento e higiene. E caso isso faltar, fica mais fácil de entender a demanda quando as pessoas estão reunidas e contabilizadas.
Falando em demanda…entramos aqui em uma das questões que, na minha opinião, mais carecem de um plano. É natural que em uma situação como a que passamos, sem a devida orientação, as pessoas solicitem ajuda ao maior número de pessoas possíveis, sem muito detalhe; e isso não está errado quando analisado um cenário desesperador. Mas, isso pode gerar um certo desequilíbrio como pessoas não recebendo o que precisam e pessoas recebendo algo que elas não precisam e que pode estar faltando em algum lugar.
É por isso que se faz indispensável aplicar um sistema de gerenciamento de demanda. Aqui vale a sugestão de um aplicativo de captação de demandas, conectando pessoas que precisam de ajuda e pessoas que querem ajudar. Mas, de forma sistematizada com levantamento de demanda, a fim de compreender qual é a prioridade para aquelas pessoas e com base nessa análise organizar as campanhas; adoção de pedidos, a fim de que consigamos distribuir a ajuda de forma otimizada, não concentrando o envio em um só lugar; além do acompanhamento por geolocalização e confirmação de entrega.
Agora, voltando ao contexto de evacuação, podemos pensar também que com antecipação, podemos inclusive ajudar a relocar os móveis e eletrodomésticos. Mas, o detalhe vem agora: se há algo que possamos aprender com esse contexto, é o quanto precisamos nos unir como sociedade e transcender a noção de que o órgão municipal vai fazer tudo. E acreditem, a nossa força e a nossa visão das coisas podem transformar o estado.
É por isso que ao invés de esperar que o município faça esse serviço, podemos nos organizar como voluntários cadastrando caminhões e camionetes, pessoas para carregar e locais de recebimento desses objetos. No entanto, vale a reflexão que quanto mais frequente for a necessidade de evacuação mais pessoas vão se sentir cansadas em ajudar. Porque, mais vai ficar óbvio que essa ação não é sustentável e que essas pessoas precisam sair de lá.
Talvez, você esteja se perguntando, porque eles não saem agora? E aqui eu lembro de uma história de um casal de idosos com seus 80 anos que tiveram a sua casa inundada perdendo muita coisa. E o que mais fica evidente neste contexto é que precisamos constatar a recorrência para tomar medidas mais extremas como sair da própria casa. Precisamos sentir que vale o esforço de tanta mudança e isso talvez possa ficar mais claro no decorrer do tempo, quando nos sentirmos incentivados e amparados.
2. Reconstrução com orientação
Existem também os casos de cidades que ficaram de baixo d’água. De casas que foram destruídas pela enchente, incluso àquelas em situação irregular, construídas em áreas de preservação permanente que de alguma forma escancara a nossa incapacidade de resolver problemas sociais que também são problemas de gestão urbana.
Quando o dinheiro é pouco, fica evidente a necessidade de priorizarmos os investimentos em medidas eficazes. Receber uma verba do estado para reconstruir da mesma maneira uma cidade que tem alta probabilidade de ser inundada novamente, é o mesmo que investir em uma empresa com altas chances de falir e a falência significa risco de vida dessas pessoas.
Nesse caso julgo que as cidades interessadas em verba necessitem apresentar uma proposta, deixando evidente o problema com números, e uma estratégia de solução sustentável no contexto ambiental, social e financeiro. Algo bem diferente do que uma corrida por verba, feita sem o mínimo planejamento.
E para tanto eu insisto, precisamos de planejamento, caso contrário a verba que poderá faltar estará sendo empregada em “soluções” que não se sustentam.
O papel do estado nessa fase deve ser orientativo, organizando metodologias para o levantamento e a condução das propostas, prevendo parcerias com os conselhos e inclusive com as universidades. Há muito venho salientando o quanto estabelecer vínculos entre a teoria dos estudos universitários com a prática da implementação publica beneficiaria a todos nós. É um disparate não fazer isso!
Em alguns, casos medidas de engenharia e urbanismo para o escoamento da água pode ser suficiente e compensatório. Em outros, talvez, fique evidente o quanto que a migração dessas pessoas para outros locais ou cidades será necessário. Aqui entra algo que já deveríamos ter faz tempo e que eu nomeio como o acompanhamento social.
2.1 Acompanhamento social
A lógica em teoria é simples. Você se muda, consegue um emprego, aluga uma casa e recomeça. Mas, existe emprego para essas pessoas? O salário que ela recebe será suficiente para pagar as suas contas? Ela tem estrutura emocional para se manter em um emprego? Ela sabe o básico de educação financeira para administrar os seus gastos?
Diante do exposto o plano de acompanhamento social seria estabelecido por meio de uma sinergia em três eixos: emprego, gestão de finanças e gestão emocional.
Facilitar a busca por vagas de emprego
A primeira sugestão seria lançar um site ou app de referência preferencialmente com uma parceria entre o governo e uma plataforma existente, mas simplificada, porque quanto mais complicada for a ferramenta, menor será a adesão. Algo que possamos visualizar todas as vagas disponíveis, separadas por categoria e cidade, com um mecanismo de atualização eficiente, para que ninguém perca tempo indo atrás de uma vaga que já foi preenchida. O segredo aqui é centralizar a informação e utilizar a tecnologia como propulsora.
Instruir quanto ao gerenciamento financeiro
Mesmo quando uma pessoa consegue um emprego, será que o salário que ela recebe é o suficiente? O detalhe, é que a gente só consegue responder essa pergunta com eficácia quando temos um controle mínimo de quanto está entrando e quanto está saindo. E com base nisso, traçar estratégias. Isso nos ensina a ter autocontrole, a ter consciência de nossas escolhas, a compreender como se capacitar pode resultar em um retorno financeiro melhor. Existe muitas questões importantes sobre finanças que poderia fazer a diferença na vida de muita gente, e infelizmente, a gente não vê nenhuma condução nesse sentido. Uma metodologia simplificada, vídeos e um acompanhamento pontual, seria uma proposta em prol de capacitar essas pessoas a fazer escolhas conscientes e gerenciar a sua própria vida.
Instruir quanto ao gerenciamento emocional
E agora vem a questão que para mim é chave, e talvez dada a complexidade, negligenciada, que é o gerenciamento emocional. Porque muitas pessoas não tem estrutura psicológica para se manter em um emprego; para lidar com os seus traumas ou ameaças reais e constantes que são muito fortes. Nesses casos, quando não é possível fazer um acolhimento individual, podemos trabalhar com rodas de conversas orientadas por profissionais da saúde mental, que além de favorecer uma rede de apoio, também nos mostram que não estamos passando por isso sozinhos. A ideia de uma plataforma com conteúdos sobre gerenciamento emocional também é válida e eu diria que extremamente necessária.
Em resumo, se tivermos uma estratégia clara e bem organizada de acolhimento dessas pessoas em situação de vulnerabilidade, e um suporte desses três pilares, implementados por uma sinergia que empregue, que oriente financeiramente e emocionalmente essas pessoas, é muito mais provável que as nossas políticas sociais sejam efetivas e com toda certeza o reflexo delas será sentido por toda a sociedade.
Por mais que haja uma boa intenção em uma política assistencialista, ela não é sustentável quando não capacitamos essas pessoas a gerenciar a própria vida. E aqui eu questiono se realmente estamos fazendo o básico, que é ensinar a pescar.
Mas, Ana. O estado está quebrado, ele vai ter condição de criar aplicativos, contratar consultores financeiros e psicólogos? É aqui que entra o exemplo que estamos vivenciando no Rio Grande do Sul, cuja organização da sociedade civil está sendo protagonista no amparo as vítimas.
Em verdade, está mais do que na hora da gente assumir que a estrutura política que deveria nos gerenciar não dá conta de resolver os nossos problemas inclusive de caráter social, e com isso ampliar o nosso campo de possibilidades.
É o momento de pensar para além das estruturas estatais, organizando parcerias público-privadas, trabalhando junto aos conselhos e universidades. É a hora de reconhecer a importância e incentivar o voluntariado por meio de isenções fiscais e outros mecanismos que de algum modo estime a nossa participação.
Quando nos organizamos, podemos fazer tudo isso sem sobrecarregar ninguém. O trabalho de formiguinha constrói um formigueiro quando a orientação for clara, respeitosa e bem conduzida. Com isso também podemos preencher o vazio que nos inunda pela falta de sentido, ao fortalecer o nosso espírito comunitário e nos sentirmos amparados pela sensação de pertencer e estar contribuindo com algo maior.
E esse seria o maior legado que poderia emergir em uma sociedade naufragada, não apenas pela água.
Autora: Ana P. Scheffer. Também escreveu e publicou no site “Crise ambiental, ética e sustentabilidade”: https://www.neipies.com/crise-ambiental-etica-e-sustentabilidade/
Edição: A. R.