O que aprendemos com as crianças que não aprendem

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Nós devemos aprender com as nossas crianças que têm dificuldades de aprendizagem a nos respeitar, a dar um tempo para as exigência do dia a dia, a pararmos um pouco e refletirmos sobre o que estamos fazendo conosco e com quem amamos e se estamos no caminho mais curto para chegarmos à felicidade.

Inicio o texto de hoje com o poema de José Paulo Paes intitulado “Convite” que nos diz nos seus versos “… As palavras não: / quanto mais se brinca / com elas mais novas ficam…” É preciso aprender com as crianças que não aprendem que somos humanos e não robôs, cada um tem o seu tempo de ser e estar entre as palavras e os números.

Tendemos a ter vergonha das nossas crianças quando elas tiram notas baixas na escola, são reprovadas ou somos chamados para conversar com a professora porque elas não estão se saindo bem nas disciplinas. Com isso, o nosso primeiro impulso é castigar a criança.

Castigo resolve alguma coisa? Há quem diga que foi castigado na infância e cresceu uma pessoa bondosa e trabalhadora. Isso era em outros tempos, as coisas mudaram bastante. As crianças não podem ser castigadas todas às vezes que fugirem do padrão.

Sua criança não precisa a todo instante mostrar que ela é a melhor em tudo. Isso é muita cobrança. Deixe-a livre para fazer o que é necessário para o seu bem crescer mostrando-lhe o caminho certo sempre que possível.

A criança não aprende não é porque não queira ou porque seja desatenciosa. Talvez ela tenha algum problema, transtorno ou síndrome que precisa ser avaliado por um profissional especializado no assunto. Mas, o que podemos aprender com as nossas crianças em relação a isso? Muitas coisas.

Todos nós temos os nossos limites. Às vezes a criança já tentou de tudo para aprender o que a professora lhe ensina, mas não consegue. Ela precisa de ajuda. O tempo que passa na escola é pouco. Os pais devem estar atentos as agendas onde os professores fazem anotações com observações dos alunos.

As crianças não aprendem porque a aula é desinteressante, a didática da professora não é boa e nada consegue prender a sua atenção. Essa criança também precisa de ajuda. A gente acha cansativo quando um amigo fica numa conversa repetindo um assunto mil vezes.

Muitas coisas aprendemos quando as crianças não conseguem aprender algo, principalmente, no que diz respeito a paciência, tranquilidade, força de vontade, coragem e respeito. A criança não aprende porque não quer, isso não é verdade. Ela sente dificuldades assim como a gente sente dificuldades em mudar de função na empresa, em lidar com a nova turma de amigos do trabalho, em assinar um contrato.

A gente tem medo de enfrentar as coisas novas e se decepcionar. Assim acontece com a criança. Ela tem medo das avaliações e precisa ter isso trabalhado. Algumas professoras costumam fazer um terror antes dos dias das avaliações para os seus alunos e eles acabam vendo aquilo como algo assustador e bloqueiam o ensino-aprendizagem.

É preciso saber respeitar o momento em que a criança estará preparada para aprender; afinal faz parte do ser humano aprender a andar, a falar, a brincar, a fazer amizades, a lidar com problemas e perdas. Todos nós temos os nossos momentos e formas de aprendizagens.

Somos únicos no mundo e a nossa subjetividade faz da gente um ser que se diferencia dos demais no uso do raciocínio lógico. Cada pessoa tem o seu jeito de resolver as coisas. Às vezes uma questão de matemática é resolvida de maneiras diferentes, tem criança que vai mais rápida no raciocínio para chegar na resposta e tem outras crianças que vão por um caminho mais longo.

Nós devemos aprender com as nossas crianças que têm dificuldades de aprendizagem a nos respeitar, a dar um tempo para as exigência do dia a dia, a pararmos um pouco e refletirmos sobre o que estamos fazendo conosco e com quem amamos e se estamos no caminho mais curto para chegarmos à felicidade.

Deixemos que as crianças descubram as suas próprias formas de aprendizagens lhes dando oportunidades de descobrirem os vários caminhos para chegarem a resposta correta. Nem sempre o nosso caminho é o mais preciso, às vezes a criança tem um caminho mais curto que o nosso. E ela sabe disso porque o seu pensamento está vazio de preocupações.

Não devemos exigir que as nossas crianças aprendam as coisas logo na primeira explicação. Ninguém aprende nada com pressa. Tudo tem que ser bem explicado.

Nem toda criança tem habilidades especiais para resolverem problemas. Conheço adultos que tiveram várias dificuldades de aprendizagem na escola e se tornaram grandes profissionais atualmente, devido a paciência dos seus pais.

É responsabilidade nossa cuidar da aprendizagem das nossas crianças dando-lhes o tempo necessário para que possam desenvolver o pensamento e buscar respostas que despertem a curiosidade. Quando educamos as nossas crianças também estamos nos educando porque aprendemos com elas detalhes pequeninos que passam despercebidos com a nossa pressa de fazer tudo para ontem.

As crianças não precisam de pressa para aprenderem as coisas. Na escola deve ser do mesmo jeito. Os professores precisam saber que aquelas crianças com um pouco mais de dificuldades de aprendizagem merecem mais cuidados e outras metodologias de ensino. Essas crianças não devem ser colocadas a mercê das outras como falta de incentivo ou exemplo negativo.

A criança que não consegue aprender pode estar passando por algum tipo de problema emocional em casa ou até mesmo na escola. É necessária uma investigação. Neste momento, os pais devem ser acionados para conversarem com seus filhos. A escuta cuidadosa sempre traz coisas boas e novidades que as crianças nos contam e nunca percebemos.

Uma criança com dificuldades de aprendizagem pode estar passando por sofrimentos incompreensíveis ao seu bem-viver e cabe aos professores investigarem como é a relação dela com os pais em casa. São os professores que muitas vezes descobrem violências psicológicas e físicas que as crianças sofrem em casa. Cada caso pode ser diferente.

Na verdade, podemos aprender com as nossas crianças que têm dificuldades de aprendizagem o momento certo de pararmos e buscarmos descobrir onde estamos errando, o que nos leva a insistirmos no mesmo caminho, por que não mudamos de estratégias no trabalho para alcançarmos mais lucros, o que nos faz ficarmos presos numa relação afetiva em que já não há mais amor.

São tantas as coisas que as dificuldades de aprendizagem das nossas crianças podem nos ensinar que se eu fosse citar a lista seria grande. Assim, se nós sentarmos com os nossos filhos e tivermos uma conversa franca talvez consigamos descobrir o motivo pelo qual eles não conseguem aprender como as demais crianças da mesma idade e que estudam na mesma sala de aula que elas.

Volto a dizer que muitas vezes o problema não está na criança, mas no sistema onde ela vive que pode ser algo relacionado com os pais que não conseguem compreendê-la ou com os professores que não conseguem acompanhar o ritmo de aprendizagem lento da criança.

Se os pais exigem que os filhos sejam sempre os melhores em sala de aula isso poderá prejudicar mais ainda a aprendizagem, pois quando somos cobrados por melhorias tendemos a ficar tensos e não rendemos o que poderíamos render. Assim são as crianças.

Toda aprendizagem deve vir acompanhada com um pouco de amor, respeito e cuidado por parte de quem está ensinando.

A criança saudável tende a aprender com facilidade e rapidamente, mas aquela que está a todo tempo sendo castigada, cobrada e sem amor poderá sentir mais dificuldades cada vez que essas cobranças cheguem com ameaças psicológicas ou físicas.

Infelizmente conheço crianças que ainda são espancadas por tirarem notas baixas na escola ou por não terem se saído melhor do que o amiguinho da vizinhança. Não devemos comparar os nossos filhos com ninguém. Como já disse acima somos únicos no mundo. Cada um de nós tem um jeito de aprender diferente. Temos o nosso tempo. Como disse Jesus Cristo, há tempo de colher e de plantar.

O tempo da aprendizagem da criança não é o mesmo que o seu ou o que a escola planejou. Antes de matricular seu filho numa escola procure saber como é a sua metodologia de ensino e se há um respeito e cuidado para com os alunos que têm dificuldades de aprendizagens.

Nós também temos grandes dificuldades de largarmos o trabalho mecânico para o automatizado. Começamos tendo aulas e aos poucos vamos nos aproximando das máquinas. Não chegamos no primeiro dia de trabalho e o chefe nos coloca na máquina para começarmos a trabalhar. Há todo um treinamento e uma espécie de aptidão.

Procure saber em que disciplinas o seu filho tem mais facilidade de aprendizagem e foque nas que ele não consegue se sair bem nas avaliações e trabalhos. Não faça cobranças que a criança não possa corresponder a elas. Comece ensinando as coisas mais fáceis e só avance casas quando perceber que a criança está confiante em si própria.

Se a criança realmente apresenta grandes dificuldades de aprendizagem não a obrigue a fazer coisas que a deixarão amedrontada, envergonhada ou tímida diante dos amiguinhos.

Permita que ela desfrute do momento da infância para ir aos poucos traçando os seus caminhos de aprendizagem do seu jeito, pois chegará um momento em que ela vai encontrar o seu jeito de aprender mesmo que seja uma forma esquisita e estranha para você. Deixe-a seguir no caminho escolhido, pois a zona de conforto da aprendizagem deve ser respeitada pelos adultos.

Aprenda com as dificuldades da sua criança de aprender que tudo na vida é preciso de tempo e paciência. Que não vale a pena querer algo forçado, insistir no que sempre dá errado ou até mesmo submeter-se a situações de vexame só para não ser chamado de fraco ou medroso.

Aprender exige coragem e nem todos estamos preparados para enfrentar obstáculos e atravessar pontes porque não fomos estimulados desde pequeninos a caminharmos com os nossos próprios pés. Aprenda com a dificuldade da sua criança de aprender que na vida é preciso exercitar a arte de construir castelos de areia e se a água do mar os derrubar que se construa tudo novamente.

E para terminar deixo vocês com os versos do poeta Vinícius de Moraes do poema “A porta” em que ele nos diz

“Sou feita de madeira / Madeira, matéria morta / Não há nada no mundo / Mais viva que uma porta / Eu abro devagarinho / Pra passar o menininho / Eu abro bem com cuidado / Pra passar o namorado…”

Que possamos abrir a porta devagarinho às nossas crianças para que aprendamos com elas que dificuldades todos nós temos, mas aprender é um eterno abrir de janelas para olhar o Sol brincar de ser dia.

Autora: Rosângela Trajano

5 COMENTÁRIOS

  1. Quão importante incitação à reflexão! Precisamos praticar a paciência e a compreensão com as nossas crianças, pois elas são o futuro do mundo. Parabéns e obrigado pela reflexão, Rosângela!

  2. Que lindo! Fiquei emocionada!!! Cada um tem seu tempo…. E nao é facil lutar com um sistema que busca resultados rápidos. Parabens.

  3. Obrigada Rosângela por contribuir com sua sabedoria para refletirmos sobre tema de tamanha importância.

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