O ser e o não-ser do ser humano!

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Do nascer ao morrer, o ser humano é um feixe de possibilidades. Umas advindas de condicionamentos e de imposições, outras de desejos, necessidades ou livres decisões.

O que é o ser humano? A pergunta é súbita e direta. Sua resposta pode ser precisa ou imprecisa, simples ou complexa, abstrata ou concreta, individual ou coletiva. Tudo a um só tempo, a qualquer tempo, desde todos os tempos. Questão que não se satisfaz com resposta do tipo “isso” ou “aquilo”, como dissera Cecília Meireles na poesia intitulada “Ou isso ou aquilo”. Nela, a poetisa afirma: “Ou se tem chuva e não se tem sol, ou se tem sol e não se tem chuva! […] Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranquilo. Mas, não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo”.

Assista ao vídeo: https://youtu.be/a3-p1KntVOU?t=10

Na realidade, entre a chuva e o sol há também o tempo nublado, o vendaval e a tempestade; a noite escura, a noite enluarada, o entardecer, o alvorecer e outras situações mais. Além de brincar e correr, também pode-se estender a mão a quem precisa e ajudar a viver. Pode-se visitar um cemitério e sentar-se para refletir. Indagar-se, por exemplo, sobre o ser e o não-ser do ser humano.

Na afirmação de Paulo Freire, “o mundo não é, o mundo está sendo”. Do mesmo modo, o ser humano não é. Ele está permanentemente sendo. E sempre está diante de si a possibilidade de ser mais ou ser menos.

O ser mais diz respeito à vocação humana por excelência que é, precisamente, a da humanização. Por outro lado, é possível impor-se a si próprio ou a outros o ser menos, que consiste na desumanização, ou seja, na diminuição do sentido, do valor e do respeito à humanidade. Assim, “a desumanização, que não se verifica, apenas, nos que têm sua humanidade roubada, mas também, ainda que de forma diferente, nos que a roubam, é distorção da vocação do ser mais” (FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 13 ed., Paz e Terra, 1983, p. 30).

Do nascer ao morrer, o ser humano é um feixe de possibilidades. Umas advindas de condicionamentos e de imposições, outras de desejos, necessidades ou livres decisões. Embora todos os seres humanos nasçam “livres e iguais em dignidade e direitos”, conforme assegura o art. 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, muitas vezes a liberdade não se viabiliza no mundo ultraliberal, antidemocrático, opressor e produtor de exclusão e de morte.

No contexto atual, muitos seres humanos são negados de ser e privados de ser mais. No dizer de Freire (1983, p. 31), são literalmente “demitidos da vida”. Ou, como analisou o psiquiatra e filósofo Frantz Fanon (1925 – 1961), são “condenados da terra”. A subtração das condições da possibilidade de muitos viverem com dignidade é a demonstração de perversidade de quem se desumanizou. A negação do direito de humanidade de uns sobre outros é a própria decadência e falência do ser humano enquanto tal.

Experimentamos tempos tenebrosos em que a negação da vida e a produção da morte sobrevieram por atacado, sem deixar de acontecer no varejo.

A morte está em contínuo processo dentro e fora de nós, podendo ser acelerada e agravada ou, de outra parte, retardada e suavizada. Ela é devir acontecendo e fato que se consuma no tempo que se escoa em todos os viventes.

Morremos aos poucos até acabar de morrer. Mas, isso é só uma face do mesmo ser que pode nascer e renascer todos os momentos até acabar de desabrochar para um pleno viver.

Enquanto decorrem os dias que conduzem ao dia derradeiro, é altamente importante e recomendável buscar diariamente ser mais e melhor. Essa meta não se confunde com o ter mais, objetivo principal do sistema de capital e da sociedade de consumo. Para ser mais, só há um caminho: o da humanização de si e dos outros. Só é possível alcançá-la quando este for o sentido último da nossa vida e quando a nossa vida também for colocada a serviço da promoção da vida dos últimos!

“Nascemos suficientemente velhos para morrer e abundantemente novos para viver. Somos constituídos como seres de mil e uma possibilidades. Vivemos em contextos com um milhão de influências. Morremos todos os dias um pouco e uma vez como derradeira por milhões de motivos”. Leia mais: https://www.neipies.com/o-ser-a-morte-e-a-vida/

Autor: Dirceu Benincá

Edição: Alex Rosset

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