O ser humano light potencializa o consumismo, o interesse efêmero pelas futilidades, o desinteresse pela cultura mais elaborada e absorção imediata do lixo cultural.
Reli recentemente o livro O Homem Moderno, do reconhecido e prestigiado Psiquiatra espanhol Enrique Rojas. Apesar de ser um livro escrito nos anos de 1990, sua atualidade e a forma como Rojas analisa o perfil psicológico do ser humano atual, é visivelmente surpreendente.
Originalmente o livro foi publicado em Madrid/Espanha com o título El hombre Light. Na análise de Rojas, assim como nos últimos anos entraram em moda certos produtos light (cigarros, algumas bebidas ou certos alimentos), também foi sendo gerado um tipo de ser humano que poderia ser qualificado de ser humano light.
Mas qual é o perfil psicológico deste ser humano? Como ele poderia ser definido?
Para Rojas, trata-se de um ser humano relativamente bem informado, mas de escassa educação humanista; um ser humano que tudo lhe interessa, mas de forma superficial. Viu tantas transformações nos últimos anos que começa a não saber a que se agarrar ou, o que dá no mesmo, a fazer afirmações do tipo “vale tudo”, “não me interessa”, “as coisas são assim mesmo”.
Encontramos “um bom profissional” em seu campo específico de trabalho, que conhece bem suas tarefas, mas que fora deste contexto, fica perdido, sem ideias claras, num mundo repleto de informações, que o distrai, mas que pouco a pouco o converte num homem superficial, indiferente, permissivo, que vive um “enorme vazio moral”.
As análises do Psiquiatra Espanhol são oportunas e importantes, porque a descrição que ele faz do ser humano light nos ajudam a perceber o quanto estamos sendo influenciados e contaminados por esse perfil psicológico que toma conta de adultos, jovens e crianças.
A superficialidade e o vazio existencial se fazem sentir nas relações cotidianas entre pessoas próximas e até mesmo nas relações familiares. No âmbito escolar esse perfil psicológico se faz presente nas manifestações de apatia pelos estudos, no pensamento fraco, nas convicções sem firmeza, na violência tácita ou explícita.
No cenário social e econômico, o ser humano light potencializa o consumismo, o interesse efêmero pelas futilidades, o desinteresse pela cultura mais elaborada e absorção imediata do lixo cultural. Por essa análise se entende porque certos “cidadãos de bem” defendem ideias fascistas, idolatram posturas autoritárias, negam a ciência e os fatos e acreditam cegamente e fake news que circulam livremente pelas redes sociais.
Em termos educacionais, nosso grande desafio é compreender o perfil psicológico do ser humano light que vem se constituindo nos últimos tempos.
Nosso compromisso de educadores (pais e professores) é possibilitar que as novas gerações não sejam tragadas por esse perfil psicológico que está na raiz de grande parte dos processos depressivos que atinge cada vez mais nossa juventude e que produz a cultura do vazio, uma geração de fanáticos e a morte dos sonhos.
A luta contra o vazio se torna um desafio e compromisso educacional no sentido de que precisamos, urgentemente, construir em nosso fazer pedagógico, espaços de formação solidária, pautados pelo compromisso social que nasce dos projetos de futuro e que são alimentados pelos sonhos de uma sociedade melhor.
Como nos diz o saudoso poeta gaúcho Mário Quintana: “Os sonhos são como as estrelas. Não podemos alcança-las. Mas, sem elas, não temos orientação”.
Autor: Altair Alberto Fávero