Filósofo é o homem
que desperta e fala
(Merleau-Ponty)
A verdadeira filosofia
é reaprender a ver o mundo
(Merleau-Ponty)
PARA QUE FILOSOFIA?
O mundo atual é caracterizado pela informação e pela técnica. A cada dia, novos e sofisticados instrumentos são inventados para melhorar nosso bem viver. As telecomunicações nos interligam virtualmente em tempo real e equipamentos, cada vez mais compactos, garantem nosso conforto e interação com o meio em que vivemos.
Nesta perspectiva, a escola geralmente se apresenta como um espaço de formação que busca uma adaptação dos alunos a esta realidade, oferecendo-lhes conhecimento para domínio de técnicas que lhes permitam manusear e transformar o meio em que vivem, isto é, a realidade. Por estes motivos, não é difícil encontrar escolas que se voltem para uma qualificação prioritariamente técnica dos alunos, concentrando suas atenções nas ciências técnicas, conhecidas, também, como ciências naturais.
Então, surgem algumas perguntas: Será que a Filosofia tem alguma “utilidade”? Será que ela pode ser “útil” na formação de “cientistas”? Será que ela não passa de uma mera abstração da realidade? Será que ela é realmente necessária?
Enfim, para que serve a Filosofia? Esta pergunta é importante porque não é estranho ouvir das pessoas que a Filosofia é algo abstrato que não tem nada a ver com a nossa realidade. Segundo estas pessoas, a filosofia não passa de uma divagação sobre assuntos que em nada contribuem com o nosso “bem estar”. Ela não “contribui” para as provas de vestibular, os concursos geralmente não exigem conhecimento na área de filosofia e tampouco existe a profissão de Filósofo.
Ainda, diante do mundo da técnica e da informação, por que discutir o que é a razão, a liberdade, a ética? Por que perguntar-se pelos rumos da nossa sociedade e do planeta? Por que questionar os rumos da ciência e do conhecimento humano?
Quem está no controle: O Pensador ou Pensamento?
Quantas vezes paramos pra observar como está nossa mente? Quase nunca, né?
O mundo está cada vez mais acelerado e tudo pede pressa pra alcançar algo muito valioso no futuro. Estamos correndo para não ficar pra trás, para não sermos engolidos pela concorrência, pelas informações e não correr o risco de ter alguém melhor do que nós.
Estar acelerado não dá a garantia de que as coisas aconteçam na mesma rapidez que supomos. O que de fato acontece é que deixamos de apreciar momentos e pessoas que amamos, deixamos de observar paisagens e provocamos o desequilíbrio emocional, o que nos leva, muitas vezes a comportamentos egoísticos.
Com o ego no comando, entramos em conflito com as pessoas, e isso pode gerar muitos comportamentos reativos capazes e liquidar muitos relacionamentos. É válido, portanto, se questionar: Isto é você ou seu ego?
Quando nos dermos conta de que é preciso fazer autoanalise, questionando inúmeras e todas as vezes que estamos perdendo o auto controle muita coisa pode ser evitada, muitos atritos podem nem chegar a ser gerado. Por isso questione-se: Sou somente isso? Só tenho esse sentimento? Isto está me fazendo bem?
Desacelerar é preciso e fazer uma autoanálise faz com que tenhamos consciência do quanto estamos nos punindo por algo que não podemos mudar: o outro.
Desacelere e ouça o que o pensador quer e não o que o pensamento está determinando. O pensamento só vai fazer algo benéfico quando estiver doutrinado a excluir automaticamente o ego e deixar que o bem prevaleça.
É no silenciar da mente que ouvimos e percebemos tudo que sentimos e se aquilo está fazendo sentido ou não, é quando o pensador retoma o comando do pensamento.
A busca pelo equilíbrio é árdua e necessita que seja permanente e vigilante, pois um simples vacilo poderá provocar o desequilíbrio. Portanto, vale se questionar se aquilo que está sentindo é real e como seria se pensasse diferente.
Tendo posse do domínio do pensamento poderemos perceber se estamos projetando coisas boas ou se estamos vivendo nas águas ansiosas do futuro. O futuro gera dor invisível quando deixamos ser dominados pelo amanhã, pelo daqui a pouco, pelo “será que vai ser assim?” ou até mesmo “se isso acontecer eu vou ficar na pior!”.
Pare agora e observe por onde anda o pensamento. Tenha certeza de que quem manda é o pensador, de que tens o livre arbítrio e pode mudar sua realidade e seu futuro a partir de agora.
Não estou dizendo com isso que o futuro não deva ser pensado ou planejado, mas que o plano ou objetivo deve ser traçado e através de metas diárias ser posto em pratica, sem dor, sem auto cobrança. Tendo a consciência de cada conquista e assim perceber que dia após dia está mais perto do futuro planejado.
Muitas decisões e planos para o futuro são norteados pelos nossos valores. A conquista valerá a pena se tiver com quem celebrar.
Pessoas sempre serão mais importantes que coisas, mesmo neste mundo acelerado, mesmo com planos para o futuro. Não vale a pena repetir as crenças consumistas que “quando eu tiver ou for algo, serei feliz”.
O tempo não espera, o tempo te presenteia com o presente. Não é à toa que o presente é chamado de presente, somos agraciados com a dadiva da vida a cada milésimo de segundo que podemos respirar que podemos reencontrar, que podemos pedir perdão, que podemos perdoar e nos arrepender de deixar que o ego tenha tomado o controle do pensador e dominar os pensamentos, nos fazendo marionetes emocionalmente fracas e sensíveis, contaminando relações e relacionamentos.
Portanto, está na hora de parar e refletir sobre quem está no controle: O Pensador ou o Pensamento?
Autora: Kátia Nogueira
UTILIDADE DA FILOSOFIA
Sobre a utilidade da Filosofia, Marilena Chaui afirma:
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes. [1]
Por outro lado, é importante registrar um crescente movimento da valorização da Filosofia, tanto nas escolas de ensino médio, quanto no ensino superior, justamente por que o mais importante não é somente formar técnicos que manipulem as realidade e a natureza, mas que a manipulem a serviço do bem estar e da humanização da natureza.
Tomemos um exemplo: é importante perguntar-se sobre as finalidades da clonagem humana? Para muitos não, pois acreditam que os propósitos da ciência são sólidos e comprometidos com o bem viver de toda a sociedade. No entanto, a filosofia questiona a clonagem porque sabemos que ela pode ser usada para fins mercadológicos, como por exemplo o transplante de órgãos e a destruição em massa de fetos humanos. Este questionamento não é uma tentativa de impedir as pesquisas científicas, mas de perguntar a serviço de quem está a ciência e sob que parâmetros ela se justifica.
Em resumo, podemos dizer que a filosofia se propõe a fazer uma crítica a tudo que circunda o ser humano; suas relações, seu comportamento e a finalidade das suas ações.
Ela nos permite o distanciamento para avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se destinam. É ela que reúne o pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua unidade. É ela que retoma a ação pulverizada no tempo e procura compreende-la. Portanto, a filosofia é a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade que só o homem tem de superar a sua imanência (que significa a situação dada e não escolhida). Pela transcendência, o homem surge como um ser de projeto, capaz de construir o seu destino, capaz de liberdade.[2]
No entanto, a filosofia não é uma ciência para dar “conselhos” sobre os acontecimentos que envolvem o ser humano. É um questionamento que vai além das evidências do cotidiano, tentando encontrar a verdadeira origem dos fatos. Ela “é uma reflexão fruto da necessidade racional de explicar o meio em que vive o homem, de conhecer a si mesmo e as coisas que o cercam, pode surgir toda vez em que o homem se encontra em face de um obstáculo de natureza abstrata e transcendente.”[3]
Os primeiros filósofos chamavam a filosofia de ciência das causas primeiras, isto é, a ciência que se pergunta sobre o porquê dos fatos. A pergunta que estes pensadores faziam era pela origem e pelas causa da realidade.
As mesmas perguntas ainda valem hoje: Por que a nossa realidade é assim? De onde vem a violência? Por que não conseguimos conviver com as nossas diferenças sociais? Por que existe racismo? Quais os motivos da intolerância religiosa? Como devo agir diante de tudo isto?
A filosofia faz estas perguntas por entender que é encontrando as verdadeiras causas da realidade é que se pode chegar à compreensão desta realidade e contribuir na solução dos problemas. Daí porque se diz que a atitude filosófica é uma atitude radical, isto é, tomar os problemas pela raiz. Para tanto é preciso distanciar-se da realidade. E distanciamento da realidade acontece quando nos livramos dos pré-conceitos e dos pré-juízos que temos sobre os fatos, isto é, analisar os fatos de forma imparcial, permitindo até mesmo que deixemos nos questionar na medida em que questionamos a realidade. Afinal de contas, em que eu contribuo para que as coisas sejam melhores. Como eu posso ser um profissional (um cientista) que leve em considerações as preocupações de contribuir para o bem estar de toda a humanidade?
Quem é filósofo ou filósofa?
Ser filósofo é romper com o que está estabelecido “dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber”[4].
O filósofo não é, então, nem o sábio nem o ignorante. Ele é, na verdade, aquele que busca a sabedoria, ou que procura ser amigo da sabedoria.
Ele não é também o homem das respostas, mas das perguntas. Por exemplo: diante do problema da atitude justa ou não de um governante, o filósofo deve destacar que o que está em jogo é, antes de tudo o conceito de justiça. Somente a partir de uma ideia clara desse conceito é que se pode caracterizar a atitude do governante como justa ou não.
Nesse sentido, o filósofo se diz estar preocupado não tanto com a concretização da sua ideia mas com a ideia em si, isto é, não com o ato específico do governante mas com a definição clara de justiça.
A filosofia e o filósofo (professor Marcos Antonio Dimas Machado )
Tenho eu a inconsciência profunda de todas as coisas naturais, pois, por mais consciência que tenha, tudo é inconsciência, salvo o ter criado tudo, e o ter criado tudo ainda é inconsciência, porque é preciso existir para se criar tudo, e existir é ser inconsciente, porque existir é ser possível haver ser, e ser possível haver ser é maior que todos os deuses”. Fernando Pessoa
Jandir Pauli, professor do PPG em Administração da IMED, graduado em Filosofia e Doutorado em Sociologia.
Sugestões de uma prática pedagógica – Disciplina Filosofia
Esta atividade pode ser aplicada a estudantes de Nono Ano do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio.
No Nono Ano, Unidade temática Política: O conhecimento, Objetos de Conhecimento: O conhecimento como forma de representação da realidade Habilidades: entender o processo do conhecimento e as diferentes formas de conhecer desenvolvidas pelo ser humano, de modo a saber utilizá-las, respeitá-las e valorizá-las
Questões para pensar:
- Na sua opinião, o que é Filosofia e qual a sua utilidade?
- O que você entendeu lendo o texto de aprofundamento: “Quem está no controle: o pensador ou o pensamento”? Faça um breve resumo dos seus entendimentos.
- Que atitudes e características definem um filósofo ou uma filósofa?
- Faça uma pesquisa de opinião junto a seus professores de classe para perguntar-lhes o que entendem ser Filosofia.
- Descreva o conteúdo apresentado pelo professor Marcos Antonio Dimas Machado, em seu vídeo A filosofia e o filósofo. Breve resenha.
[1] CHAUI, Marilena, Filosofia: novo Ensino Médio. São Paulo: Ática, 2001, p 15.
[2] ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires, Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1986, p. 47-48.
[3][3] TELES, Antônio Xavier, Introdução ao Estudo de Filosofia. São Paulo: Ática, 1972, p. 17.
[4][4] CHAUI, Marilena, Filosofia: novo Ensino Médio. São Paulo: Ática, 2001, p.10.