Quando o tatu acordou,
descobriu que podia viver sem tudo,
menos sem os sonhos.
Pois um homem sem sonhos não existe.
Foi a partir daquele sonho que o tatu reiniciou a sua vida.
O tatu resolveu mudar de casa, mudar de nome, mudar de emprego, mudar de cor, mudar de raça, mudar os sonhos, mudar de roupa, e mudar de problemas. Juntou tudo e colocou na lata do lixo. Lá se foi o tatu sem endereço, sem nome, sem cor, sem raça, sem sonhos, sem roupa e sem problemas. No começo foi bom, mas depois a coisa começou a complicar.
O tatu não sabia contar dinheiro, pois tinha jogado no lixo tudo o que sabia. Para comprar um pão pagou um milhão.
O tatu não sabia do seu nome, pois o tinha jogado no lixo. No lugar de assinar o nome colocou: “Não sei meu nome, não.”
O tatu não sabia o que fazer, pois tinha esquecido a sua profissão. E sem profissão seu dinheiro logo acabou, pois também não sabia contar dinheiro e o desperdiçava de montão.
O tatu não sabia pra onde ir, pois tinha jogado no lixo o endereço da sua casa. Ficou vagando nas ruas, perdido, no meio do tempo.
O tatu sem cor passava despercebido por toda gente. E aquilo não o agradava coisa nenhuma.
O tatu sem raça não sabia sua origem e como contar ao povo de onde tinha vindo?
Ainda bem que o tatu não tinha cor, pois andava nu, envergonhado.
O melhor de tudo foi esquecer dos problemas! Tirou um peso das suas costas. Não precisava mais se preocupar com nada. Mas por isso mesmo com o tempo o tatu descobriu que não se preocupar com nada era um problema e tanto. Começou a inventar problemas: como fazer uma casa para morar, comprar roupas para vestir, aprender a assinar o nome, saber contar dinheiro e descobrir sua raça.
O tatu há muito não dormia, pois não queria mais sonhos. Mas descobriu que a vida sem sonhos não tem graça. Era um sujeito sem casa, sem nome, sem roupa, sem problemas, sem saber. Mas sem sonhos, para que viver?
Certo dia, o tatu resolveu dormir e sonhou que era um tatu chamado Janibal, morava numa casa amarela perto do rio, vestia camisas e calçava botas de couro, era sapateiro e tinha muitos problemas. Mas aquele não era ele! Era um outro tatu.
Quando o tatu acordou, descobriu que podia viver sem tudo, menos sem os sonhos. Pois um homem sem sonhos não existe. Foi a partir daquele sonho que o tatu reiniciou a sua vida.
Causo de caça de um tatu canastra no Rio Grande do Sul.
Muito Bom e bastante reflexivo. Quem é Platão perto do gênio criador dessa obra? Ninguém!
Oo apreciei sudaí garotão
Bela narrativa sobre loops causais e níveis de realidade.
Desejo a todos uma boa noite e livre de pesadelos.
Se eu dissessse que não me tocou seria mentira.
Abraços do domingo de 2020