“Eu sou gaúcho lá de Passo Fundo e
trato todo mundo com maior respeito”…
Manifestar-se contra a presença de alguém numa cidade é aceitável. Sentir-se incomodado com a presença física de uma pessoa é compreensível, haja vista que está em disputa, neste momento histórico do país, se Lula pode ou não pode continuar participando da política.
Disseminar e praticar ódio gratuito contra aqueles e aquelas que ainda o consideram uma liderança e um símbolo de lutas por mais igualdade e cidadania no Brasil, não é nada civilizatório, nem educado, nem faz parte da maioria deste povo ordeiro e trabalhador desta nossa amada cidade. Ainda são resquícios de uma cidade que transita entre ser provinciana e cosmopolita.
Grave mesmo é você usar de força física e bruta para impedir quem quer que seja no seu direito de ir e vir. O que não desejo para mim, não deveria desejar e praticar contra os outros. Grave é você desejar a morte ou a eliminação física de alguém pelo simples fato de você não concordar com ele. Grave é você agredir fisicamente, por meios estúpidos e gratuitos, quem também exerce sua liberdade de opinião e expressão. Grave é você exibir sua estupidez e violência e ser aplaudido por isso. Grave é quando as forças policiais agem tomando posição deliberada de não agir, não permitindo que os direitos de alguns sejam efetivados.
O fascismo deu seu ar de graça neste triste episódio, amplamente divulgado, onde produtores rurais – aqueles mesmos que afrontaram um juiz de nossa cidade com um porrete com a inscrição direitos humanos- celebraram suposta marca pelo impedimento da Caravana de Lula em nossa cidade.
“Mesmo alertado com antecedência e oficialmente sobre a violência programada contra a caravana, o governo do Rio Grande do Sul não impediu que os grupos se formassem nem mobilizou o efetivo policial necessário para conter os agressores.”
Este contexto fica ainda mais complexo na medida em que autoridades políticas, que nesta hora deveriam propor-se a mediações, fazem justamente o contrário, incitando o povo ao ódio e à intolerância.
Na esteira dos últimos acontecimentos, assistimos a episódios cada vez mais ilustrativos de que estamos vivendo no Brasil um Estado de Excessão, não o Estado Democrático de Direito. A execução da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, somada à eliminação física de outros tantos lutadores sociais nos demais estados do país, demonstra claramente que torna-se cada vez mais perigoso lutar e defender DIREITOS HUMANOS no Brasil.
Antes mesmo da morte da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), o Brasil já era considerado há anos um dos países mais perigosos para ativistas que defendem direitos humanos ou causas ambientais, ao lado de países como Colômbia, Filipinas e México, Honduras.
O povo gaúcho, também a população de Passo Fundo, RS, em maioria, aproveitará os episódios acima relatados para uma profunda reflexão sobre si mesmos. Constatará que ideias extremistas que pregam o ódio gratuito, a violência brutalizada, a eliminação física por causa de pensamentos divergentes, o uso das forças policiais para repressão aos que lutam por seus direitos sociais não são bem-vindos a esta terra que tanto exaltamos e amamos. Afirmará, ainda mais, os valores republicanos e cosmopolitas como a liberdade, a democracia, os direitos humanos (direitos de todos nós), a cidadania e a política no seu sentido mais amplo e irrestrito.