A orientação educacional nos dias de hoje
extrapola as quatro paredes da escola, vai além
da cultura local e se universaliza cada vez mais.
Para falar da orientação profissional e educacional da escola, sempre é bom comungar da concepção grega do ambiente social que gera aprendizagem de qualidade: o verbo ballein (lançar, arremessar), com os prefixos sym (junto, com) e diá (separar, desunir, dividir), pode render uma bela e significativa reflexão sobre a função do orientador em uma escola.
Symbolus remete à confirmação da filição. Assim, a orientação precisa confirmar a unidade, dar o direito, fazer participar. Cada pessoa tem o direito de se exibir, mas também tem o dever de desenvolver a dimensão ética do acolhimento e respeito alheios presentes, espera-se, no projeto político e pedagógico da escola.
Diábolus é o termo que expressa a presença do espírito que tende a dividir, a separar, a desunir. Todos nós somos ao mesmo tempo simbólicos e diabólicos, faz parte da contingência humana. O trabalho do orientador é fazer tender para o simbólico.
Cabe ao orientador educacional fazer prevalecer o simbólico. É dele a responsabilidade de lançar sua presença e suas ações de tal maneira que se crie, se sustente e se aprofunde, na comunidade escolar, o entendimento, a colaboração, a comunhão. Assim, a escola cumpre com suas principais funções (passar o conhecimento de geração para geração e elevar o nível de convivência amorosa) e todos ganham em seu processo de amadurecimento e personificação autônoma.
As dificuldades se avolumam quando a escola está inserida em um ambiente social injusto e regido por políticas que se articulam para manter e ampliar privilégios de alguns grupos.
A vergonhosa e atual realidade política do país, veiculada todos os dias pelos meios de comunicação, é o contraponto negativo do que se espera de uma comunidade escolar. Trabalhar educação nos dias de hoje é remar contra a maré. O orientador precisa ter ciência dessa realidade. Sua atuação deve declinar para a coesão do grupo docente e sua liderança imbuída do ânimus que congrega e impulsiona: a reversão de um processo é sempre difícil, complicada e duradoura.
O caminho a ser percorrido está descrito no Plano Político-Pedagógico da escola. Cabe ao orientador conhecê-lo em profundidade, já que é o norte a ser perseguido. Com esse referencial, todas as ações adquirem caráter convergente, o que vai exigir planejamento prévio. As ações soltas, desconexas estão fadadas ao fracasso.
A força orientadora sempre deve conduzir, à luz do Projeto Político-Pedagógico, ao symbolus grego. Todos são convocados e merecem marcar seus passos na caminhada da comunidade escolar. Outra vez o orientador prima pela solidariedade e ajuda mútua, todos vão se constituindo na relação.
Saber do momento histórico de cada educando, bem como de sua condição social, é fator preponderante para o sucesso da orientação como também para o progresso do estudante em sua vida escolar.
Plantar o espírito de colaboração entre os estudantes é certeza de colheita farta, é preciso mostrar a todos os benefícios que a comunhão gera e o quanto ela melhora as condoções de vida não só dos seres humanos, mas de todas as formas de vida que o planeta abriga. Ninguém mais pode se ausentar do cuidado das condições de vida que o Planeta Terra ainda nos está a oferecer.
A orientação educacional nos dias de hoje extrapola as quatro paredes da escola, vai além da cultura local e se universaliza cada vez mais. É preciso entender que a competição gera miséria, desumanidade e morte. O amor, a comunhão, não é a proclamação da anulação pessoal, e sim sua afirmação, mas também é afirmação e preservação do outro.
Entre as muitas e variadas tarefas e responsabilidades de um orientador educacional, destaca-se a de identificar as dificuldades dos alunos e a busca de possíveis soluções para as dificuldades que se apresentam. O olhar do orientador não pode pairar somente sobre as dificuldades que o aluno revela em seu processo de ensino-aprendizagem, mas se ampliar para além das quatro paredes da escola.
É preciso alcançar a realidade familiar e conhecer as relações existentes entre pais e filhos (responsáveis). Muitas vezes os entraves no processo de aquisição do conhecimento são de fundo emotivo. Toda a ajuda que produz equilíbrio emocional favorece o desempenho intelectual. Aqui, o elogio tem sua vez.
Na relação com a escola, o orientador tem a incumbência de acompanhar o trabalho diário dos professores; participar do reforço escolar dos alunos; analisar e avaliar o rendimento dos alunos; orientar para a continuidade dos estudos e para a escolha profissional e/ou vocacional; acompanhar os alunos incluídos presentes na escola; ministrar palestras aos pais, visando a cooperação entre as famílias e a comunidade escolar, informando sobre o processo avaliativo adotado pela escola e sua prática em relação aos encaminhamentos necessários, dialogar com os pais sobre a permanência ou troca de escola em casos diagnosticados; expedir documentos escolares e arquivar documentos dos alunos.
O orientador educacional precisa compreender a fluidez e a dinâmica da sociedade humana como um todo, contudo há de atentar para as especificidades das comunidades locais, uma vez que toda a realidade pode ser expressa pelas mais variadas linguagens.
A pesquisa se impõe tanto na codificação quanto na decodificação dos sentidos. A meta maior aponta para a qualificação das relações na constituição da personalidade humana, que preserva e promove as dimensões da justiça, da verdade (ainda que relativa), do amor e da vida.
De fundamental importância para uma boa orientação educacional é o orientador conhecer o chão da vidade cada estudante. As muitas e diversificadas realidades familiares que constituem o universo da comunidade escolar revelam a complexidade profissional de um orientador educacional, ainda mais hoje em dia com a inclusão a cargo das escolas.
A investigação e a observação são dimensões vitais com exigência de tempo integral. O que socialmente é instituído como profissão requer, como extensão, a opção vocacional.
Delimitação legal das atribuições do Orientador Educacional
A Lei nº 5564, de 21.12.1968, regulamentada pelo Decreto nº 72846, de 26.09.1973, em seus artigos 8º e 9º define as atribuições do orientador educacional, que ora transcrevo aqui:
“Artigo 8º” –São atribuições do Orientador Educacional:
- Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de Orientação Educacional em nível de: 1 – Escola; 2 –Comunidade.
- Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de Orientação Educacional dos Órgãos do Serviço Público Federal, Estadual, Municipal e Autárquico; das Sociedades de Economia Mista, Empresas Estatais, Paraestatais e Privadas.
- Coordenar a orientação vocacional do educando, incorporando-a no processo educativo global.
- Coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades do educando.
- Coordenar o processo de informação educacional e profissional com vistas à orientação vocacional.
- Sistematizar o processo de intercâmbio das informações necessárias ao conhecimento global do educando.
- Sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos, encaminhando a outros especialistas aqueles que exigirem assistência especial.
- Coordenar o acompanhamento pós-escolar.
- Ministrar disciplinas de Teoria e Prática da Orientação Educacional, satisfeitas as exigências da legislação específica do ensino.
- Supervisionar estágios na área da Orientação Educacional.
- Emitir pareceres sobre matéria concernente à Orientação Educacional.
“Artigo 9º” –Compete, ainda, ao Orientador Educacional as seguintes atribuições:
- Participar no processo de identificação das características básicas da comunidade;
- Participar no processo de caracterização da clientela escolar;
- Participar no processo de elaboração do currículo pleno da escola;
- Participar na composição, caracterização e acompanhamento de turmas e grupos;
- Participar do processo de avaliação e recuperação de alunos;
- Participar no processo de encaminhamento dos alunos estagiários;
- Participar no processo de integração escola-família-comunidade;
- Realizar estudos e pesquisas na área da Orientação Educacional.
A atividade de orientação, sem dúvida, é uma tarefa complexa, a experiência avoluma o aprendizado, que por sua vez confere maior consistência e segurança ao profissional de orientação educacional. Aliás, esta é uma lei natural da contingência humana, quanto maior a experiência, o exercício, tanto maior será o aperfeiçoamento.
Espera-se de todo o orientador educacional e profissional que faça a opção ética pelo bem, que em sua postura assume ser para-raio, bússola, afeto, enfim, o amor em seu ambiente de trabalho.