Os 55 anos do golpe militar

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Não há fatos simples.
O bom entendimento histórico
não é confortável, apaziguador:
ele não equaciona o passado, nem nos dá
respostas definitivas, mas nos faz pensar.

Neste 31 de março (1º de abril), serão lembrados os 55 anos do golpe militar de 1964. Muitas vezes, quando estudamos este período – como eu tenho feito há tantos anos –, tendemos a ver o golpe de 1964 apenas como seu evento inaugural, mas ele foi mais do que isso.

Ele representou a expressão mais contemporânea do persistente autoritarismo brasileiro, que já se manifestou em tantas outras ocasiões.

Na verdade, em 1964, houve um golpe civil-militar, mas o que veio depois foi uma ditadura indiscutivelmente militar.

É espantoso como até hoje a tentativa de tirar da letargia a memória coletiva sobre aquele período, causa alvoroço entre as “viúvas” da ditadura militar. Agora, por exemplo, Bolsonaro tenta negar este passado, página infeliz da nossa história. É bem verdade que intelectualmente sua excelência é medíocre. Fica perdoado.

Os fenômenos históricos são complexos. Não há fatos simples. O bom entendimento histórico não é confortável, apaziguador: ele não equaciona o passado, nem nos dá respostas definitivas, mas nos faz pensar. Aí, convenhamos, é exigir demais de Bolsonaro e a maioria de seus seguidores.

Em 1964, Jango pretendia dar voto aos analfabetos, dar terra aos camponeses, dar ouvido aos subalternos da Marinha, impedir a remessa de lucros escorchantes para o exterior, dar vagas nas universidades aos jovens e outros “absurdos”. Foi acusado de comunista!

Na época, havia o IBAD e o IPES – espécies de MBL – incitando o golpe e convocando a classe média, sempre fácil de manipular. Fazia parte de um plano traçado nos EUA, para desestabilizar o governo de Jango. A ameaça aos interesses econômicos dos EUA precisava ser abortada.

Não precisa ser nenhum gênio para concluir que o golpe estava em gestação desde 1961, quando Jango substituiu o maluco Jânio Quadros, que renunciou alegando “forças ocultas”. O golpe era questão de tempo.

O governo de Jango era nacionalista e popular. Isto, sem dúvida assustava. Ao sair do poder Jango contava com a aprovação de 76% dos entrevistados pelo IBOPE. O golpe, segundo os saudosistas, veio para colocar a casa em ordem: a ordem dos cemitérios clandestinos, das torturas, dos exílios, das cassações, das prisões ilegais, do Congresso fechado e da censura.

Haveria espaço ainda hoje no Brasil para novos golpes militares? É difícil responder a essa pergunta. Provavelmente, não, até mesmo em função das novas configurações do cenário internacional e, também, por causa do perfil das Forças Armadas brasileiras na atualidade, embora alguns tresloucados peçam a “intervenção militar”.

Há outro fator a considerar. Hoje, o governo é formado por uma maioria de militares. Eles já estão no poder. Há até quem indague: com tantos militares no governo, quem está cuidando dos quartéis?CAIXA DE TEXTO:


Esse estranho binômio, a força da influência familiar associada à pressão dos militares, por mais iluminados que ambos se revelem, corre o perigo de produzir filhos abortivos em série. Restar torcer para que tais pressentimentos não passem de pesadelo e esperar pelo melhor. (Alfredo Gonçalves)

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