Ao rei do futebol, Pelé (in memoriam)
As palavras do presidente eleito e diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abrem este texto cheio de emoções e saudades “Eu tive o privilégio que os brasileiros mais jovens não tiveram: eu vi o Pelé jogar, ao vivo, no Pacaembu e Morumbi. Jogar, não. Eu vi o Pelé dar show.”
Todo mundo quer ser um Pelé nalguma coisa é ser o melhor, é ser o absoluto, o maior. Eu mesma já fiz 1.000 poemas e 1.000 ilustrações. Cada um de nós quer ser um Pelé naquilo que faz. Ficamos vazios. Ficamos sem o número 1.000. Somos agora, por enquanto, 999, mas só por enquanto. Logo encontraremos mais um Pelé porque o verdadeiro nunca morrerá nos nossos pensamentos.
Eu sempre quis escrever este texto falando sobre os meninos Pelésinhos da minha rua, mas sempre me faltou inspiração para terminá-lo.
De repente, depois de ouvir pela televisão a notícia do falecimento do rei do futebol, o nosso amado Pelé, eu não podia deixar para depois esta escrita para imortalizar Pelé e os momentos que vivo a cada dia que abro a janela da frente da minha casa e vejo a meninada jogando bola.
Sei que em toda rua tem menino brincando de bola, mas os da minha rua têm um encantamento que me faz chorar, sorrir e se emocionar com as suas bolas de todos os tipos: meias, couro, plástico e até mesmo de papel.
Eu sempre gostei de futebol. Leio toda as notícias futebolísticas dos jornais da minha cidade e tive o privilégio de morar perto de dois grandes jogadores de times profissionais.
Os meninos Pelésinhos da minha rua vestem calções coloridos, muito raramente usam camisas e estão sempre descalços. Eles não têm muito. E a maior diversão deles é jogar bola.
A partida de futebol desses meninos não tem preconceito, aproxima os que estão aborrecidos, traz o mais tímido para o gramado imaginário e não deixa de fora ninguém, nem mesmo o que não entende nada de bola. Todos podem participar do jogo, só basta chutar a bola pro gol e pronto!
O futebol é o esporte mais próximo de toda criança pobre, pois com apenas uma bola de qualquer pedaço de pano eles fazem a brincadeira. Gosto, ainda, de ouvir o futebol pelo meu velho radinho de pilha. Escrevi há alguns anos um livro de poemas sobre o futebol e um conto engraçado intitulado “Pelada de rua” falando dos meus meninos.
Vivemos no país do futebol. É daqui que saem os melhores jogadores do mundo. Que importa se perdemos o hexa? Claro que choramos e ficamos tristes, mas temos o futebol mais bonito que se pode ver em qualquer lugar do universo, o gingado, o drible, o gol de bicicleta, a caneta e o voleio de Richarlison que nos fez felizes por alguns dias da Copa do Mundo de 2022. O futebol tem as suas glórias e o Brasil é um dos maiores campeões deste esporte. Afinal, somos pentacampeões.
Não é à toa que gosto de ouvir mamãe falando dos tempos em que escutava o locutor da rádio gritar o nome de Pelé quando ele marcava os seus lindos gols, na calçada da casa da sua madrinha rodeada por todos os vizinhos, parentes e amigos que ali residiam. Ela conta, com nostalgia, do quanto era bonito e emocionante quando Pelé fazia um gol e o povo comemorava com alegria e fogos de artifícios na rua.
Diante de tanto ódio e violência vividos pelo nosso povo brasileiro, atualmente, o que nos une e o que nos traz alegria ainda é o futebol. Esses onze jogadores num campo com grama verde e uma bola de couro pra lá e prá cá.
Eu me lembro bem da minha bisavó que não entendia bem de futebol ficar preocupada com os jogadores cansados e suados sem saber direito por que eles corriam tanto atrás daquela bola. Eu dizia na minha inocência de criança que sabe tudo “é pra fazer o gol, vó.” O gol era o que importava pra mim e eu torcia para os dois times ao mesmo tempo. Era a criancice explodindo no meu coração de menina feliz.
Os meninos Pelésinhos da minha rua arrancam pedaços dos pés no calçamento de paralelepípedos, gritam os palavrões mais absurdos que uma pessoa possa ouvir e param a bola quando um velhinho vai passar. Sim, eles têm respeito pelos velhinhos. Quando fazem um gol não importa a hora, eles gritam comemorando. Muitas vezes eles jogam até de madrugada, principalmente quando está chovendo.
Como não podia faltar, em toda rua que tem Pelésinhos com bola no pé também tem uma mulher brava, ranzinza e que odeia ouvir gritaria de menino. Pois bem, aqui a gente também tem quem prenda a bola e não devolva mais, quem corte a bola no meio e acabe a brincadeira, quem tem pancadas no portão de alumínio de casa diversas vezes com o chute do menino que vem lá do meio da rua. Há homens e mulheres na minha rua que não são muito chegados a essa coisa de menino jogando bola perto das suas casas.
Se eu pudesse dava de presente para os meus Pelésinhos uma chuteira para cada um, porque os vejo jogando com os pés descalços.
Eles não reclamam e quem vai reclamar de uma brincadeira legal que é jogar bola na rua? Eles nem ligam se têm ou não chuteiras. Querem mais é se divertir. Querem mais é fazer muitos gols.
Também temos o nosso rei do futebol que já está perto de completar o gol de número mil. É um menino apaixonado por futebol com três irmãs pequenas que todos os dias ele vai deixar e buscar na escola. Como é bonito saber do sonho dele de ser reconhecido nacionalmente como um grande jogador!
A bola parece saber quem é o jogador perna de pau da minha rua porque ela sempre sai do pé dele direto para a janela da casa de um dos moradores. Já tivemos janelas quebradas, bolas que entraram dentro de casas e quebraram vasos, derrubaram quadros das paredes e até mesmo bola que foi chutada para tão longe que atravessou toda a casa e foi parar no quintal do vizinho. Aí a meninada fica desesperada no meio da rua, com as mãos na cabeça, esperando a danada da bola voltar cortada e torcendo para que isso não aconteça.
Todos os meninos Pelésinhos da minha rua querem ser iguais ao rei Pelé, ou seja, tornar-se o maior jogador de futebol do mundo. E como não poderia ser diferente, depois da notícia da morte do nosso rei, os meninos já estão de bola no pé, novamente.
Espero que não haja confusão porque o dono da bola tem o costume de quando estar perdendo o jogo pegá-la e acabar com a brincadeira indo para casa, aborrecido.
O futebol é um esporte que une famílias. Vejo todos os domingos os pais que vão aos estádios da minha cidade levarem suas esposas e filhos para assistirem os jogos dos seus times preferidos. Na hora do gol todos somos iguais e nos abraçamos uns com os outros na comemoração. Teve um Natal que eu dei doze bolas aos meninos Pelésinhos da minha rua. Foi uma festa grande.
O nosso rei Pelé morreu na data de hoje, 29 de dezembro de 2023, mas deixa um legado grande para a meninada que gosta de futebol. Será que existe algum menino que não goste? E por falar em menino, lembrei-me da única menina da minha rua que é jogadora de futebol desde criancinha e que já ganhou várias medalhas em torneios escolares.
Assista a vídeo: O que Pelé fez pelas crianças? https://www.tiktok.com/@flaviodata/video/7180079365999316230?is_from_webapp=v1&item_id=7180079365999316230
O jogador e rei Pelé além de grande homem tinha um carinho e um sorriso maravilhosos. Ver e reviver seus jogos e gols será a coisa que mais farei nos próximos dias ao lado de mamãe. O futebol fica mais pobre na data de hoje. O seu clube de futebol, o Santos, vai agora à procura de um novo rei porque o trono não pode ficar vazio por muito tempo.
Precisamos de um rei. Qual menino se habilita a ser o novo rei do futebol?
E por falar em menino eu lembro que tivemos nesta última Copa do Mundo, uma seleção brasileira com jogadores jovens, quase meninos, com idades entre 21 e 23 anos. Que esses jovens jogadores continuem brilhando pelos mais diversos gramados e quem sabe surja dessa nova geração um novo rei.
Não duvido que o novo rei do futebol saia da minha rua, pois aqui a meninada sem brinquedos caros e, ainda, sem viver com os rostos colados numa tela de celular o que eu só agradeço a Deus todos os dias, passa o tempo todo jogando bola. De tanto jogarem vão ficar especialistas e craques na bola. Eu quero é que façam muitos gols e continuem parando a bola quando um idoso for passar no meio do campo.
Faz pouco tempo que entendi o que é impedimento e para que serve um atacante. Ainda me perco com as atribuições de um lateral esquerdo ou direito e com um centroavante. Não consigo entender muito bem alguns conceitos do futebol, mas sou uma grande torcedora do Corinthians e da seleção brasileira que me perdoem os flamenguistas.
Fico triste quando um jogo é decidido nos pênaltis porque nem sempre ganha o melhor e sim o que tem mais sorte e melhores batedores. Porém, sinto uma emoção bastante grande e paro para ver os jogadores nervosos se prepararem para bater os pênaltis enquanto o goleiro se torna o herói ao segurar um deles.
Aqui na rua os meninos Pelésinhos não costumam decidir os jogos assim, eles preferem decidir no tempo que passa e passa muito rápido, no tempo que houver fôlego para correr e vontade de brincar.
Ah, mas eu quase me esqueço do pedido de copo de água. Isso é costumeiro. Sabem que se forem para casa as mães vão mandar tomar banho e não mais deixarão voltarem, então eles correm às casas dos moradores mais velhos porque sentem mais carinho pelos pequeninos e costumam pedir um copo de água. Com os rostos suados e o coração saindo pela boca, tomam a água e ainda reclamam se não estiver geladinha. Estes são os nossos meninos Pelésinhos da minha rua.
O nosso amado rei Pelé parte para a eternidade, o trono agora vazio chora junto com a bola.
Assista a vídeo: Pelé, o rei do futebol é também patrimônio da história. https://youtu.be/EfuoGxpPnfA?t=173
Os meninos Pelésinhos da minha rua continuarão jogando futebol e sonhando com muitos gols. Com chuteiras ou pés descalços eles fazem a alegria de mamãe que aos 77 anos de idade gosta de presenteá-los com pirulitos e pipocas. É gol, dona Iracema! Viva Pelé! Viva os meninos Pelésinhos da minha rua!
Finalizo o meu texto com as palavras do grande jogador português por quem tenho imensa admiração, Cristiano Ronaldo, que nos diz: “Os meus profundos sentimentos a todo o Brasil, e em particular à família do senhor Edson Arantes do Nascimento. Um mero ‘adeus’ ao eterno Rei Pelé nunca será suficiente para expressar a dor que abraça neste momento todo o mundo do futebol.
Uma inspiração para tantos milhões, uma referência do ontem, de hoje, de sempre. O carinho que sempre demonstrou por mim foi recíproco em todos os momentos que partilhámos, mesmo à distância. Jamais será esquecido e a sua memória perdurará para sempre em cada um de nós, amantes de futebol. Descansa em paz, Rei Pelé.”
Autora: Rosângela Trajano
PÉ DE PELÉ
Édson Arantes do Nascimento
se lê PELÉ
o PÉ
fez o homem
em gol se fez mil
o PÉ
fez o nome
andar pro Brasil
O PÉ
do petardo, da paradinha
de dar – e tirar – o chapéu
pendurou a chuteira
fez-se
pé
Édson Arantes do Nascimento
da pelada ao impecável
da 10 a um dos dez mais
no _high society_
Empresário, mag-
Nata.
E PELÉ?
PELÉ ficou.
dublou o fato
o PÉ
agora
sem final apito
Peleja
nos campos do mito!
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ronaldo ribeiro jacobina
Viva Pelé!
Pelé vive nos nossos Corações e na nossa Memória!
Viverá nos inúmeros e talentosos Pelesinhos que virão para honrar o Rei!
Un buen homenaje a un gran jugador Pelé y a un deporte, el fútbol, democrático y fascinante
Parabéns, Rosangela! Uma bela e merecida homenagem ao rei Pelé
Parabéns Rosângela!! Belíssimo texto
Parabéns, pela belíssima crônica futebolistica!
Abraços e sucesso sempre!
Ai, Danda, CHORANDO aqui! Que pessoa maravilhosa você é! Gigante na literatura. Parabéns, minha amada! 💖
Amei! Você é oooooooótima em tudo que escreve, amiga! Parabéns!!
Linda homenagem, bom reconhecimento para o Rei do Futebol mundial….
Parabéns pela história. linda homenagem.
Excelente . Palavras que traduzem com profundidade todo o sentimento do povo brasileiro em relação ao futebol, e a nossa grande perda sobre o rei Pelé .
Texto muito bem escrito, dando enfoque aos meninos Pelezinhos da rua em que mora. Jogam bola a qualquer hora. Respeitam os idosos, brincam e divertem-se praticando uma atividade que une as pessoas e também as famílias. Texto valoroso. Parabéns, Rosangela Trajano.