Os humanoides e a educação que desejamos

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A busca por vantagens financeiras ilimitadas que move as instituições privadas contamina gradativamente os gestores da saúde e da educação, sendo submetidos por uma lógica da produtividade na qual as pessoas se desumanizam gradativamente ao serem conduzidas por processos digitais, nos quais o humano está sendo desumanizado ao ser substituído pela tecnologia e se transformando em humanoide.

Um conjunto enorme de pensadores contribuíram e podem ser incluídos como co-responsáveis para as palavras que seguem. Citar alguns, pode significar injustiça com os inominados, por essa razão vou postergar essa tarefa para uma próxima oportunidade.

É amplamente aceito a ideia de que a evolução e qualificação da educação institucional é dependente de uma organização pedagógica que supere a fragmentação e desconexão de informações, apoiada em disciplinas, componentes curriculares, que não dialogam entre si, nem com o mundo da vida.

Como alternativa, para superar os limites dessa organização pedagógica, o conceito de multidisciplina foi substituído pelo conceito de interdisciplina.Vale registar que a transdisciplina se apresenta como ponto de partida e melhor caminho para promover a ligação entre as múltiplas disciplinas com o mundo da vida. 

Feito esse registro conceitual vale evidenciar que a qualificação necessária para a educação, certamente, não será materializada pelo caminho adotado pela mantenedora das escolas estaduais do Rio Grande do Sul, que está criando uma infinidade de novas disciplinas, na qual os sujeitos definidores, protagonistas e construtores das mesmas não são os educadores nem os estudantes.

Retomando o raciocínio dessa reflexão, ressaltamos que o ponto de partida é o fato de que as instituições educacionais, no seu conjunto, parecem desconectadas da própria missão que é contribuir para a evolução humana, que passa pela qualificação das relações dos seres humanos entre si e com a natureza.

Essa desconexão com a própria missão está materializada em números, comprovando que o aumento do tempo na escola não está significando aumento no aprendizado que contribua para a ampliação do pensamento crítico e para a expansão da consciência humana.

Paradoxo semelhante está materializado nos bilhões em recursos públicos investidos em instituições ambulatoriais e hospitalares, que deveriam promover a saúde, pois promovem o adoecimento, se comportando como uma indústria, na qual os doentes são matéria prima para a maior produtividade possível da mesma.

Uma opção para enfrentar esse paradoxo visualizado na educação, que não cumpre a missão de promover o aprendizado em favor da evolução humana, bem como das instituições hospitalares e ambulatoriais que não cumprem a missão de promover a saúde, é explicitar o modelo epistemológico orientador das instituições de ensino, bem como os propósitos que orientam a gestão das políticas públicas de educação e de saúde.

Ao recuperarmos delineamentos elementares da gestão, temos um conceito que, na teoria, é amplamente aceito.  Trata-se do argumento de que nos temas centrais para a sociedade, nos quais se incluem a saúde e a educação, a gestão deve ser pública, pois sendo privatizada e privada, estará submetida ao interesse do lucro. Veja aqui: https://www.youtube.com/shorts/PPWb1gOcpsg

Diante da situação em que os problemas públicos na área da saúde e da educação se avolumam vertiginosamente, cabe questionar as relações entre os interesses privados do lucro, simbolizados na indústria farmacêutica e das instituições digitais que passaram a controlar o currículo escolar e os planos de aula dos educadores.

A busca por vantagens financeiras ilimitadas que move as instituições privadas contamina gradativamente os gestores da saúde e da educação, sendo submetidos por uma lógica da produtividade na qual as pessoas se desumanizam gradativamente ao serem conduzidas por processos digitais, nos quais o humano está sendo desumanizado ao ser substituído pela tecnologia e se transformando em humanoide.


Autor: Israel Kujawa. Também escreveu e publicou no site “A educação na era digital”: www.neipies.com/educacao-na-era-digital/

Edição: A. R.

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