Defensores da propriedade também dizem que,
se o Estado ceder um prédio de área nobre ao povo,
outros imóveis serão ocupados.
O povo é insaciável.
É diversionista a manobra de alguns debatedores do despejo dos Lanceiros Negros que tentam levar o episódio para a arena de uma controvérsia que agrada ao reacionarismo.
Para esses velhacos, o bom debate é o que trata não da violência do Estado, mas das leis que teriam sido ofendidas pelos ocupantes de “prédios que pertencem ao povo”.
Essa é a polêmica que interessa aos que nunca se envolvem no debate sobre a grilagem e seus assassinos, o latifúndio improdutivo, a especulação imobiliária e as iniciativas do setor público em benefício de quem acumula áreas urbanas só para que continue acumulando mais e mais.
O prédio público ocupado (na esquina da Rua da Ladeira com a Andrade Neves) estava ocioso. Ocupá-lo é também uma forma de as famílias sem-teto desafiarem os governos a cumprirem com a obrigação de atender demandas elementares do povo, entre as quais a habitação. É assim, pela pressão, que funciona no mundo todo.
No mês de maio de 2016, o fotógrafo e jornalista Erviton Quartieri Jr esteve no prédio ocupado e registrou imagens desta gente que fez de um prédio desocupado lugar de vida e de direito à moradia (embora não adequada).
O tema urgente no debate sobre o despejo, que não interessa à direita, é a ação violenta do Estado contra famílias fragilizadas e desassistidas. Violência que não se manifestou apenas quando da expulsão dos Lanceiros pela Brigada, mas que se expressa há muito tempo em omissões e indiferenças inclusive da Justiça.
Defensores da propriedade também dizem que, se o Estado ceder um prédio de área nobre ao povo, outros imóveis serão ocupados. O povo é insaciável.
É uma desculpa esfarrapada, como a de que as leis devem ser cumpridas em ações de despejo (sob o nome de ‘reintegração de posse’), mesmo que à força e sob quaisquer circunstâncias, à noite, num dia frio, com portas arrombadas e bombas contra mulheres e crianças.
Vídeo demonstra “A valentia de um povo na luta por seu direito à moradia contra a covardia do Estado”.
O Estado que comemora a construção de presídios como se estivesse construindo escolas deve dizer logo o que pretende fazer com aquele edifício. O povo tem o direito de tentar ocupá-lo.